Real deve enfrentar trimestre de volatilidade em meio a riscos globais e incertezas fiscais

Real deve enfrentar trimestre de volatilidade em meio a riscos globais e incertezas fiscais

Decisões econômicas nos EUA, cenário eleitoral brasileiro e política monetária desafiam trajetória da moeda nacional

O último trimestre de 2025 apresenta um cenário desafiador para o real brasileiro, marcado por riscos opostos tanto em fatores internacionais como domésticos, de acordo com Leonel Oliveira Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, empresa internacional de serviços financeiros. A moeda nacional está no centro de uma dinâmica influenciada por decisões de política econômica nos Estados Unidos, mudanças na estrutura do mercado de trabalho global, expectativas de juros e incertezas fiscais internas.

Conforme análise publicada no Relatório Trimestral de Perspectivas para Commodities, no plano internacional, a condução da política econômica norte-americana sob o governo Trump tem gerado instabilidade nos mercados. A elevação significativa das tarifas de importação – que passaram de uma média de 2,4% em 2024 para estimados 17,4% em 2025 – representa a maior carga tarifária desde 1935. Como os exportadores não reduziram seus preços, essa mudança abrupta tem elevado os custos de importação nos EUA, o que pressiona os custos internos e levanta preocupações sobre uma possível reaceleração inflacionária.

“Apesar disso, os impactos sobre os preços ao consumidor têm sido mais suaves do que o previsto, resultado de estratégias empresariais como antecipação de estoques, absorção de custos e ganhos de eficiência operacional. Ainda assim, o Federal Reserve permanece cauteloso, monitorando se essas pressões pontuais podem se transformar em uma dinâmica inflacionária mais persistente, especialmente em um contexto de crescimento acima do esperado da atividade produtiva e da demanda interna”, reforçou Mattos.

O mercado de trabalho americano também apresenta sinais contraditórios. A desaceleração no ritmo de contratações, com a geração de empregos concentrada em setores como educação, saúde e lazer, contrasta com a estabilidade na taxa de desemprego. Conforme o analista, essa aparente contradição é explicada, em parte, pela redução dos fluxos migratórios, que limitou o crescimento da força de trabalho disponível. De toda forma, o recuo no ritmo de contratações tem levado investidores a antecipar cortes mais rápidos na taxa de juros pelo Fed, o que tende a enfraquecer o dólar e favorecer moedas emergentes como o real.

No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tem adotado uma postura firme, sinalizando a manutenção da taxa Selic em patamar elevado por um período prolongado. Essa estratégia visa garantir estabilização de preços, mesmo diante de uma atividade econômica em desaceleração e de expectativas inflacionárias em queda. “Dados mais aquecidos do mercado de trabalho brasileiro reforçam essa postura cautelosa, ampliando o diferencial de juros entre Brasil e outras economias, o que favorece a entrada de capital estrangeiro e fortalece o real”, disse o analista.

Preocupação

Entretanto, o cenário fiscal brasileiro continua sendo uma fonte relevante de preocupação. A aproximação das eleições presidenciais de 2026 e a dificuldade de articulação política do governo junto ao Congresso Nacional aumentam a percepção de risco entre os agentes econômicos. “Embora o Executivo reafirme seu compromisso com as metas fiscais, há uma resistência em reduzir gastos públicos e uma preferência por elevar a arrecadação, o que levanta dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida pública. Além disso, existe o receio de que o governo possa ampliar despesas com o objetivo de melhorar sua posição nas pesquisas eleitorais, o que poderia comprometer ainda mais o equilíbrio fiscal”, apontou.

Para Mattos, esse conjunto de fatores compõe um cenário de alta complexidade para o real brasileiro. Por um lado, o enfraquecimento do dólar e o diferencial de juros favorável ao Brasil criam condições para valorização da moeda nacional. Por outro lado, os receios fiscais e a aversão ao risco global podem limitar esse movimento e provocar volatilidade no câmbio.

A evolução do real nos próximos meses dependerá da capacidade das autoridades econômicas, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, de promover estabilidade, previsibilidade e confiança nos mercados. Investidores e analistas seguem atentos aos desdobramentos que possam alterar o atual balanço de riscos e redefinir as expectativas para o câmbio.

Baixe o relatório completo de Perspectivas para Commodities da StoneX aqui.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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