Setor da Construção Civil investe em soluções para aumentar índice de reciclagem de resíduos nas cidades
índice de reciclagem é de apenas 4% no Brasil
Impulsionado pelo mercado consumidor cada vez mais exigente com a questão ambiental, os setores imobiliário e da construção civil têm investido em soluções e projetos pautados pelas metas de redução das emissões de gases do efeito estufa e de geração de resíduos sólidos. Além da opção por técnicas construtivas e materiais que diminuem o volume de resíduos das obras em si, iniciativas voltadas ao reaproveitamento de recursos naturais e também dos resíduos recicláveis apresentam potencial de impactar indicadores como o índice de reciclagem nas cidades brasileiras.
Em Curitiba (PR), a incorporadora AGL inovou no projeto do New Urban, primeiro empreendimento multirresidencial de sua categoria na capital paranaense em processo de certificação GBC Condomínio, que valida as construções verdes no mundo. Além de incorporar uma extensa relação de itens de sustentabilidade, que inclui sistemas fotovoltaico e de reuso das águas cinzas, o edifício, em construção no bairro Novo Mundo, terá central de coleta multisseletiva, um espaço projetado para que os futuros moradores gerenciem, de forma eficiente, todo o lixo produzido no residencial.
Além de entregar a infraestrutura adequada para a separação, preparação e descarte dos resíduos recicláveis, a AGL pretende trabalhar também a conscientização dos futuros moradores do empreendimento, que será entregue em 2024. “Decididos a contribuir para que a reciclagem efetivamente funcione no New Urban, estudamos o assunto e estamos preparando até uma cartilha com orientações para os moradores e também a sugestão, para o futuro administrador do condomínio, de que seja firmado convênio com cooperativas de catadores de recicláveis, garantindo a destinação final correta dos materiais“, conta o engenheiro e sócio da AGL, Giancarlo Antoniutti.
A ideia surgiu depois do sucesso na implantação de um sistema semelhante no New Town Residence, edifício residencial entregue em 2020 pela incorporadora no mesmo bairro. “No New Town, não foi algo projetado pela AGL, mas que nos inspirou para o projeto do novo empreendimento“, lembra Antoniutti. A iniciativa foi da gestora de condomínios Eliane Tieko Silva, responsável por introduzir a coleta seletiva de maneira eficiente no edifício. Na garagem, ela instalou as lixeiras de médio porte, feitas sob medida e devidamente identificadas para a separação do lixo seco reciclável (vidro, papel, metais e plástico). A coleta de óleo de cozinha também ganhou seu espaço no condomínio.
A administradora começou, então, um processo de conscientização dos condôminos e propôs o convênio com uma associação de catadores. “Fui a primeira síndica do New Town e, depois de algumas reuniões e de muita conversa, fiz acontecer“, comemora a gestora, que aprendeu o modelo durante os anos em que morou no Japão, país que é referência mundial em separação e reciclagem do lixo. “Estou há 12 anos no Brasil. No Japão, todo mundo é multisseletivo“, brinca.
A administradora atualmente tem sob sua gestão 20 condomínios em Curitiba e acrescenta que alguns conseguem fazer até mesmo uma renda extra ao vender o material reciclável. O valor arrecadado é revertido em benefícios para o próprio condomínio. “Às vezes, negocio com as empresas a troca de galões de óleo de cozinha por sabonetes e produtos de limpeza para o uso dos prédios“, afirma.
Curitiba é exemplo para o país
A prática da coleta multisseletiva em condomínios é vista com bons olhos pela Prefeitura de Curitiba, principalmente por incentivar e conscientizar as pessoas a separar seus resíduos. “Toda ação que contribua para a correta destinação dos resíduos sólidos é bem-vinda“, afirma o diretor da Limpeza Pública do município, Edelcio dos Reis. A cidade de Curitiba possui coleta universalizada e tem índice de reciclagem em torno de 22,5% de todo o resíduo recolhido. O Brasil, em média, recicla apenas 4%.
Mas, embora a capital paranaense tenha um bom índice de reciclagem de resíduos na comparação com o restante do país, está bem abaixo das taxas de aproveitamento do lixo em países europeus como a Alemanha, Áustria e Bélgica, além de asiáticos como o Japão e a Coreia do Sul. Neste sentido, o diretor afirma que Curitiba tem muito para crescer, considerando que 30% de tudo que é descartado nos aterros sanitários que servem à cidade é material potencialmente reciclável. Ele diz que, para reciclar mais, a cidade precisa justamente que os moradores intensifiquem a separação dos lixos reciclável e orgânico. “A rede coletora de Curitiba está pronta. Para melhorarmos ainda mais a reciclagem, a população tem que separar mais e melhor”, afirma.
Além do ganho ambiental, o impacto econômico na cidade por meio da reciclagem também merece ser mencionado. Somente os 30% de material potencialmente reciclável (cerca de 480 toneladas/dia) despejados no aterro sanitário, se devidamente separados, poderiam injetar cerca de R$ 1,5 milhão por mês em Curitiba, valor que, segundo o diretor, poderia proporcionar mais empregos, melhorar as condições da pessoas que trabalham no segmento, movimentar o comércio e poupar recursos naturais.
A coleta seletiva existe para separar o lixo orgânico do lixo reciclável composto basicamente por plásticos, papéis, papelões, metais e vidros. Entretanto, esse tipo de coleta é um problema para grande parte das cidades brasileiras. Aproximadamente ¼ dos 5,5 mil municípios do país não possuem qualquer prática de separação de lixo. E quando apresentam alguma iniciativa, muitas vezes, são insuficientes, segundo o relatório “Panorama dos Resíduos Sólidos 2022”, da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).