Com piora no cenário de aversão a risco, Inter prevê ciclo de alta da Selic

Com piora no cenário de aversão a risco, Inter prevê ciclo de alta da Selic

Aumento nos preços de energia elevou a projeção de IPCA para 4,5% em 2024

Economistas do Banco Inter revisaram a expectativa da Selic de 11,25% para 11,75% ao final de 2024. Para a próxima reunião do Copom, a expectativa é de uma alta de 50 p.b. considerando a comunicação anterior, que indicou o início gradual de alta, o que antecipou a aceleração no ritmo de alta para novembro e dezembro.

O cenário traçado pelo Inter, considera a Selic em 11,75% ao final do ciclo.  “Mas as incertezas são maiores e podemos ter um ciclo mais longo, que contempla o risco de dominância fiscal. O cenário de maior incerteza vem pressionando o câmbio, o que por sua vez pode trazer novas pressões inflacionárias adicionando à alta recente advinda dos efeitos climáticos em energia e alimentos”, desta o relatório do banco digital divulgado nesta sexta-feira (18).

Por outro lado, a contenção de gastos anunciada pelo governo pode ter o efeito inverso, desaquecendo a demanda e reduzindo a percepção de risco, permitindo a continuidade do processo de desinflação, e o recente choque de energia e alimentos seria dissipado. Nesse caso, o ciclo pode ser mais curto e os cortes na Selic retomados ao longo de 2025, alertam os economistas do Inter.

Inflação no curto prazo tem impacto de alta de energia e alimentos

O Inter elevou a projeção para o IPCA de 4,4% para 4,5% em 2024, mas mantém em 3,8% em 2025. A inflação em setembro acelerou com a alta de energia e alimentos, ambos efeitos do recente choque climático. Por outro lado, a inflação de serviços e medidas de núcleos desaceleraram e os demais sinais de desaquecimento da atividade, juntamente com a maior restrição monetária, podem conter uma contaminação maior do novo choque.

De acordo com o relatório, a maior aversão a risco, no entanto, continua pressionando o dólar, que teve nova valorização e chegou a R$5,65, acima da nossa expectativa de R$5,40 o que pode trazer pressão inflacionária adicional. O risco de crescimento dos gastos públicos acimo do esperado em 2025, com o não cumprimento do arcabouço, também pode ser fonte adicional de pressão pelo lado da demanda, no atual cenário de baixa capacidade ociosa.

Sinais de desaceleração da atividade

Após PIB mais forte no 2º trimestre, os dados de atividade mostram um desaceleração no 2º trimestre. Após o recuo dos dados de serviços e varejo, economistas do Inter estimam crescimento mais próximo de 0,5% no 3º trimestre. Ainda assim, o crescimento do PIB no ano deve ficar próximo de 2,9%.

Com a desaceleração global em curso em 2025 e a política monetária mais restritiva aqui no Brasil, juntamente com a ausência de novo estimulo fiscal da mesma magnitude observada em 2023 e 2024, o Inter projeta um crescimento mais modesto de 1,8% do PIB no próximo ano

Risco fiscal e cenários para 2025

A aceleração na dívida pública e o desafio de cumprir o arcabouço fiscal permanecem como principal risco no cenário. Apesar do anúncio do governo de revisões de gastos para 2025, a estimativa entre R$30 bilhões e R$50 bilhões foi recebida com bastante ceticismo pelo mercado. Em paralelo, outras áreas do governo seguem com propostas que aumentam gastos e criam subsídios parafiscais.

Para cumprir a meta em 2024, o gasto fiscal nos últimos três meses de 2024 deve ter uma queda aproximada de 6% em relação à média dos últimos 12 meses, o que já pode trazer uma sinalização melhor, além de reduzir o impulso fiscal. Ainda assim, o ano deve encerrar com despesas R$400 bilhões superiores a 2022, um crescimento de 17,9% para 19,1% do PIB.

Para 2025, a previsão do Banco Inter é de um crescimento dentro do limite do arcabouço, 2,5% acima da inflação, mas com a provável reprovação das medidas de aumento de arrecadação, o déficit estimado pode chegar a R$110 bilhões, ou 0,9% do PIB. Com o alto custo da dívida e despesas de juros acima de 7% do PIB, a aceleração da dívida/PIB deve continuar e ultrapassar 81% no próximo ano.

Uma contenção mais significativa do crescimento dos gastos e a volta do debate da desvinculação de despesas às receitas ainda são pontos fundamentais para o equilíbrio das contas públicas e redução dos juros no Brasil, destaca o relatório do banco

Economia americana continua robusta, mas não deve impedir Fed de continuar ciclo de cortes

Os dados de setembro apontam uma economia americana ainda robusta, afastando os temores de uma desaceleração mais intensa do mercado de trabalho, que adicionou 254 mil novos empregos em setembro, com a taxa de desemprego recuando para 4,1%. Por outro lado, a inflação dá sinais de persistência, apesar de manter trajetória de queda no acumulado em 12 meses, mas com a inflação de núcleo ainda elevada, em 3,3%. Enquanto isso, o PIB continua crescendo em patamar robusto, com a estimativa em tempo real sugerindo um crescimento anualizado de 3,4% no 3º trimestre.

Ainda assim, a equipe econômica do Inter mantém expectativa de que o Fed corte 25 pontos base em cada uma das duas reuniões restantes desse ano. “Apesar dos dados mais fortes em setembro, ainda há espaço para ajuste da política monetária, entretanto, a robustez da economia americana deve introduzir maior incerteza acerca da taxa terminal de ciclo, com o Fed, talvez, não sendo capaz de entregar todos os cortes que estão precificados. Antes da próxima reunião do FOMC teremos mais uma divulgação de payroll que ajudará a elucidar os próximos passos da política monetária americana”, ressalta o relatório.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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