Até que ponto vai a autonomia dos trabalhadores por aplicativos?

Até que ponto vai a autonomia dos trabalhadores por aplicativos?

Regulamentação do trabalho por apps de transporte de passageiros impacta a liberdade de decisão dos motoristas

Nos últimos meses, o modelo de contratação dos motoristas de aplicativos ganhou repercussão nas manchetes em razão de uma decisão extremamente controversa da Justiça do Trabalho Paulista que condenou a empresa Uber ao pagamento de multa de 1 bilhão de reais, além de registrar todos os seus motoristas.

Por outro lado, no início desse mês, o STF, pelo Ministro Luiz Fux, em posição completamente antagônica à decisão de primeira instância da Justiça do Trabalho Paulista, simplesmente anulou acórdãos que reconheciam vínculo empregatício entre motoristas e aplicativos ao julgar as Reclamações 61.267 e Rcl 59.404.

Isso, sob o argumento de que a tese vinculante fixada nos julgamentos da ADPF 324 e do RE 958.252 —Tema 725 – considera lícita a terceirização de toda e qualquer atividade, meio ou fim, sem que isso caracterize relação de emprego entre a contratante e o emprego da contratada.

Em outra decisão sobre o tema, em junho deste ano, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) reconheceu, pela nona vez, não haver relação de emprego entre motoristas e o app. No julgamento, o tribunal levou em conta a liberdade do motorista para definir horários e locais de atuação, além da possibilidade de utilizar outros apps semelhantes. Na ocasião, o relator do caso, ministro Amaury Rodrigues Pinto Junior, disse que não há elementos para configurar vínculo empregatício – especialmente a questão da subordinação jurídica, uma vez que, segundo o magistrado, a empresa não dá ordens aos motoristas nem coordena a prestação do serviço.

Em razão da grande turbulência que o assunto vem causando no mercado, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, após convocação, afirmou na segunda-feira (09/10), que a proposta de regulamentação do trabalho por aplicativos de transporte de passageiros e de entrega será encaminhada ao Congresso no prazo de 15 dias. O texto mantém esses trabalhadores como autônomos e cria uma contribuição obrigatória na Previdência Social para a categoria e para as plataformas.

Para o advogado Luis Henrique Borrozzino, sócio do escritório M3BS Advogados e membro da Comissão de Direito do Trabalho da OAB/SP, entre as diversas questões que o tema traz, “a questão do vínculo empregatício entre motoristas e aplicativos já foi pacificada pelo STF que, corretamente, entendeu pela sua inexistência afinal, trata-se de uma prestação de serviço puramente autônoma, cabendo ao prestador escolher os dias, horários, corridas e quem deseja atender, cabendo, agora, ver quais regras serão criadas.”

Aliás, na linha dos julgamentos do STF e do TST que não reconhecem o vínculo empregatício nessa atividade, recente pesquisa do Datafolha mostra que 3 em cada 4 trabalhadores por aplicativo preferem manter o atual modelo, com autonomia para escolher a plataforma de sua preferência em vez de uma contratação com carteira assinada, como defendem os sindicatos e o atual o governo.

Além disso, 9 em 10 desses trabalhadores dizem aprovar novos direitos, desde que não interfiram na flexibilidade, o que fez com que esse serviço fosse amplamente escolhido e aprovado pelos prestadores. E, ainda de acordo com o Datafolha, 52% dos entrevistados que utilizam motos possuem outra fonte de renda, contra 48% dos motoristas de carros.

Portanto, voltamos à indagação – até que ponto vai a autonomia do prestador se sua liberdade de escolha pode ser simplesmente desconsiderada?

Esse é um paradoxo que temos que enfrentar toda vez que essa discussão vem à tona, uma vez que, segundo o advogado Luis Borrozzino, “na prática, o motorista utiliza o app conforme seu próprio ritmo/cronograma pessoal e determina horários, perfil de corridas que quer fazer, clientes, período, entre outras variáveis. Esse cenário evidencia a autonomia, ou seja, a possibilidade de agir conforme sua única e exclusiva vontade e liberdade de escolha, seguindo suas necessidades. Caso essa autonomia seja de alguma forma limitada, a atividade, para muitos motoristas e até mesmo as empresas de app poderá perder o sentido e, no final, como sempre ocorre, são os usuários finais/consumidores que arcarão com os ônus como aumento dos preços e má prestação de serviços.”

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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