Drones e tecnologia revolucionam a silvicultura
Da contagem de árvores à aplicação precisa de defensivos, inovações tecnológicas impulsionam produtividade e sustentabilidade no setor florestal
A silvicultura, setor que gerencia e cultiva florestas para a produção de madeira, celulose e energia, vive uma grande revolução impulsionada pela tecnologia. Na vanguarda dessa transformação, os drones, combinados com softwares de análise de dados e inteligência artificial, têm se mostrado ferramentas poderosas, capazes de otimizar processos, reduzir custos e aumentar a precisão, bem como a sustentabilidade das operações florestais.
Os números sobre o uso de drones no setor agrícola e florestal impressionam. Pesquisa realizada pelo Sebrae/PR em parceria com a Embrapa e INPE apontam que 84,1% dos produtores rurais paranaenses usam pelo menos uma tecnologia digital no campo. Desses, 36,9% declaram usar dados ou imagens geradas por sensores remotos como satélites e drones.
Porém, acredita-se que o percentual de empresas paranaenses florestais que utilizam drones é de quase 100%, desde as grandes empresas de papel e celulose, indústria madeireira, reflorestadoras, pequenos produtores e até empresas de consultoria no setor que promovem treinamentos internos aos seus engenheiros e técnicos como forma de agregar valor na sua formação, bem como propiciar a empresa a busca por novas demandas no setor.
Do satélite ao drone, a evolução do monitoramento

Enquanto o monitoramento por satélites já é uma realidade, os drones oferecem uma visão mais detalhada e flexível. Equipados com câmeras de alta resolução e sensores multiespectrais, eles sobrevoam as plantações para coletar dados que, processados por softwares especializados, fornecem informações valiosas para a tomada de decisões.
Segundo o diretor da empresa paranaense Softmapping Engenharia, Marcio Polanski, os drones permitem o mapeamento aéreo de grandes áreas florestais com rapidez e precisão, quando comparadas ao de outas plataformas de coleta de imagem aéreas, principalmente quando se necessita de imagens atualizadas para análises rápidas.
Por outro lado, com os drones embarcados com câmeras multiespectrais e sensores é possível:
- Detectar falhas de plantio e áreas degradadas;
- Avaliar o crescimento das árvores e estimar a biomassa;
- Produzir modelos digitais de terreno e modelos digitais de superfície;
- Atualizar inventários florestais com maior frequência.
Há quem compare o drone como um pequeno satélite que voa abaixo das nuvens e fornece informações detalhadas. Em vez de ter uma imagem genérica, há uma visão de perto de cada planta, permitindo identificar problemas em estágio inicial e agir de forma proativa.
Com a capacidade de realizar inspeções minuciosas, os drones identificam focos de pragas e doenças, permitindo a aplicação localizada de defensivos. Essa abordagem reduz o desperdício de produtos químicos e minimiza o impacto ambiental.
Essa tecnologia também está tendo muito sucesso no inventário florestal. A contagem de árvores, a estimativa do volume de madeira e a avaliação do crescimento da floresta, tarefas que antes exigiam um trabalho manual e demorado, agora são realizadas de forma mais rápida e precisa. Softwares processam as imagens aéreas, gerando informações detalhadas que auxiliam no planejamento da colheita.
Um pouco da história dos drones no Paraná

Embora os drones remetam às tecnologias recentes, historicamente, o uso desses equipamentos começou na década de 80 com os professores Dartagnan Baggio Emerenciano e Atíllio Disperati – ambos do Curso de Engenharia Florestal do Paraná. Desde então, diversos equipamentos foram desenvolvidos em “fundo de quintal”, pois o aeromodelismo foi se aperfeiçoando com o passar dos anos com uso de sistemas de georreferenciamento embarcados, conta Marcio Polanski.
Em 2008, a paranaense Softmapping Engenharia decidiu investir num equipamento multirotor denominado Hexacóptero HMP-1, composto por seis hélices, seis motores, GPS e uma câmera de 17 Mp RGB para coleta das imagens aéreas. Com o advento das empresas americanas e chinesas que lançaram seus próprios drones de alto alcance, o equipamento deixou de ser produzido em 2012.

Por conta disto, em 2013 a empresa decidiu investir num novo equipamento de asa fixa com longo alcance devido as necessidades do setor florestal em mapear grandes áreas. Assim surgiu o drone de asa fixa denominado X-260 com 2,6 metros de envergadura, uma bateria com 45 minutos de autonomia equipada com GPS e câmera RGB de 20 Mp.
O diretor da Softmapping Engenharia lembra que diversos estudos naquele momento foram feitos e propagados na área florestal como nas aplicações de monitoramento e mapeamento em áreas florestais, agrícolas e ambientais.
“O drone representava uma das soluções tecnológicas que seria empregada no setor florestal paranaense, especialmente em atividades de silvicultura de precisão”, destaca Polanski.
Com avanço dos drones e suas diversas aplicações, em 2014, apareceram inúmeras empresas no Brasil que começaram a desenvolver seus próprios equipamentos, onde o setor florestal começou a vislumbrar o uso nas operações de silvicultura e microplanejamento. “Inicialmente aplicou-se a modalidade de contratação terceirizada e, gradativamente essas atividades com uso de drone foram internalizadas”, informa Marcio Polanski.
Hoje as empresas utilizam várias plataformas de coleta de imagens em seus projetos que vão desde os mais simples até os grandes drones agrícolas utilizados para o combate de pragas na área de silvicultura, ideais para o controle de formigas, pragas ou doenças florestais.
Crescimento no uso dos drones agrícolas

O uso de drones agrícolas no setor florestal tem crescido nos últimos anos, especialmente no Paraná, onde a silvicultura é altamente desenvolvida e a tecnologia é uma aliada importante na gestão sustentável e eficiente das florestas plantadas.
De acordo com a Pesquisa da Extração Vegetal e da Silvicultura divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Paraná é vice-líder no valor da produção florestal no País, com R$ 6,9 bilhões, tendo registrado alta de 20,7% em 2024 em relação a 2023. Só a silvicultura responde por 91,65% do valor da produção florestal paranaense, com R$ 6,34 bilhões. O Paraná é também o maior produtor de madeira em tora, sendo responsável por 32,1% do que é produzido no País e é líder na produção de lenha com origem em florestas plantadas, com uma quantidade estimada de 14 milhões de metros cúbicos, cerca de 26% do total nacional.
Diante de números tão expressivos, o uso de drones e de outros equipamentos se tornam fundamentais.
Para o diretor da Softmapping Engenharia, Marcio Polanski, a utilização de drones trouxe uma nova visão, propiciando análises mais precisas na área de macro e microplanejamento das operações florestais, desde o plantio até o corte raso, principalmente quando aliadas aos sistemas de geoprocessamento existentes hoje no mercado de geotecnologia.
Importante destacar que o uso dos drones na área florestal não se resume apenas no uso de plantios comerciais, mas também na área ambiental onde existem equipamentos que levam consigo sensores que permitem fazer semeaduras em áreas onde há necessidade de recomposição florestal, principalmente onde ocorrerem relevos de alto declive, que dificultam o acesso humano.
“Os drones quando equipados com câmeras térmicas também são importantes na prevenção e controle de incêndios florestais e apoiam o trabalho de brigadistas e bombeiros com imagens aéreas ao vivo”, explica Polanski.
O executivo lembra que inúmeros casos práticos já foram detectados no setor florestal evitando perdas consideráveis de massa florestal, principalmente nos períodos de seca.
Drones são mais eficientes do que o trabalho de profissionais?

Quando se analisa eficiência e custo, a discussão que surge é se os drones vão substituir o trabalho de técnicos e profissionais na área florestal.
Na avaliação do diretor da Softmapping Engenharia, Marcio Polanski, os drones realmente executam tarefas com mais rapidez e precisão do que o trabalho manual tradicional em várias atividades florestais, porém essa tecnologia depende da ação humana. “Os drones aumentam a eficiência operacional, mas ainda dependem da interpretação técnica dos dados, da inserção de informações em seus sistemas e, se porventura ocorrer algum defeito operacional, as decisões humanas a serem tomadas são imprescindíveis”, explica.
De acordo com Polanski, o que se analisa é uma mudança de função dos técnicos.
“Obviamente que o avanço tecnológico sempre traz mudanças, às vezes positiva na visão do empresário e negativa na visão do colaborador. Mas quando ambos avaliam que as mudanças são importantes para ganho de produtividade e qualidade todos ganham e ambos – máquina e técnico – acabam atingindo a eficiência necessária, observa o diretor da Softmapping.
Desafios e perspectivas futuras no uso de drones
Apesar dos avanços, a adoção da tecnologia não está livre de desafios. A regulamentação do espaço aéreo, a necessidade de treinamento especializado e o investimento em equipamentos e softwares são pontos que exigem atenção.
Porém, a perspectiva é de crescimento. Com o desenvolvimento contínuo da tecnologia e a crescente demanda por práticas florestais sustentáveis, a conclusão é que os drones se consolidam como uma ferramenta indispensável para o futuro da silvicultura.


