Crédito com garantia imobiliária cresce no Brasil

Endividamento recorde leva brasileiros a buscar crédito com garantia imobiliária
O alto índice de endividamento no Brasil vem pressionando milhões de famílias e influenciando diretamente a forma como brasileiros buscam alternativas para equilibrar as contas. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC/CNC), quase 8 em cada 10 lares do país possuem dívidas em aberto. Já dados do Banco Central apontam que cerca de 48% da renda das famílias já está comprometida, sendo 26% destinada apenas ao pagamento de obrigações contraídas.
Nesse cenário, cresce a procura por modalidades de crédito que ofereçam condições mais vantajosas do que o crédito pessoal, rotativo de cartão de crédito ou o cheque especial, conhecidos pelos juros elevados. Entre as opções em expansão está o crédito com garantia imobiliária ou home equity, visto por muitos como um caminho mais saudável para ganhar fôlego. Na prática, esse tipo de empréstimo permite que o proprietário ofereça seu imóvel como garantia em troca de juros mais baixos, prazos maiores e acesso a volumes mais altos de recursos.
Trata-se, portanto, de uma linha que, em determinadas situações, pode ser uma aliada na reorganização financeira. No entanto, o CEO e fundador da Rooftop, startup pioneira em oferecer soluções imobiliárias com necessidade de liquidez de capital, Daniel Gava destaca que a modalidade carrega riscos relevantes que precisam ser bem avaliados. “A principal dificuldade observada entre os tomadores é justamente a manutenção dos pagamentos em dia, tendo em vista o multiplicador do saldo devedor a uma taxa aproximada de 30% ao ano. Atrasos nas parcelas podem resultar em mais juros, multas, tarifas e até mesmo na perda do imóvel, o que torna a decisão especialmente delicada”, ressalta.
Quando considerar?
Apesar dos perigos evidentes, o especialista destaca também os benefícios atrelados ao modelo de crédito, como a facilidade do prazo estendido. Nesse sentido, Gava explica que a operação tende a ser um instrumento para perfis com renda estável e planejamento sólido, seja para quitar débitos mais caros e urgentes ou organizar o fluxo de caixa.
“Por outro lado, quando o orçamento já está apertado ou sujeito a mudanças bruscas de cenários, a operação pode rapidamente escalar a ponto de se transformar em um problema ainda maior no médio prazo”, destaca o CEO da Rooftop.
Dentre as armadilhas presentes na operação, destacam-se o comprometimento de renda com altas parcelas, a instabilidade do mercado imobiliário e o comprometimento emocional. No entanto, ainda segundo o executivo, o principal alerta passa pelos encargos “invisíveis”, que muitas vezes passam despercebidos num primeiro momento.
“Além dos juros remuneratórios das parcelas, há índices de correção financeira, taxas administrativas, seguros obrigatórios, despesas de abertura de cadastro, taxa de avaliação do bem, multas e juros moratórios, além de eventuais penalidades em caso de quitação antecipada. Sendo assim, o peso do compromisso financeiro total assumido pode disparar e ser muito mais alto do que o inicialmente imaginado pelo tomador. Muitas instituições apostam forte na retomada do imóvel do cliente como fonte de receita das suas operações”, alerta.
Perguntas chaves
Antes de assumir o compromisso, é fundamental olhar além das condições anunciadas e refletir sobre como a operação se encaixa na realidade financeira do tomador, seja um negócio ou o próprio orçamento doméstico. Para isso, Gava listou seis perguntas simples que podem ajudar a identificar se essa é, de fato, a melhor alternativa.
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Quanto do meu orçamento ficará comprometido com a parcela mensal desse crédito?
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Minha renda é estável ou há risco de variação futura?
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Qual é o total de juros embutidos que vou pagar ao longo do prazo? Comparar com outras soluções de mercado.
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Há custos adicionais ou taxas implícitas que não estou contabilizando?
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Qual será o risco de perder o imóvel se algo der errado?
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Tenho reservas financeiras para emergências?
Downgrade ou Downsize
Diante do custo elevado do crédito e dos riscos de perder o bem em caso de inadimplência, é válido refletir sobre alternativas menos agressivas. Reduzir o padrão de vida (downgrade) ou até mesmo trocar o imóvel por outro de menor valor (downsize) são caminhos mais conservadores e alternativos para liberar capital sem assumir dívidas caras e arriscadas. De acordo com Gava, a decisão pode ser difícil, mas representa uma forma de proteger o patrimônio no longo prazo. “Muitas vezes, é melhor se adaptar e sobreviver financeiramente do que comprometer tudo e correr o risco de perder o bem”, explica.
O especialista alerta ainda que a decisão deve ser sempre baseada em consciência e planejamento. “O imóvel é um ativo, não deve ser visto como último recurso. Usá-lo como garantia pode liberar capital rapidamente, mas só se houver planejamento estruturado. Senão pode acabar transformando esperança em um grande pesadelo”, conclui o executivo.