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Prognósticos do FMI e escape brasileiro do fundo do poço

A vigorosa disseminação e escalada do Coronavírus em múltiplos espaços geográficos deve produzir a maior recessão da história da economia global, suplantando o empuxe negativo daquela deflagrada em 1929, conhecida como Grande Depressão, e a registrada em 2009, fruto da irradiação do default do subprime, mercado hipotecário “caixa baixa” dos Estados Unidos (EUA), sobre os fluxos os financeiros e as correntes de comércio.

Tanto é assim que relatório apresentado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 14.04.2020, projeta queda de -3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, em 2020, que depois de amortecimento e reversão pode experimentar acréscimo de 5,8%, no exercício de 2021, sendo que o comércio deve retroceder -11%, em 2020, e subir 8,4%, em 2021.

O desmonte da depressão estará subordinado à rapidez, intensidade e efeitos das estratégias cooperativas multilaterais, adotadas pelos vários governos, incluindo pacotes fiscais emergenciais contínuos e compartilhamento de recursos médicos e conhecimento para tratamento de descoberta de vacinas, e atuação hiperativa dos bancos centrais na provisão de liquidez abundante ao sistema.

Considerando que a entidade previa, em fevereiro deste ano, expansão de 3,3% da principal grandeza macroeconômica internacional, os estragos provocados pelo Covid-19 – cuja gênese, dinâmica e combate são pouco conhecidos – resultarão em retrocesso superior a -6%, incomparavelmente maior do que o amargado em períodos de guerra e grandes eventos de instabilidade política e econômica.

Apesar de envolver de maneira generalizada estados avançados, com contração de -6,1% (-5,9%, nos EUA), os de renda média (-1%) e pobres (+0,4), a situação regressiva deverá ser sentida de forma mais acentuada por nações emergentes, em especial as de matriz produtiva fortemente dependente da produção e exportação de commodities minerais, metálicas e alimentares, com demanda e preços flagrantemente cadentes. O PIB da América Latina deve recuar –5,2%, em 2020, e variar 3,4%, em 2021, enquanto o do Brasil deve encolher -5,3%, neste ano, e crescer 2,9%, no próximo.

            O caso brasileiro é indiscutivelmente mais grave. Ao contrário da esmagadora dos países desenvolvidos e em desenvolvimento que, no final de 2019 e começo de 2020, tentavam reverter um princípio de colheita de desaceleração cíclica, semeada no segundo semestre de 2018, com a eclosão do conflito de tarifas entre EUA e China, a nação perdeu o trem global de quase uma década de bonança.

            Mais que isso, num intervalo em que o mundo escapou das agruras e deixou para trás a turbulência do biênio 2008-2009, o Brasil mergulhou no maior colapso político, institucional e econômico da era republicana, marcado pelo fracasso de uma “nova matriz econômica” intervencionista, por conta da descoberta, investigação e comprovação de escândalos de corrupção, expressos em vultosos assaltos ao caixa das companhias estatais e aos orçamentos públicos.

Não menos relevante foram a falência do estado, instauração e execução de expediente de impeachment da presidente da república, em 2016, contabilização de seis anos de recessão e estagnação dos níveis de atividade e retorno da ultradireita, paradoxalmente liberal e populista, ao poder, em um tumultuado episódio eleitoral, em 2018.

            Ressalte-se que a plataforma explicitada em campanha pela aliança vencedora mostrou-se extremamente vaga, preocupada com o convencimento coletivo da necessidade de sepultar a suposta esquerda corrupta, que teria governado o país entre 2003 e 2016, e foi sucedida, entre maio de 2016 e dezembro de 2018, por atores políticos manifestadamente comprometidos com estabilidade macroeconômica e alterações de base.

            Porém, a recusa dos novos inquilinos do palácio do planalto em costurar redes de apoio legislativo, imprescindíveis à tramitação, discussão e aprovação das reformas estruturais requeridas ao reequilíbrio orçamentário e financeiro do governo e à impulsão da eficiência microeconômica em médio e longo prazo, propiciou o aparecimento de uma administração governamental estilo “colcha de retalhos”, arraigada defensora ferrenha dos confrontos prevalecentes nos palanques eleitorais, desprovida de planos e programas no atacado e conferindo prioridade a desconexas ações de varejo.

            Seria ocioso mencionar os embates, na maior parcela das vezes inadequados, provocados ou protagonizados pelo chefe de estado, com veículos da mídia, ambientalistas e profissionais de educação, além de alguns incidentes diplomáticos, que prejudicaram sobremaneira a operação da máquina governamental em feições minimamente equilibradas.

Por tais anomalias, a pandemia apanhou o país em condições pouco animadoras, sintetizadas em incremento do PIB per capita próximo de zero, entre 2017 e 2019, enorme ociosidade dos fatores de produção (mão de obra e capital), relação dívida pública/PIB em patamares estratosféricos e diminutos níveis de investimento em infraestrutura econômica e social, que, no conjunto, constituem significativas barreiras à retomada do crescimento.

Os ativos acumulados pelas atuais ocupantes do poder repousam na marcha cadente da inflação e dos juros e moderado e localizado avanço no programa de privatizações e concessões, todos rigorosamente herdados da equipe do mandatário anterior.

            A despeito dessas dificuldades, não é aconselhável olhar o retrovisor, nem chorar o leite derramado. Em circunstâncias tão dramáticas, cumpre, ao executivo ortodoxo, a tarefa de reconhecimento da insuficiência da cartilha liberal no fornecimento de mecanismos e instrumentos para enfrentamento de terremotos econômicos, sobretudo os que não possuem qualquer relação direta com acontecimentos oriundos do funcionamento dos mercados.

            Feita essa rápida penitência, urge a ampliação da abrangência e aprofundamento de ações na direção da salvação de vidas, empresas e empregos, por meio do retorno do intervencionismo estatal, via expressiva elevação do gasto e endividamento público e abastecimento, em larga escala, de massa de crédito subsidiado.

Decerto que é uma saída complicada, repleta de alternâncias entre fases de reforço e afrouxamento de restrições a mobilidade de pessoas e funcionamento de atividades, sobretudo com confinamentos e distanciamento social, no afã de, ao mesmo tempo, reforçar defesas contra o vírus e diminuir a contaminação e minimizar os danos econômicos.

Mas não há outro jeito. O esforço de construção da compressão das peculiaridades da doença e identificação de seu potencial destrutivo na saúde, economia e tecido social é gradativo. Por isso, posições e atitudes devem ser permanentemente revistas e atualizadas com amparo do curso da Ciência, nas distintas áreas.

O artigo foi escrito por Gilmar Mendes Lourenço, que é economista, consultor, foi diretor presidente do IPARDES entre 2011 e 2014.

Mirian Gasparin
Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 49 anos na área de jornalismo, sendo 47 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.
https://www.miriangasparin.com.br

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