“O ano de 2015 poderia ter sido pior”, avalia Abicalçados
O cenário desenhado no início de 2015, com uma crise política iminente e uma econômica que sofria com a queda na demanda interna e com os solavancos proporcionados por uma crise macroeconômica puxada pela China era terrível. “O ano, certamente, não foi bom, mas poderia ter sido muito pior”, avalia o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Segundo o dirigente, mesmo a queda no varejo de calçados, que deve ficar próximo de 8% no ano, e a produção do setor despencando durante todo o ano, devendo fechar o período com queda de 7%, poderiam ter sido maiores, “não fosse pela expertise da indústria calçadista no embate com as crises”.
Para o executivo, o quadro de queda no mercado interno já era esperado, visto que a demanda vinha encolhendo desde o segundo semestre de 2014. “Não havia outro horizonte possível, com o desemprego em alta e a queda brusca na renda de um consumidor que já vinha endividado”, explica Klein, ressaltando ainda a inflação, que acabou inibindo ainda mais o consumo.
As exportações de calçados também caíram ao longo de 2015, porém tiveram uma recuperação nos últimos meses do ano, quando chegaram os embarques negociados com o dólar mais elevado, em julho e agosto. Mas neste quesito, ao menos, a expectativa é positiva para os calçadistas. Para Klein, a desvalorização do dólar já está sendo percebida nos registros, o que deve se acentuar ao longo do próximo ano. “Embora ainda não estejamos percebendo com maior ênfase o aumento dos embarques, notamos nas fábricas que as atividades voltadas para a área internacional estão muito fortes”, projeta, ressaltando que o próximo ano deve ser de incremento nas exportações. “O dólar estável e valorizado, somado à recuperação de alguns mercados importantes para o produto brasileiro, devem ser fatores preponderantes para melhores resultados mês após mês em 2016”, acrescenta o executivo.
Por outro lado, a alta da moeda norte-americana também deve seguir influenciando na queda das importações de calçados, o que acabando sendo positivo para as produtoras nacionais. “Vamos ter menos concorrência na sedução do parco potencial de consumo do brasileiro”, comenta.
Segundo Klein, as empresas que, nas dificuldades para exportações registradas nos últimos anos não abandonaram o mercado externo e seguiram com os embarques como parte de um posicionamento estratégico, devem colher melhores resultados ao longo de 2016. “Empresas que abandonaram os mercados internacionais por conta das dificuldades enfrentadas terão maior dificuldade na retomada”, destaca, lembrando que, por isso, a entidade alerta que a exportação deve ser uma estratégia permanente da empresa e não um negócio ocasional.
O executivo da Abicalçados ressalta que, embora o total de exportações tenha caído ao longo de 2015, alguns mercados se destacaram para o calçado brasileiro. “Tivemos um bom desempenho nos Estados Unidos, especialmente nos últimos meses do ano, com incremento de embarques de produtos com maior valor agregado” destaca. Klein também aponta o comportamento positivo dos mercados do Oriente Médio, com destaque para os Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. “Com a perda de importantes espaços no mercado argentina, conseguimos pulverizar as exportações para outros países próximos, como Bolívia e Peru, que são igualmente mercados promissores para 2016”, acrescenta o executivo.
Para o ano seguinte, Klein destaca que a tendência de queda no varejo doméstico, especialmente no primeiro semestre, e incremento das exportações de calçados deve continuar. “Temos uma situação política contaminando a economia brasileira e enquanto o problema não for resolvido vamos continuar parados, amargando mais perdas no varejo brasileiro”, afirma.
Segundo o dirigente, somado aos problemas políticos e econômicos, está o clima. “Não tivemos os dois últimos invernos e os lojistas precisam desovar estoques. Arrisco a projetar que, se tivermos alguma melhora no mercado doméstico, só será a partir de setembro de 2016, isso se a situação política for resolvida e o consumidor brasileiro voltar a ter confiança para consumir”, acrescenta. “Já nas exportações, o dólar deverá garantir bons resultados”, conclui.