Crescimento do setor de beleza exige novas competências de gestão nos salões
Especialista em operação de salões aponta práticas essenciais para profissionalizar negócios e reduzir conflitos em um mercado cada vez mais competitivo
O mercado de beleza no Brasil segue em expansão acelerada, pressionando salões a adotarem práticas de gestão mais maduras para acompanhar o ritmo. Segundo a consultoria Circana, a indústria de beleza de prestígio cresceu quase 19% em valores em 2024, impulsionada pelo avanço de categorias como maquiagem, que registrou salto de 26% no mesmo período. Projeções da Mordor Intelligence indicam que o mercado brasileiro de cuidados pessoais deve movimentar US$ 36,9 bilhões em 2025 e chegar a US$ 52,5 bilhões até 2030. Em um cenário em que mais de 270 mil salões disputam atenção e fidelização no país, gerir deixou de ser diferencial e virou sobrevivência.
É justamente nessa lacuna que surgem as recomendações de Rafaela de la Lastra, cabeleireira e empresária com 25 anos de experiência e especialista em metodologias de gestão para o setor da beleza. Para ela, o crescimento do setor exige que as profissionais e donas de espaços deixem de olhar somente para técnica e passem a dominar os pilares de gestão.
O primeiro ponto, segundo Rafaela, é ter três indicadores financeiros fundamentais sempre atualizados: fluxo de caixa, balanço patrimonial e lucro mensal, elementos que dão visão real do negócio.
Em seguida, ela destaca a importância de realizar engenharia contábil inteligente, aproveitando as possibilidades legais de tributação para evitar pagamento de impostos desnecessários, especialmente com o novo limite de recebimento como pessoa física.
Revisão do modelo de gestão
A terceira prática essencial é rever o modelo de gestão de pessoas. Para Rafaela, grande parte dos conflitos entre donos e profissionais nasce do sistema de comissão; por isso, ela recomenda migrar para o sistema de locação integrativa de estações de trabalho, reduzindo atritos e aumentando a autonomia. Na sequência, ela reforça a necessidade de usar o digital de forma estratégica, produzindo conteúdos que conectam, atraem e convertem clientes ao longo da semana, e não apenas exibem resultados estéticos.
Outro ponto crítico é descentralizar a administração. Segundo Rafaela, salões que tentam controlar compras e insumos usados pelos profissionais aumentam custos, impostos e conflitos internos, quando a solução mais eficiente é repassar essa responsabilidade aos próprios profissionais e estruturar formas simples de compensação, como aluguel de estação de trabalho. Ela também enfatiza a importância de ter contratos robustos, já que a informalidade ainda é comum no setor, sendo a principal origem de conflitos trabalhistas e operacionais.
Planilha de precificação
Por fim, Rafaela orienta que nenhum salão consegue crescer sem uma planilha de precificação bem construída e um rígido controle de estoque, garantindo margem correta e previsibilidade financeira.
Para Rafaela, o avanço do setor impõe uma transição inevitável às profissionais: deixar de ser apenas executoras, para assumir, de fato, a posição de gestoras.
“A técnica abre portas, mas é a gestão que mantém o salão no jogo”, afirma. Num mercado bilionário e cada vez mais competitivo, quem entende essa lógica não só cresce como se fortalece diante da consolidação do setor como um dos pilares da economia nacional e das novas exigências dos consumidores.


