Nova lei permite renegociar dívidas em até 60 vezes e começar a pagar só depois de 180 dias

Nova lei permite renegociar dívidas em até 60 vezes e começar a pagar só depois de 180 dias

Especialista alerta a população sobre direito de repactuar dívidas bancárias e limpar o nome

O superendividamento é hoje uma das maiores dores financeiras dos brasileiros. Segundo dados recentes, 73% da população vive com dívidas que consomem boa parte da renda mensal, especialmente entre pessoas de 30 a 43 anos, faixa etária que mais busca crédito no país. A situação se agrava entre aposentados, pensionistas e servidores públicos, que, mesmo com renda fixa, acabam comprometendo o orçamento com empréstimos e cartões.

Pensando nesse cenário, a Lei nº 14.182/2021, conhecida como Lei do Superendividamento, foi criada para oferecer uma nova chance aos consumidores. A legislação permite repactuar todas as dívidas bancárias em até 60 parcelas, com carência de 180 dias para o pagamento da primeira parcela, ajudando famílias a retomarem o equilíbrio financeiro.

De acordo com a advogada Carleane Lopes, especialista em Direito do Consumidor, a nova lei garante um tratamento mais humano para quem perdeu o controle das finanças. “O objetivo é proteger o consumidor de práticas abusivas e evitar que ele fique preso em um ciclo de dívidas impagáveis”, explica.

Repactuação

A repactuação pode incluir diversos tipos de crédito, como empréstimo consignadoempréstimo pessoalcartão de créditocheque especial, além de boletos e carnês. Todos esses débitos podem ser reunidos em uma única negociação, facilitando o pagamento e reduzindo os juros cobrados pelos bancos.

Por outro lado, não entram na repactuação financiamentos de carro, casa ou bens dados como garantia, já que esses contratos possuem garantias reais e regras específicas.

“A lei se aplica a dívidas sem garantia real, justamente para evitar a perda de bens essenciais e preservar o mínimo necessário para a sobrevivência do consumidor e de sua família”, complementa a advogada.

Em média, segundo a especialista, o consumidor superendividado mantém dívidas com três instituições financeiras diferentes. Ao reunir todas em um plano unificado, é possível negociar taxas mais baixas e condições realistas de pagamento. “A ideia é que o cidadão consiga pagar o que deve, mas sem comprometer sua dignidade”, afirma.

Outro ponto importante é que o valor total pode incluir seguros prestamistas e outros encargos muitas vezes cobrados sem transparência. Esses valores podem ser revisados durante a negociação, evitando abusos e garantindo uma repactuação justa, que em alguns casos supera R$ 100 mil.

Capacidade de pagamento real

A nova lei também estabelece que o processo de renegociação deve considerar a capacidade de pagamento real do consumidor. Ou seja, o valor das parcelas não pode inviabilizar o sustento do devedor. “O juiz pode intermediar o acordo e exigir dos bancos propostas equilibradas, sem juros excessivos ou cobranças indevidas”, explica  Carleane.

Além disso, o consumidor tem direito a orientação e educação financeira como parte do processo.

“Não se trata apenas de renegociar dívidas, mas de recomeçar com consciência, evitando repetir os erros que levaram ao endividamento”, destaca a advogada.

Para aposentados e pensionistas, o problema é ainda mais sensível. Muitos são alvo de ofertas agressivas de crédito e acabam assinando contratos sem entender as consequências. “O consignado, por exemplo, pode parecer vantajoso, mas quando somado a outros empréstimos, torna-se um peso difícil de carregar”, alerta.

Carleane Lopes ressalta que procurar ajuda especializada é o primeiro passo para quem quer resolver o problema. “Com a lei, é possível reunir todas as dívidas, negociar prazos, reduzir juros e começar a pagar só depois de 180 dias. É um recomeço possível e legal”, enfatiza.

Por fim, a especialista reforça que o superendividamento não é um fracasso pessoal, mas um reflexo de um sistema de crédito pouco transparente e mal regulado. “A lei devolve dignidade a quem quer se reorganizar. É uma oportunidade real de sair do vermelho e retomar o controle da própria vida financeira”, conclui.

 

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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