A difícil busca pela competitividade
Produto Interno Bruto (PIB) negativo, dinheiro caro, inflação ascendente, crise energética, infraestrutura precária, instabilidade política e corrupção. Este é o cenário com que os industriais paranaenses se defrontam. Diante desse contexto, como ser competitivo e garantir a sobrevivência dos negócios?
A competitividade é um dos itens mais perseguidos atualmente pelas empresas. Por que uma empresa é mais competitiva que outra? Quais são os fatores que determinam a competitividade da empresa? Questões como essas estão permanentemente na cabeça dos empresários e principais executivos das empresas e também fazem parte das inquietações de muitos estudiosos da competitividade.
A própria Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem se mostrado muito preocupada com os baixos índices de competitividade do País e das nossas empresas, e com toda razão. Estudo realizado pela CNI aponta que o Brasil está em penúltimo lugar em um ranking de competitividade que inclui 15 países. A posição do país no ranking, referente a 2014, é a mesma apresentada nos dois anos anteriores. A economia brasileira ficou somente à frente da Argentina no ano passado. O estudo começou a ser realizado pela CNI em 2010.
Desde 2012, o Brasil vem ocupando a penúltima colocação no ranking sobre competitividade. Além do Brasil e da Argentina, o levantamento também considerou os seguintes países: Colômbia, México, Polônia, Turquia, Índia, Rússia, África do Sul, Chile, China, Espanha, Austrália, Coreia do Sul e Canadá. De acordo com a entidade, essas nações são as “principais concorrentes” do Brasil.
Para fazer o ranking de competitividade, a CNI analisou oito fatores: disponibilidade e custo da mão de obra, disponibilidade e custo do capital, infraestrutura e logística, peso dos impostos, ambiente macro e microeconômico, educação, tecnologia e inovação.
A melhor posição do Brasil entre os oito fatores foi obtida em disponibilidade e custo de mão de obra (quarta posição entre 14 países). A pior posição foi em disponibilidade e custo de capital (15ª). O resultado em disponibilidade e custo de mão de obra deve-se, sobretudo, ao melhor posicionamento do Brasil na variável participação da População Economicamente Ativa (PEA) na população (2ª) e o pior desempenho em disponibilidade e custo de capital deve-se ao fato de o país possuir a mais alta taxa de juros real de curto prazo e o maior spread da taxa de juros. Deve-se ressaltar que o Brasil teria obtido uma posição superior em disponibilidade e custo de mão de obra, não fosse a baixa produtividade do trabalho na indústria. O Brasil ocupa a 12ª posição em 14 competidores nessa variável.
Indústria do Paraná ganha participação, passa o Rio Grande do Sul e é a quarta maior do Brasil
A indústria do Paraná não fica fora do quadro nacional, mas tem lutado para obter maior participação relativa na geração da renda industrial e ganhar mais competitividade. De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB industrial do Paraná é o quarto maior do Brasil, ficando atrás de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, tendo ultrapassado o Rio Grande do Sul em 2008.
Em 1996, a participação do Paraná no PIB industrial brasileiro era de apenas 5,2%. Em 2008, passou para 7,3%, recuou para 6,9% em 2010. Em 2011 retomou ao patamar de 7,3%, voltando a cair para 7% em 2012 e recuperou o porcentual de 7,3% em 2013. As informações referentes ao PIB industrial de 2014, somente serão conhecidas no final deste ano, mas na avaliação dos economistas Gilmar Mendes Lourenço e Maurílio Schmitt, mesmo com a retração econômica nos dois últimos anos, a indústria do Paraná continuará firme na quarta colocação.
Entretanto, segundo o coordenador do Departamento Econômico da Fiep, Maurílio Schmitt, considerando-se apenas o PIB da indústria de transformação (ou seja, excluindo a indústria extrativa), o Paraná passa a ocupar a terceira posição, atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais. É que o Rio de Janeiro, por exemplo, possui uma grande indústria extrativa de petróleo, explica Schmitt.
O PIB industrial de São Paulo dificilmente perderá a liderança entre os estados brasileiros, mas a sua participação vem diminuindo ano a ano. Em 1996, a indústria de São Paulo respondia por 49,4% do PIB industrial do País. Em 2013, o porcentual caiu para 34,3%, mas muito acima do segundo colocado que é Minas Gerais com 11,7% e do terceiro lugar que é do Rio de Janeiro com 10,5%.
Já um estudo preparado pela empresa de consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), com a cooperação do Centro de Liderança Pública (CLP), entidade brasileira, apurou que o Paraná suplantou o Rio Grande do Sul e Minas Gerais em clima de negócios e capacidade de atração de investimentos, entre 2011 e 2013, passando da quinta para a terceira posição no ranking nacional, ficando atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
A mais recente pesquisa, efetuada entre abril de 2013 e abril de 2014, consistiu em uma avaliação geral de cada unidade federativa do País, a partir da combinação de itens ligados à competitividade, com ênfase para os cenários político e econômico, às condições de infraestrutura e de regulação, o estoque e fluxo de recursos humanos, além de indicadores de criminalidade, inovação e sustentabilidade.
De acordo com o trabalho, o Paraná exibiu avanços nas vendas internacionais do agronegócio, na renda per capita, nos dispêndios realizados pelo setor privado com pesquisa e desenvolvimento e nos estímulos fiscais direcionados a políticas ambientais.
O economista Gilmar Mendes Lourenço, que há mais de 30 anos é um estudioso da economia do Paraná, atribui essa ascensão paranaense ao fato de o Estado contar com uma indústria mais nova e consequência de uma carteira de mais de R$ 35 bilhões em projetos de investimentos industriais privados, nacionais e multinacionais, atraídos pelo Programa Paraná Competitivo, entre fevereiro de 2011 e julho de 2014. “Trata-se do maior portfólio do País, quando cotejada a amplitude econômica do Paraná com a dos outros espaços subnacionais”, afirma Lourenço.
Mas, sem dúvida alguma, o que tem contribuído para os vetores expansivos do novo ciclo, segundo Lourenço, foram a recuperação da renda do agronegócio, movida pelas cotações internacionais das commodities primárias, a crescente ascensão da produção e produtividade setorial e a atuação das cooperativas.
Cooperativas têm grande peso na industrialização paranaense
O faturamento do cooperativismo paranaense dobrou de 2010 para 2014, passando de R$ 25 bilhões para R$ 50,5 bilhões, de acordo com a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Só o faturamento das cooperativas agropecuárias chegou a R$ 42 bilhões. Para se ter uma ideia, a receita bruta obtida pelas cooperativas paranaenses supera o orçamento individual de 23 estados, incluindo o do Paraná. Para este ano, a expectativa da Ocepar é que, mesmo com a crise, o faturamento das cooperativas cresça 10% em relação a 2014. No primeiro semestre de 2015, as cooperativas paranaenses faturaram R$ 28,1 bilhões, ou 9,4% acima do verificado no mesmo período do ano passado, informa o analista da Gerência Técnica e Econômica do Sistema Ocepar, Robson Mafioletti.
O Paraná tem, hoje, 223 cooperativas, sendo 74 rurais. Só as cooperativas agrícolas recebem 56% de toda a produção agrícola paranaense e têm somado valores importantes para a economia do estado. Mafioletti destaca que a agroindústria é responsável por nada menos do que 50% do faturamento das cooperativas. Já as exportações das cooperativas paranaenses, que atingiram US$ 2,4 bilhões, em 2014, representaram 25% do total das vendas internacionais do agronegócio paranaense.
Para se manterem competitivas as cooperativas têm investido em armazenagem, industrialização de produtos, qualificação de trabalhadores e ampliação ou instalação de novas unidades. De acordo com a Ocepar, em 2014 as cooperativas do Paraná investiram R$ 2,8 bilhões. Já para este ano, em função da instabilidade econômica, crédito caro e em menor volume, o investimento das cooperativas deve cair para algo em torno de R$ 2,350 bilhões.
Produtividade é fundamental para indústria se tornar mais competitiva
O crescimento da produtividade é fundamental para o aumento da competitividade, pois reduz o custo de produção por unidade fabricada. O aumento da produtividade ocorre principalmente por meio dos investimentos em capacidade produtiva e inovação. A utilização de máquinas e equipamentos mais modernos e técnicas gerenciais eficazes fizeram com que a produtividade em alguns setores da indústria paranaense seja ostentada com mais destaque.
Informações da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), com base na Pesquisa Industrial Anual (PIA) dão conta que o crescimento da produtividade dos trabalhadores da indústria de transformação aumentou 9,7% no período de 2007 a 2012 (últimos dados divulgados), contra uma média nacional de 9,48%. Isso significa, em termos financeiros, que cada trabalhador da indústria de transformação do Paraná gerou um faturamento de R$ 11.099 em 2012.
O porcentual do Paraná é bem maior em setores como a indústria de carnes, onde o crescimento da produtividade dos trabalhadores foi de 54,35% entre 2007 e 2012, muito acima do aumento da média nacional que ficou em 9,16% para este segmento.
O Paraná ocupa o segundo lugar em crescimento de produtividade entre os trabalhadores da indústria de móveis, com um aumento de 38,97% ante o crescimento de 40,96% do Rio Grande do Sul, 10,94% de Santa Catarina e 9,36% de São Paulo, que são os seus maiores concorrentes.
Na indústria de veículos, o crescimento da produtividade dos trabalhadores paranaenses (51,11%) só fica atrás da do Rio de Janeiro (71,19%). Segundo pesquisa da Fiep, baseada na PIA, cada trabalhador da indústria de veículos do Paraná foi responsável pela geração de um faturamento de R$ 74.807, em 2012 (últimos dados levantados).
A agregação de valor é possível com conhecimento e tecnologia; por este motivo os industriais paranaenses despendem e investem fortemente na formação dos trabalhadores. O Senai, órgão especializado em formação de trabalhadores para a indústria, teve mais de 400 mil matrículas em 2014, evidenciando a importância da educação técnica que o Paraná realiza. “Os frutos dessa iniciativa são contabilizados na construção e no incremento dos indicadores de produtividade”, justifica o economista Maurílio Schmitt.
Como a indústria pode ser mais competitiva
A competitividade refere-se à habilidade de a empresa concorrer no mercado, ou seja, à sua capacidade de igualar ou superar seus concorrentes na preferência dos consumidores. Segundo explica o chefe do Departamento Econômico da Fiep, Maurílio Schmitt, as empresas dispõem basicamente de dois mecanismos para conquistar essa preferência: preço e diferenciação de seu produto por meio de qualidade, inovação ou propaganda.
Para o gerente de Negócios Competitivos do Sebrae/PR, Agnaldo Gerson Castanharo, uma empresa para ser competitiva precisa adotar um conjunto de estratégias que facilitem a concorrência com outras empresas e que permitam que ampliem ou mantenham seu posicionamento por um tempo desejado no mercado em que atuam. “Uma indústria não pode ser competitiva somente com uma estratégia.
Perceber que somente ter um modelo baseado na excelência da gestão pode tornar a empresa competitiva por um intervalo de tempo que não seja duradouro, ainda mais se o olhar da gestão for somente interno, sem observar o mercado e as tendências tecnológicas”, explica Castanharo. E acrescenta que “assim como inovar e fidelizar os clientes com novos produtos, sem levar em consideração os resultados desta inovação tanto em termos de resultados financeiros para a empresa, como em participação no mercado, também não podem garantir que a empresa se mantenha competitiva por algum tempo. A inovação e o posicionamento da empresa perante o mercado são fundamentais”.
Empresas que conseguem ajustar as estratégias do modelo de excelência em gestão, inovação e posicionamento do mercado tendem a se tornar empresas duradouras, ou empresas feitas para vencer, afirma o gerente de Negócios Competitivos do Sebrae/PR. Segundo ele, nos últimos anos, só o Sebrae investiu mais de R$ 30 milhões em ações de melhoria de processos de supressão de desperdícios e inovação. “Foram milhares de empresas atendidas, mostrando que elas não estão acomodadas”, ressalta.
Para Castanharo, as pequenas indústrias podem ser competitivas. Na sua avaliação, a indústria, mesmo que pequena, se conseguir além de produzir um bom produto contar com a engenharia reversa vai agregar mais valor e melhorar a sua competitividade. Ele explica que a cada ano mais empresas entram no mercado, acirrando a concorrência. Portanto, se não investirem em inovação, dificilmente conseguirão competir no mercado.
Sistema tributário impacta na competitividade
Quando se discute sobre as limitações à competitividade da nossa indústria, o Custo Brasil é o culpado preferido. Mas, também outros fatores têm impactado negativamente a competitividade dos nossos produtos. Entre eles estão o alto custo de produção, atrelado aos encargos tributários, que oneram os bens de produção (máquinas, equipamentos, insumos e mão de obra). Na avaliação de Gilson Rasador, superintendente da Pactum, o sistema tributário vigente castiga pesadamente a nossa indústria, na medida em que importante parcela dos recursos financeiros, próprios ou de terceiros, destinam-se ao pagamento de um número assustador de impostos, contribuições e taxas.
Muitos impostos e contribuições pagos sobre os insumos adquiridos para produzir acabam sendo repassados aos adquirentes, como integrantes do preço ou ressarcíveis pelas Fazendas Federal e Estadual. Porém, nem tudo o que a lei determina acontece na prática, especialmente quando se trata de restituição ou ressarcimento de tributos pagos. Segundo Rasador, um exemplo é a dificuldade que os empresários enfrentam para obter ressarcimento de créditos de IPI, de PIS e de Cofins cobrados sobre os insumos empregados na fabricação de produtos destinados ao exterior. Esta situação é ainda mais grave nas indústrias exportadoras para obtenção de autorização do Fisco Estadual para transferência a terceiros de créditos acumulados de ICMS.
O que se constata hoje é que uma boa parcela do capital de giro das indústrias exportadoras está convertida em créditos fiscais. De acordo com o superintendente da Pactum , de um lado, as indústrias enfrentam o custo exorbitante do capital de giro e, de outro, os créditos mantidos pela União e Estados quedam-se sem atualização e também não são acrescidos de juros.
Rasador alerta que a manutenção e o crescimento no mercado dependem, cada vez mais, da capacidade de competir com indústrias instaladas em qualquer parte do mundo. Para isso, a inovação e a melhor gestão das questões tributárias merecem especial destaque.
O coordenador do Departamento Econômico da Fiep, Maurílio Schmitt, explica que os estados já desenvolveram a habilidade de cobrar o ICMS nas fontes produtoras ou distribuidoras de atacado para uma infindável lista de mercadorias. O regime de substituição tributária está aí consolidado para extrair, já na etapa de indústria, todo o ICMS, PIS e a Cofins, inclusive sobre as margens estimadas de agregação de valor nas fases subsequentes até o consumo. Portanto, não existe motivo algum para deixar de dar causa e efeito à desoneração tributária integrada, desde a origem de suprimento dos insumos até a efetiva exportação dos bens finais.
Segundo Schmitt, ou se implementa e se reconhece de vez o conteúdo e alcance do dispositivo da Lei Kandir ou então o Brasil voltará à condição de País exportador de produtos básicos e de renda e trabalho para aqueles que os utilizam na obtenção de bens finais de consumo. Reter tributos nos ativos das empresas exportadoras para equilibrar as finanças públicas decididamente não é iniciativa saudável para o conjunto da economia brasileira, destaca o coordenador econômico da Fiep.
Intervenção do governo diminui competitividade
Na opinião do economista e gerente de consultoria e customer success da Cortex Intelligence, Leonardo de Assis, quanto maior é a intervenção do governo, menor é a competitividade das empresas. Segundo ele, setores muito protegidos no País não conseguem desenvolver competitividade.
Como exemplo de sucesso e superação, Assis cita o setor do agronegócio, que nos últimos anos desenvolveu uma capacidade muito grande de competitividade. “Se analisarmos o top dos 20 maiores exportadores brasileiros, poderemos constatar que a maioria é composta de empresas do agronegócio”.
Ainda na avaliação de Leonardo de Assis, que também é professor de Custos Logísticos do IBMEC/RJ e de Inteligência de Mercado aplicada a Compras da Procurement Business School São Paulo, quanto mais conhecimento existe numa nação, mais diversificada é a sua indústria. “O que vemos hoje é um governo intervencionista. Não somos abertos o suficiente para o capital estrangeiro”, destaca.
O economista e professor aponta também como grandes empecilhos à competitividade da nossa indústria, a baixa qualificação profissional, a alta carga tributária e o custo elevado da infraestrutura.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, ao comentar sobre o encolhimento da participação da indústria brasileira de transformação em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) que neste ano deve cair para 9%, contra 10,9% em 2014, criticou o Governo Federal por não ter feito as reformas tributária e trabalhista, que poderiam dar mais competitividade à indústria, que é um dos setores mais expostos à competição externa.
Infografia – Emanuele Caroline de Oliveira – Crédito das fotos – Fiep e Divulgação