Recuperação judicial no Brasil deve superar três mil pedidos em 2025

Pesquisa mostra que juros altos, crédito restrito e desaceleração econômica devem manter a pressão sobre empresas
O número de recuperações judiciais no Brasil deve superar três mil em 2025, segundo estudo da SWOT Global Consulting, consultoria especializada em perícia econômico-financeira e estratégica. A projeção reflete juros altos, crédito restrito e impactos externos como o “tarifaço” dos EUA, que encarece insumos e pressiona margens de empresas brasileiras. Em 2024, o país registrou recorde de 2.273 pedidos de RJ, alta de 61,8% frente a 2023 e acima do pico de 2016 (1.863). Em 2025, os pedidos seguem elevados: março registrou 187 casos, 2,2% acima do mesmo mês do ano anterior. A inadimplência empresarial atingiu 7,2 milhões de companhias em 2025, cerca de 31% do total de CNPJs ativos.
O levantamento mostra ainda que serviços e comércio responderam por cerca de dois terços das solicitações em 2024, refletindo a pressão do crédito caro e do prazo de recebíveis mais longo sobre o varejo. A construção civil também aparece em destaque, impactada pelo encarecimento dos insumos e das linhas de financiamento. Já o agronegócio registrou um salto histórico: 1.272 pedidos no ano passado, crescimento de 138% em relação a 2023. A vulnerabilidade é ainda maior entre micro e pequenas empresas, que concentraram até 80% das recuperações, evidenciando as dificuldades de acesso a crédito e de negociação com credores.
Regionalmente, o Sudeste concentra a maior parte dos casos, mas há oscilações pontuais conforme os choques setoriais. Além do volume elevado, chama atenção a lentidão dos processos: em média, uma recuperação judicial leva mais de dois anos para avançar, e estudos apontam que apenas 23% das companhias conseguem sobreviver após o procedimento. No cenário global, a Allianz estima que 2,3 milhões de empregos estejam em risco em 2025 em razão da alta das insolvências.
Segundo Hilton Junior, vice-presidente da SWOT Global Consulting, o estudo combinou dados da Serasa Experian, CNJ, relatórios internacionais (Allianz Trade e Atradius) e análise própria da SWOT. “Foram aplicados modelos de séries temporais e segmentações por porte, setor e região, permitindo analisar com precisão as tendências do mercado. Além disso, construímos cenários projetando o comportamento das recuperações judiciais para 2025 e 2026, o que ajuda empresas e investidores a entenderem riscos e oportunidades”, explica.
A análise também compara o Brasil com outros países da América Latina. Chile e Colômbia registraram reorganizações relevantes em 2024–2025, enquanto a Argentina ampliou concursos preventivos em meio à recessão e instabilidade cambial. De acordo com projeções internacionais, as insolvências devem crescer 6% em 2025 e ainda avançar 3% em 2026. No Brasil, a SWOT projeta que o nível elevado persista neste ano, com possibilidade de alívio gradual em 2026 caso haja redução consistente dos juros reais, recomposição do crédito e normalização parcial do custo de insumos.
Diante desse cenário de vulnerabilidade e incerteza, Hilton Junior, reforça a importância de ações preventivas: “Quanto mais cedo a empresa buscar renegociação de dívidas e reorganização, maiores as chances de preservar operações e empregos. A recuperação judicial deve ser vista como último recurso”, finaliza.