Voto no STF reacende debate sobre modelo de recuperação extrajudicial de veículos

Voto no STF reacende debate sobre modelo de recuperação extrajudicial de veículos

Acrefi alerta que mudança pode afetar segurança jurídica e elevar custos no crédito automotivo

O julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a recuperação extrajudicial de veículos reacendeu o debate sobre a segurança jurídica e a eficiência do sistema de crédito automotivo no país. O voto do ministro Dias Toffoli, publicado na última sexta-feira (10), considera inconstitucional a atuação dos Detrans nos procedimentos de retomada extrajudicial. Previsto no novo Marco Legal de Garantias, o mecanismo foi criado para agilizar a recuperação de ativos, reduzir fraudes e evitar a judicialização de contratos, promovendo eficiência e previsibilidade nas operações de crédito.

Mantendo-se o atual entendimento, a medida pode interromper milhares de processos de retomada em andamento e elevar o custo do crédito automotivo, ao transferir etapas administrativas para a via judicial. O julgamento segue em apreciação no plenário virtual do STF até sexta-feira (17).

Segundo estimativas, o crédito automotivo brasileiro movimenta cerca de R$600 bilhões em contratos com alienação fiduciária. O modelo de recuperação extrajudicial via Detran tem potencial de reduzir significativamente o tempo e o custo dos processos de retomada, que antes podiam se estender por meses na via judicial. Na avaliação da Acrefi, que atua como amicus curiae no processo, o voto apresenta um novo entendimento sobre o papel dos Detrans na aplicação da lei e pode ter reflexos sobre a política de desjudicialização, consolidada desde 2023 com o objetivo de tornar mais ágil o processo de recuperação de garantias e ampliar o acesso ao crédito no país.

“O modelo de retomada extrajudicial via Detran é um instrumento legítimo, seguro e regulado pelo Contran. Ele foi criado justamente para reduzir fraudes, ampliar a previsibilidade e dar transparência às operações de crédito. Preservar esse modelo é essencial para manter a eficiência e a confiança no sistema de financiamento de veículos”, afirma Cintia Falcão, diretora executiva da Acrefi.

Pela legislação atual, os Detrans são os órgãos públicos responsáveis pelo registro e controle das garantias fiduciárias de veículos, atuando de forma complementar aos cartórios e ao próprio Judiciário. Segundo a Acrefi, essa integração institucional garante rastreamento, transparência e segurança jurídica em todas as etapas do processo.

“Esses órgãos não exercem função jurisdicional, mas uma atividade administrativa pública e controlada, que garante rastreabilidade e fiscalização permanente. Esse modelo é o que permite combinar eficiência, transparência e controle público, exatamente o que o Marco Legal das Garantias buscou consolidar”, explica Cintia.

A executiva destaca ainda que a manutenção dessa competência pública é fundamental para preservar o equilíbrio e a confiança no sistema de garantias: “Ao reconhecer o papel dos Detrans na execução extrajudicial, o legislador reforçou o caráter federativo e a natureza pública do sistema de garantias. Enfraquecer essa estrutura é concentrar poder e elevar custos em um ambiente que vinha se tornando mais moderno e eficiente”.

Impactos econômicos e possíveis desdobramentos

Com o voto em análise, o setor financeiro acompanha com atenção os possíveis efeitos sobre a previsibilidade do crédito, os custos operacionais das instituições e a política de recuperação de ativos.

“A retomada extrajudicial via Detran representa o equilíbrio entre eficiência e controle público. Ela protege o consumidor, reduz litígios e garante que cada etapa do processo seja auditável e revisável judicialmente, conforme os princípios constitucionais que regem a transparência e a legalidade das relações de crédito. O diálogo permanente entre a Acrefi e demais órgãos do ecossistema é essencial para manter um modelo de garantias público, digital e juridicamente seguro. Nosso compromisso é contribuir para que o STF reavalie o entendimento, assegurando a previsibilidade e a confiança no sistema de crédito brasileiro”, conclui Cintia Falcão.

 

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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