Banco Central dos EUA anuncia corte de 0,25 ponto na taxa de juros
Redução dos juros não trouxe surpresas para o mercado
O Federal Reserve, que é o Banco Central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (29) mais um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, para o intervalo entre 3,75% e 4,00%.
Na avaliação do economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, não houve surpresa na decisão sobre os juros, uma vez que já havia praticamente unanimidade apostando na queda desta magnitude. “Sem acesso aos últimos dados do payroll por conta do shutdown do governo americano, o comunicado trouxe um tom muito semelhante ao da reunião de setembro, afirmando que indicadores recentes demonstram desaceleração do mercado de trabalho em contraste com a inflação relativamente elevada. Reconheceram ainda que os riscos sobre o desemprego aumentaram”, destaca.
Também foi anunciado o fim da política de quantitative tightening (redução de balanço) iniciado em 2022 em resposta a pressões inflacionárias decorrentes dos cortes agressivos de juros no período da pandemia. Outro ponto que chamou a atenção foi a dissidência de dois membros na votação: como esperado, Stephen Miran, indicado por Trump, votou por um corte maior, enquanto Jeffrey Schmid teria optado pela manutenção da taxa.
Em sua longa entrevista após a publicação do comunicado, o presidente Powell enfatizou bastante que a decisão para a reunião de dezembro não foi tomada. Longe disso. E ainda pontuou que não se tratava de um usual comentário protocolar, mas que refletia os desafios derivados do atual balanço de riscos. Nesse sentido, disse que depois de muito tempo as preocupações com a evolução do emprego são mais importantes do que as expectativas sobre a dinâmica inflacionária. Por outro lado, chamou a atenção de que os riscos sobre inflação e desemprego implicam movimentos em direção contrária para a política monetária e que as incertezas permanecem elevadas para ambos os lados do duplo mandato do Fed. E finalizou mencionando que não houve unanimidade no voto por conta de diferenças relevantes sobre o que pode vir pela frente e que para alguns pode inclusive fazer sentido pausar os cortes por um tempo.
Os comentários dissuadindo as expectativas de que mais um corte está garantido foram recebidos de forma negativa pelo mercado e alguns indicadores viraram para o vermelho após a entrevista. Da mesma forma, a probabilidade de uma manutenção dos juros em dezembro implícitas nos contratos futuros aumentaram bastante.
O economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, acredita que um corte de 0,25 é o mais provável. “Temos que reconhecer que Powell fez tudo o que pode para dizer que nada está garantido. De um lado, ainda não está clara a magnitude do esfriamento no mercado de trabalho. De outro, não sabemos se os impactos do tarifaço vão eventualmente impactar a trajetória da inflação de forma mais contundente. E para completar tudo indica que as discordâncias entre os membros do Fomc adicionam uma camada de incerteza sobre as perspectivas para a continuidade da política monetária nos EUA”, conclui.
Para Caique Stein Laguna, sócio e especialista de investimentos offshore na Blue3 Investimentos, o objetivo do corte dos juros pelo FED é estimular a economia em um momento em que os mercados monetários dão sinais de aperto e menor liquidez.
“No cenário econômico, a atividade segue com expansão moderada. O desemprego aumentou nas últimas leituras, mas ainda está em níveis historicamente baixos. Já a inflação permanece elevada e com forte grau de incerteza. A decisão não foi unânime: Stephen Miran defendia um corte maior, enquanto Jeffrey Schmid, do Fed de Kansas City, votou contra qualquer redução, citando riscos inflacionários. A ausência de dados econômicos recentes, causada pelo shutdown do governo federal, também pesou na escolha por uma postura mais cautelosa”, explica Laguna.
No Brasil
De acordo com Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1, a correção da precificação das taxas de juros futuras nos EUA afetou a precificação do DI aqui no Brasil, levando a uma pequena correção para cima nas taxa de juros futuras. No entanto, ele avalia que este movimente é de curto prazo.
“Os fundamentos domésticos seguem melhorando, com queda da inflação corrente, queda gradual das expectativas de inflação e desaquecimento da atividade econômica, sobretudo nos setores mais sensíveis à política monetária. Assim, entendemos que há espaço para as taxas de juros futuras fecharem mais ao longo das próximas semanas”, admite Cezario.


