Desvalorização das criptomoedas: por que este mercado está em recessão?

Desvalorização das criptomoedas: por que este mercado está em recessão?

O mercado de criptomoedas enfrenta uma intensa crise, que vem preocupando os investidores e gerando insegurança no universo das moedas digitais O bitcoin, criptomoeda mais valiosa, por exemplo, perdeu mais da metade do seu valor em sete meses. Para se ter uma ideia, em 2021 o valor do bitcoin era negociado perto de US$ 70 mil, no entanto, com o agravamento da crise nos últimos meses, o valor do ativo recuou 70%, ou seja, passou a valer cerca de US$ 21,5 mil.

O momento, apelidado de ‘crypto winter’ (inverno cripto, em português), ficou ainda mais grave nos últimos dias, quando as principais moedas perderam US$ 1 trilhão de valor de mercado. Consequentemente, as plataformas de negociação interromperam os saques, muitas chegaram a demitir seus funcionários e, por conta da volatilidade da moeda digital, os investidores estão desistindo das aplicações.

Mas, afinal, o que tem levado o mercado de criptomoedas à recessão? Segundo o administrador André Massaro, coordenador do Grupo de Excelência em Administração Financeira – GEAF, do Conselho Regional de Administração de São Paulo – CRA-SP, um dos motivos é que a moeda digital teve uma valorização acentuada e todos os ativos financeiros tendem a retornar aos seus preços médios. “Como se diz no jargão do mercado financeiro, o preço do bitcoin ‘esticou muito’, por volta de US$ 70 mil, e sofreu uma grande queda na sequência”, comenta Massaro.

Massaro complementa dizendo que há outro motivo, mais plausível, que é a aversão ao risco. Ele conta que muitos investidores, alguns até com uma visão um pouco romântica, enxergavam o bitcoin e outras criptomoedas como uma classe totalmente à parte, desconectada do mercado financeiro, sem influência das oscilações do mercado e livres da influência dos bancos centrais. Agora, porém, a crise mostrou que isso não é verdade.

“Desde que as criptomoedas se tornaram populares, elas vêm se revelando como ativos correlacionados com o mercado. Nos últimos tempos, as movimentações das taxas de juros internacionais (em particular nos Estados Unidos, onde a taxa está subindo, e na Europa, onde deve subir em breve) têm gerado muita apreensão nos investidores, que estão evitando aplicações de risco. E as criptomoedas, no caso, são vistas como um investimento de alto risco”, explica o administrador.

É hora de comprar ou vender?

Embora a máxima do mercado financeiro seja “comprar na baixa e vender na alta”, Massaro sugere cautela antes de adquirir ativos que estão com o preço abaixo do normal. Por mais que se presuma que a queda é uma oportunidade de compra, em razão da crise em que o mundo vive pode ser arriscado investir nesse momento.

“As criptomoedas podem cair ainda mais e isso levar à perda de interesse dos investidores. Consequentemente, elas podem deixar de existir e, então, não vão retornar para os valores originais. A expectativa de que a queda vai terminar e que um novo ciclo de alta se iniciará nem sempre se concretiza”, alerta o coordenador do GEAF.

Apesar do inverno cripto, alguns analistas afirmam que o bitcoin se recupera bem em momentos de crise. No entanto, para Massaro, tal afirmação é discutível pelo fato da volatilidade da moeda digital. “A história de que é só um momento de crise não retrata o que estamos vendo agora. A criptomoeda não está se recuperando bem, pelo contrário, está caindo. Com a taxa de juros aumentando, a tese de que o bitcoin seria como hedge (estratégia de investimentos que tem o objetivo de proteger o valor de um ativo) ainda não se provou como verdade.”

Perfil de investidor em criptomoeda

Pelo fato de as criptomoedas serem altamente voláteis, o perfil do investidor desses ativos é mais agressivo, pois ele está em busca de grandes movimentos e está ciente do risco. Também existem outros perfis, como o de pessoas ligadas à tecnologia, que se encantam com o blockchain (tecnologia que registra as transações dos usuários). Há, ainda, o perfil de pessoas que seguem “a moda”, mas sequer se dão ao trabalho de conhecer o mercado e, como é de se esperar, são os que mais se prejudicam quando dá errado.

Massaro explica que qualquer pessoa pode investir nas diferentes criptomoedas, de preços variados, tendo o bitcoin entre as mais caras. “As criptomoedas, em particular o bitcoin, são fragmentadas, ou seja, são quebradas em múltiplas frações bem pequenas, o que permite a uma pessoa com pouco dinheiro entrar nesse mercado. Não há uma restrição em relação ao valor investido.”

Tal facilidade faz com que cada vez mais pessoas invistam em moedas digitais. De acordo com as declarações emitidas por investidores à Receita Federal, somente em 2021 os brasileiros movimentaram R$ 200,7 bilhões em transações com criptomoedas, o dobro do resultado registrado no ano anterior.

Cuidados necessários antes de investir em criptomoedas

O primeiro passo é entender o mercado e saber em qual exchange (corretora) seu dinheiro está sendo aplicado. “Há um ditado no mundo das criptomoedas que diz: “not your keys, not your coins” (se não são suas chaves, não são suas moedas). Então, é preciso ter cuidado com a ‘guarda física’ das moedas em exchanges, pois temos visto algumas restringindo saques e cessando suas atividades repentinamente”, orienta Massaro.

Outro cuidado é com a própria oscilação do mercado e as grandes desvalorizações. Para isso, é recomendável estudar e ter em mente que esse é um ativo de alto risco, volátil e não regulado. “As regras de diversificação, de colocar relativamente pouco dinheiro e de não concentrar muito o risco devem ser observadas múltiplas vezes”, conclui o coordenador do GEAF.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *