A concorrência que segurava os preços dos pneus não resistiu ao protecionismo

A concorrência que segurava os preços dos pneus não resistiu ao protecionismo

Em outubro a inflação chegou ao setor de pneus, que viu um pico de aumento de 1,27% nos preços do segmento, maior percentual registrado desde agosto de 2021 (1,43%). Este  período foi marcado por um processo de recuperação econômica pós-pandemia, cujo principal sintoma foi a pressão inflacionária. Desta vez, o que aperta o consumidor de pneu é o protecionismo à indústria local. 

Nos últimos 12 meses, o mercado de pneumáticos vinha sendo um exemplo de resiliência e competitividade no Brasil, mesmo com o IPCA puxando o custo  de vida para cima.  Enquanto o índice oficial da inflação brasileira acumulou alta de 4,76% até outubro, os preços dos pneus registraram uma retração de -3,63% no período. A tendência de aumento se mantém em novembro, com o IPCA-15, prévia da inflação, apontando uma variação de 0,34% para o mês. 

Esse movimento foi possibilitado pela intensa concorrência entre os fabricantes e importadores, que conseguiram absorver os impactos de fatores como a  alta do dólar e o aumento dos custos de frete internacional.   

Essa dinâmica de preços mudou drasticamente em outubro de 2024, com os pneus de passeio apresentando um pico de 1,27% de alta nos preços, enquanto o IPCA geral registrou 0,56%. O fator que rompeu a estabilidade foi a entrada em vigor do aumento do imposto de importação para pneus de passeio, que passou de 16% para 25%.  

O aumento tributário impactou diretamente os custos de importação, eliminando a  competitividade que permitia aos importadores manter os preços em queda, mesmo diante de um cenário econômico adverso de dólar e frete internacional em alta. 

Com isso, o repasse do custo se tornou inevitável, e o consumidor final começou a sentir no bolso o peso de políticas protecionistas.  “A solução protecionista ignora o impacto econômico mais amplo. E o resultado? Mais inflação para toda a cadeia produtiva desde o transporte até a agricultura e maior peso no bolso do consumidor”, observa o presidente da Associação Brasileira das Importadoras de Pneus (Abidip), Ricardo Alípio.  

Preocupação

Embora o governo justifique a medida como uma proteção à indústria nacional, os efeitos reais levantam preocupações, comenta o executivo. “O aumento das tarifas de importação nesse contexto serve como uma tentativa de mascarar a falta de evolução e de investimentos na indústria local. Essa proteção, ao invés de incentivar a competitividade, apenas perpetua a ineficiência“, diz. 

Em vez de incentivar ganhos de produtividade, a medida pode acomodar ainda mais os fabricantes locais. Isso prejudica a concorrência. Importadores que vinham garantindo preços mais baixos e maior diversidade de produtos agora enfrentam uma barreira quase insuperável. “O que vemos é um confronto entre indústrias estrangeiras altamente eficientes, principalmente da Ásia, e um setor nacional que, por décadas, se beneficiou de um ambiente de pouca concorrência, altos preços e baixa inovação”, diz Alípio. 

Um ponto importante, esclarece o executivo, é o “mito da concorrência desleal”. Alípio argumenta que os importadores que atuam regularmente no Brasil seguem todas as normas estabelecidas, enquanto o grande vilão é o contrabando e as fraudes. “É aí que o governo deve concentrar seus esforços, combater essas práticas ilegais que realmente distorcem o mercado.” 

 

Para Alípio,  o caminho não é barrar a importação, mas incentivar a modernização e inovação da indústria nacional, num ambiente regulatório que incentive o investimento e as inovações. “Além de fortalecer o combate ao contrabando”, reforça. 

 

Enquanto isso, os importadores, que até outubro conseguiram resistir à inflação, continuam enfrentando uma combinação de câmbio desfavorável e os custos logísticos altos. Soma-se a isso, agora, o impacto do aumento de impostos. Para as empresas do setor  é esperado que a pressão sobre os preços continue nos próximos meses. Novos reajustes podem ocorrer, sobretudo se as condições de mercado permanecerem desfavoráveis.  

 

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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