Indústria do Paraná muda perfil, ganha competitividade e cresce acima da média brasileira
Nos dois últimos séculos o mundo passou por alterações profundas. No que se refere à industrialização, esse processo veio em etapas. Inicialmente, a preocupação da indústria era de se expandir horizontalmente, com o aumento cada vez maior de empresas. Hoje, esse processo ocorre de forma vertical, com a busca incessante do aperfeiçoamento e do incremento tecnológico.
E foi assim que aconteceu com a indústria do Paraná. Ao longo dos dois últimos séculos passou por grandes mudanças, mas também sofreu com as várias crises econômicas, hiperinflação, globalização, além dos diversos planos econômicos adotados pelos governos entre os anos de 1980 e 1990. A alternativa foi uma progressiva modernização e diversificação do seu parque industrial.
De um estado essencialmente agrícola e exportador de energia barata, a mudança de perfil possibilitou que o Paraná se destacasse no cenário nacional. Nos últimos 11 anos (2002-2013), enquanto a produção industrial brasileira cresceu 26,63% o desempenho da indústria paranaense foi excepcional. Puxada pelo setor automotivo e pela agroindústria, a produção estadual cresceu 59,47% e ocupou a primeira posição no ranking calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seguida do Espírito Santo (35,12%) e Minas Gerais (31,77%), segundo e terceiro colocados.
A mudança do perfil industrial do Estado começou em 1962 com a criação da Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar), mais tarde transformada no Badep. A fonte primária dos recursos de fomento era uma parcela do Imposto de Vendas e Consignações (IVC) que os contribuintes paranaenses destinavam ao Fundo de Desenvolvimento Econômico, gerido pelo Badep. Fortes investimentos em infraestrutura colocaram o Paraná como alternativa importante de localização de empreendimentos industriais. A implantação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) na década de 70 foi outro marco importante da industrialização paranaense.
Entretanto, a mudança mais profunda na economia do Paraná aconteceu no final da década de 90, com a chegada das montadoras de veículos Renault e Volkswagen, que se somaram a Volvo, presente no Paraná desde a década de 70 e a New Holland. A Chrysler veio junto com a Renault e Volkswagen, mas teve uma passagem muito rápida. Em 2001, a unidade localizada em Campo Largo, que recebeu investimento de US$ 315 milhões, foi desativada como parte do processo de reestruturação internacional da empresa.
Junto com as montadoras vieram as fornecedoras de autopeças e perto de 300 indústrias de vários segmentos, isso apenas nos oito anos do governo Jaime Lerner. O Plano Real mostrava resultados positivos, a inflação estava controlada e para ajudar, houve a retomada de investimentos diretos externos em busca de oportunidades em economias emergentes.
O ambiente favorável inseriu o Paraná no mapa de grandes integradoras de computadores (informática, telecomunicações, eletrônica industrial e comercial) . As indústrias que se instalaram no Estado formaram um ecossistema produtivo, começando pelos fabricantes do produto final, sendo completado por fabricantes de insumos. Isto pode ser exemplificado pela produção de gabinetes para computador, onde o Paraná é hoje líder; pela composição de placas-mãe, que é o segundo insumo mais importante depois do processador para a composição do produto final. Só a indústria de computadores oferece hoje 6 mil empregos diretos no Paraná e produz por ano mais de 4,5 milhões de computadores. Também a Electrolux, depois de comprar a paranaense Refripar, selecionou o Paraná como sua base de produção para a América Latina.
Do lado interno, o governo do Paraná criou um programa de incentivos fiscais, com a dilação no pagamento do ICMS, que vigorou no período de 1994 a 1998, e que recebeu o nome de Paraná Mais Empregos. Este programa foi retomado em 2011 com a denominação de Paraná Competitivo e conseguiu atrair para o Estado, nos últimos três anos e meio, investimentos industriais de R$ 35 bilhões, segundo informações do secretário da Fazenda, Luis Eduardo Sebastiani.
Apesar da diversificação, a indústria de alimentos é ainda a maior em número de receitas, seguida pelas montadoras de veículos automotores e do refino de petróleo, segundo dados do Departamento Econômico da Fiep.
As transformações permitiram que o Paraná ocupe hoje o primeiro lugar do ranking nacional na produção de energia, madeira MDF e HDFG, farinha de trigo, amido de mandioca, frangos, seda e grãos. É o segundo maior na produção brasileira de equipamentos de comunicações, computadores, papel e tratores. E é terceiro maior produtor nacional de automóveis, caminhões, eletrodomésticos e móveis.
Em 11 anos, emprego na indústria de transformação cresceu 74%
A indústria de transformação paranaense emprega 710.369 trabalhadores. Este número representa um crescimento de 74% em relação há 11 anos, segundo os últimos dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais). O maior número de empregados está na indústria de alimentos com 155 mil, ou 21% do total. Em segundo lugar estão as montadoras de veículos, reboques e carrocerias com 44 mil ou 6% do total. O terceiro maior empregador na indústria de transformação é o de móveis com 42 mil trabalhadores.
Para a economista e professora da Universidade Positivo, Leide Albergoni, embora os efeitos em relação a empregos diretos gerados pelas montadoras não sejam tão significativos, os principais ganhos foram os empregos indiretos gerados pelos fornecedores de peças e componentes e demais suprimentos às empresas.
Segundo a economista, a partir do momento em que o Paraná desenvolveu mão de obra qualificada para atuar na indústria automotiva, acabou formando também trabalhadores para o setor metalmecânico. “ É essa expertise que atrai empresas de outras áreas não relacionadas com a indústria automotiva”, explica Leide.
Assim, outras empresas multinacionais se instalaram na região trazendo também seus fornecedores, atraídas pela disponibilidade de mão de obra qualificada. Dessa forma, destaca a professora da Universidade Positivo, os impactos da instalação das montadoras não se limitou ao próprio setor, pois os efeitos transbordam para o setor metalmecânico de modo geral.
Da erva-mate à alta tecnologia
Várias fases marcam a industrialização paranaense. Tudo começou com a erva-mate, no início do século XIX, mais precisamente em 1820. Inicialmente, os ervateiros se situavam em Morretes e Antonina e utilizam nos engenhos, a tração hidráulica. A produção era exportada para o Uruguai, Argentina e Chile. De acordo com informações do Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), a indústria do Paraná quando foi instalada já se comportava de forma diferente das empresas caseiras do resto do País, pois usava somente mão de obra livre, ao contrário de outros estados que utilizam trabalho escravo. Em 1856, o vapor substitui a tração hidráulica e os engenhos começam a se mudar para Curitiba. Foi neste período que aconteceu a emancipação do Paraná e a Guerra do Paraguai. Os paraguaios eram os nossos únicos concorrentes na produção de erva-mate. Com a guerra, todos os engenhos daquele país foram destruídos e o mercado paranaense passou a dominar o mercado mundial de mate.
No final do século XIX começam a chegar os imigrantes italianos e alemães. Com eles, começa a diversificação na área industrial. Os italianos dão início às indústrias de barricas de madeiras onde o mate passa a ser embalado para exportação. Também ligada ao mate, surge a indústria metalúrgica, mais particularmente, a fábrica Müller, depois denominada Irmãos Müller, que produz as novas máquinas para a moagem da erva.
Outro setor que se desenvolvia era a indústria gráfica. A primeira empresa do setor foi a Impressora Paranaense, que fabricava os rótulos para as barricas.
O ciclo do mate permitiu a diversificação do setor industrial e o aparecimento da classe média urbana. O mercado passa a ser suprido pelas indústrias caseiras locais com pequenas fábricas de sapatos, roupas, vidro e piano, no caso a Essenfelder.
Na década de 20 começou o declínio da indústria ervateira, tendo como causa principal as medidas protecionistas adotadas pela Argentina, que passou a plantar e refinar a sua própria erva-mate. Em consequência, o Paraná perdeu um mercado que absorvia a maior parte da produção.
Com o declínio da erva-mate, o esforço da produção se redireciona para a indústria madeireira que antes de atender o mercado interno, passa a abastecer os países da Bacia do Prata e Chile. O curioso é que até a década de 40, as indústrias paranaenses estavam vinculadas ao mercado da América do Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile) mais do que ao mercado brasileiro.
O boom cafeeiro da indústria paranaense começou na década de 40 e com isso a indústria perdeu o peso relativo que até então detinha.
O começo da década de 60 marca o processo de concentração da indústria brasileira. As grandes indústrias paulistas provocaram a falência e fechamento de muitas indústrias caseiras, que não tinham condições de competir. São Paulo então passa a ser o estado produtor e o Paraná o fornecedor de matéria-prima agrícola.
Nos anos 70, o Paraná experimenta outro boom econômico, aproveitando a situação nacional com a elevação dos investimentos. Ocorre uma significativa modernização da agropecuária, com a expansão das cultas de soja e trigo. No setor industrial, novos segmentos como mecânica, material elétrico e de comunicações, material de transporte, refino de petróleo e fumo passam a explorar o mercado paranaense. Também, nesse período, ocorre a diversificação dos gêneros tradicionais como madeira e produtos alimentares.
A década de 80 foi marcada pela desaceleração da economia, com a elevação dos níveis de ociosidade em diversos setores. Depois do Plano Real em 1994, a indústria do Paraná avança e entra fortalecida no Século 21.
De acordo com o economista e coordenador do Departamento Econômico da Fiep, Maurílio Schmitt, mesmo com a diversificação da estrutura da indústria paranaense, a agroindústria continua forte. “As crises que vieram e que ainda poderão acontecer, são facilmente absorvidas quando se há uma maior oferta de bens de consumo corrente. Ou seja, o Paraná é um grande produtor de alimentos. Mesmo em períodos de dificuldades, ninguém deixa de consumir alimentos”, conclui.
Créditos das fotos – Gelson Bampi e divulgação
Gostaria de saber quais são as principais empresas industriais que existem no Paraná.