Empresas freiam aumentos salariais

Empresas freiam aumentos salariais

45% das companhias não planejam aumentar salários em 2026

A maior parcela das empresas em operação no Brasil está cautelosa em conceder aumentos salariais nos próximos meses, encontra grande dificuldade para contratar mão de obra qualificada e está sentindo pressão por revisão de seu pacote de benefícios, num ambiente marcado por forte transformação tecnológica e incertezas no campo econômico.

Estas são algumas das principais constatações do Guia Salarial 2026, produzido pela Michael Page, líder global em recrutamento de média e alta gerência. O levantamento ouviu 7.147 profissionais de 998 empresas de todo o Brasil. 56% dos entrevistados atuam em organizações de grande porte, 18% integram empresas médias e 26% trabalham em pequenas empresas. 63% dos profissionais consultados ocupam cargos em companhias nacionais e 37% estão alocados em multinacionais com presença predominantemente na América Latina.

Reajustes em queda

Segundo o levantamento, 45% das empresas não planejam conceder reajustes salariais aos colaboradores em 2026, além daqueles previstos em lei ou convenções coletivas. Na pesquisa anterior, do Guia Salarial de 2025, o índice dos que descartavam aumentos era de 30% do universo de companhias consultadas.

O estudo mostra que apenas 20% das empresas afirmam que concederão aumentos reais aos colaboradores no futuro próximo, patamar menor que os 38% registrados no levantamento anterior, o que aponta para um cenário de extrema cautela com a saúde do caixa, em contexto de desaceleração da atividade econômica e incertezas quanto ao andamento dos negócios.

O cenário mais restritivo no futuro, repete a tendência verificada ao longo dos últimos meses. Segundo o levantamento, 59% dos entrevistados reportam que não receberam aumento salarial nos últimos 12 meses. A contenção já está causando estresse, e apenas 5% da amostra afirma estar muito satisfeita com a remuneração que recebe, enquanto 45% se dizem satisfeitos e 39% declaram insatisfação com o atual patamar salarial.

O aperto nos reajustes já está impactando a satisfação com o trabalho. Do total dos entrevistados, apenas 16% se dizem muito satisfeitos com a atividade atual, enquanto 38% estão pouco satisfeitos e 35% têm algum grau de insatisfação.

“Estamos atravessando um momento desafiador e empresas que estiverem atentas a tendências e novas práticas de gestão terão melhores chances de garantir atração e retenção de talentos, questão que impacta diretamente a competitividade”, que impactam diretamente a competitividade, diz Ricardo Basaglia, presidente da Michael Page no Brasil.

Dificuldade de contratar

O Guia Salarial da Michael Page também lançou um olhar sobre o panorama de contratações no país. De acordo com o levantamento, 73% das empresas ouvidas declaram que estão enfrentando dificuldades na contratação por falta de profissionais qualificados.

Além de competências técnicas e fluência em novas plataformas tecnológicas, como IA generativa, as empresas buscam profissionais que combinem conhecimento técnico com inteligência emocional, pensamento crítico, visão sistêmica e alta capacidade de adaptação. Habilidades para gerir conflitos, capacidade de comunicação e autonomia com responsabilidade completam o quadro de características mais procuradas nos candidatos.

Estes atributos, no entanto, são uma barreira nas contratações. Segundo 30% das empresas, a falta de habilidades interpessoais foi um dos três maiores obstáculos nas contratações no último ano.

Segundo o levantamento, bom relacionamento interpessoal e inteligência emocional lideram as qualidades apontadas como sendo de alta demanda, ambas citadas por 88% das empresas ouvidas pela Michael Page.

Pensamento analítico e inovador surge em seguida, mencionado por 83% da amostra, mesmo patamar apontado para tolerância ao estresse e adaptabilidade (83%). As empresas também valorizam mentalidade voltada para o cliente (82%), pensamento crítico (81%), liderança e influência (77%), criatividade, originalidade e iniciativa (76%) e aprendizado contínuo (76%).

Estas competências suplantam as capacitações mais técnicas, como resolução de problemas complexos (73%), raciocínio lógico (71%), solução de problemas na experiência do usuário (59%), uso, monitoramento e controle de tecnologia (53%), análise e avaliação de sistemas (47%) e design de tecnologia e programação (32%).

“A contratação por conhecimento técnico continua sendo importante, é claro. Mas isso tem que vir acompanhado de outros atributos. As empresas buscam talentos que tenham disposição, autonomia, espírito colaborativo e resiliência para resolver problemas complexos e desafios de negócios inéditos. Este é o novo padrão”, analisa Basaglia.

Benefícios para atrair e reter talentos

Com mais restrições para aumentar salários, os benefícios atrelados à contratação passam a ser peça-chave na atração e retenção de talentos, apontam 55% dos entrevistados do Guia Salarial 2026. Itens como bônus, alimentação e saúde aparecem no topo das prioridades, seguidos por previdência privada e programas de capacitação e desenvolvimento.

“O desafio é construir pacotes de benefícios que realmente façam a diferença para os colaboradores, fortalecendo a competitividade para atrair e reter profissionais que farão a diferença”, diz Basaglia. Encontrar o melhor equilíbrio esbarra no alto custo dos benefícios, segundo 81% das empresas ouvidas, na dificuldade de alinhamento com as expectativas dos talentos (69%) e na pressão do mercado e competidores por pacotes mais robustos (51%).

Entre as empresas ouvidas pelo levantamento, 60% afirmam oferecer projetos de capacitação e desenvolvimento, como programas de liderança (49%), apoio, subsídio ou descontos em programas educativos (47%) e plataformas de aprendizado contínuo (43%). O que as empresas dizem não é percebido na ponta pelos profissionais. Apenas 28% dos profissionais dizem receber capacitação e desenvolvimento como benefício.

“Existe ainda um desalinhamento entre oferta e expectativas e é muito importante equacionar os benefícios para garantir vantagem competitiva na hora de contratar e manter times vencedores”, diz Basaglia. A pesquisa aponta que 48% das corporações mantêm pacotes padronizados, sem possibilidade de personalização, o que contrasta com os 42% dos candidatos que consideram muito importante contar com benefícios flexíveis.

Essa lacuna pode comprometer o engajamento dos talentos, resultando em aumento da rotatividade, especialmente em segmentos mais competitivos. Além da escassez de talentos qualificados, as empresas reclamam da alta rotatividade ou falta de engajamento (61%) dos contratados e de expectativas salariais acima do orçamento disponível (58%). “Os fatores estão interligados: profissionais com qualificações específicas têm maior poder de barganha, o que eleva o turnover e pressiona os salários. A hora é de construir estratégias assertivas para garantir mão de obra qualificada e engajada”, avalia o presidente da Michael Page.

 

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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