Metade da população brasileira diz que a vida está mais difícil em 2025, aponta pesquisa
Luz mais cara, mercado mais caro, vida mais cara: o brasileiro sente o peso do ano em todas as despesas
O humor do brasileiro em 2025 é de cansaço, pessimismo e frustração com a rotina. É o que revela uma nova pesquisa da Hibou, instituto especializado em monitoramento e insights de consumo, que ouviu 1.433 pessoas em todo o país. Em meio a um ano marcado por disputas políticas, mudanças no mercado de trabalho, instabilidade climática e uma economia que tenta mostrar sinais de fôlego, o cotidiano da população segue pesado. O brasileiro não sente alívio no bolso, não acredita que a política traga mudanças reais e enxerga piora consistente em temas essenciais como segurança, saúde e rotina laboral.
A volta ao escritório virou motivo de irritação
A redução do home office continua sendo um ponto sensível no ano. Para metade da população, trabalhar mais presencialmente piora a vida do trabalhador. O descontentamento explode entre jovens de 16 a 34 anos, grupo no qual 63% avaliam negativamente o retorno ao presencial. Apenas 21% acreditam que a rotina melhora com o modelo tradicional e esse percentual cresce especialmente entre os entrevistados acima dos 45 anos, que enxergam mais benefícios do que prejuízos. A diferença entre gerações revela posturas profundamente distintas sobre qualidade de vida, flexibilidade e tempo.
Saúde e segurança lideram angústias nacionais
A percepção sobre o atendimento de saúde também é predominantemente negativa. Somando insatisfeitos e muito insatisfeitos, 52% declaram que o serviço está aquém do necessário, enquanto apenas 17% estão satisfeitos ou muito satisfeitos. Nos relatos espontâneos, o preço dos planos, a dificuldade de marcar consultas e o tempo de espera aparecem como causas recorrentes da frustração.
Na segurança pública, o cenário não é mais animador. Para 39% dos brasileiros, a situação está muito pior do que antes, e outros 17% afirmam que piorou um pouco, totalizando 56% que enxergam piora. Apenas 14% percebem algum avanço. A sensação de insegurança se soma ao ambiente econômico desfavorável e à desconfiança política, reforçando o retrato de um país emocionalmente pressionado.
A política não mexe mais com ninguém
A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro após a adulteração da tornozeleira, episódio que tomou o noticiário, não alterou a visão política da maioria. Para 49% dos entrevistados, o caso simplesmente não muda nada. Outros 16% dizem que a prisão piora sua percepção e 11% afirmam que melhora, mas esses extremos não afetam o quadro geral: prevalece o desinteresse. Entre os mais velhos, 24% dizem que o episódio piora a visão sobre política. Já entre os jovens, 13% afirmam que melhora.
Segundo Lígia Mello, CSO da Hibou, o dado expõe um estado de saturação. “Eventos antes considerados capazes de balançar o humor do eleitor não têm o mesmo impacto. A população está exausta de crises repetidas e perdeu a expectativa de transformação.”
A inflação oficial cai, mas a vida real não acompanha
O bolso segue pressionado. Metade dos brasileiros afirma que o dinheiro está igual ou pior do que antes, mesmo com a inflação desacelerando. Apenas 8% sentem que o poder de compra melhorou. O impacto aparece diretamente na organização financeira mensal: 45% estão atrasando contas e 35% pagam tudo, mas com dificuldade. Só 17% conseguem manter o orçamento em dia sem aperto.
A impressão de que tudo ficou mais caro é ainda mais forte no supermercado. Para 52% dos entrevistados, os preços subiram muito nos últimos meses. Outros 26% afirmam que subiram um pouco. A queda só foi percebida por 12% e, ainda assim, em nível leve. A mesma tendência acontece na conta de luz, que aumentou muito para 37% dos brasileiros e um pouco para outros 36%.
Luz mais cara, gastos mais altos
Outro vilão do orçamento doméstico em 2025 é a conta de luz. Para 37% dos entrevistados, ela aumentou muito recentemente, e outros 36% também registraram aumento, totalizando 73% de brasileiros sentindo alta na energia elétrica. A pressão sobre despesas básicas reforça a sensação de desgaste econômico, já que energia, alimentos e serviços essenciais são os primeiros a refletir no humor financeiro das famílias.
Tecnologia para descomplicar a vida
A inteligência artificial, cada vez mais presente no cotidiano, desperta sentimentos mistos. Para 47% dos brasileiros, a IA facilita a vida seja muito, seja um pouco, mas para 18% ela complica. Entre os jovens, a percepção positiva é mais forte: 24% dos que têm entre 16 e 34 anos afirmam que a tecnologia facilita muito seu dia a dia. O contraste aparece nos mais velhos, onde cresce a parcela que não sabe avaliar seu impacto, indicando que a familiaridade com as novas ferramentas ainda tem um longo caminho até se tornar homogênea.
A pesquisa também investigou a possível chegada ao Brasil de leis semelhantes às dos EUA, que restringem o reparo de eletrônicos fora de assistências autorizadas. Para 59% dos entrevistados, essa mudança deixaria consertos mais caros, e 21% acreditam que seriam obrigados a trocar aparelhos com mais frequência. O dado reflete, segundo Lígia, um medo claro de aumento de despesas em um cenário já apertado. “O brasileiro está muito vigilante aos gastos. Qualquer mudança que sugira novas despesas ou perda de autonomia aumenta a sensação de insegurança financeira”, comenta.
Clima preocupa, COP30 não convenceu
A percepção sobre eventos climáticos extremos é quase unânime: 88% dos brasileiros acreditam que temporais, vendavais e alagamentos são consequência direta das mudanças climáticas. A negação é mínima. Mesmo assim, o ceticismo sobre a COP30 é grande. Apenas 18% acreditam que o evento trará benefícios ao país. Para 36%, não haverá impacto algum. E para 26%, a conferência pode até piorar a imagem do Brasil. A população entende o problema, mas não vê nas grandes agendas internacionais um caminho para soluções.


