O que esperar da reunião do Copom?
Mercado acredita que a taxa Selic deve permanecer em 15% ao ano
O Copom se reunirá nesta quarta-feira (5) para decidir o patamar da taxa Selic que vigorará nas próximas semanas. O mercado espera que o comitê mantenha a Selic no patamar atual de 15% ao ano. Assim, o foco do evento estará na divulgação do comunicado logo após o termino da reunião.
O economista-chefe da Asset 1, Luis Cezario, avalia que o cenário prospectivo para a inflação evoluiu favoravelmente desde a última reunião do Copom. Ele lembra que a inflação corrente surpreendeu para baixo, e os núcleos de inflação mostraram desaceleração; os dados de atividade têm confirmado as expectativas de moderação; os dados de mercado de trabalho passaram a mostrar sinais de desaquecimento; e as expectativas de inflação registraram queda adicional nas últimas semanas, inclusive em horizontes mais longos, reduzindo o grau de desancoragem em relação à meta de 3%. “Achamos natural que o comunicado reconheça estas melhoras. E como resultado do progresso observado nas últimas semanas, estimamos que a projeção de IPCA do modelo do Banco Central no horizonte relevante (2º trimestre) cairá de 3.4% para 3.3%”, prevê.
Dois pontos específicos do comunicado que serão analisados com muita atenção pelo mercado são os trechos que fazem referência a manter a taxa de juros no nível atual por período bastante prolongado e que enfatiza que o Copom não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado. Os dois trechos fazem parte de uma estratégia de comunicação que visa manter um tom hawkish para potencializar ganhos de credibilidade e ajudar a reduzir as expectativas de inflação, algo que de fato tem funcionado.
“Acreditamos que o Copom tem incentivos para manter esta estratégia até que tenha maior clareza de que a convergência da inflação para o centro da meta está bem encaminhada. Por outro lado, as boas práticas de condução de política monetária recomendam que mudanças de comunicação sejam feitas de forma gradual, conforme os progressos vão se materializando, para preparar os mercados para mudanças que provavelmente serão implementadas conforme o cenário base vai se confirmando. Por isso, avaliamos que caso o Copom contemple em seus planos a possibilidade de iniciar um ciclo de corte de juros a partir de janeiro, seria recomendável que começasse a ajustar a comunicação na reunião desta semana”, diz o economista-chefe da Asset 1.
Para Luis Cezario, uma forma de implementar este ajuste seria retirar o alerta sobre a possibilidade de voltar a elevar a taxa Selic, mesmo porque este cenário parece muito improvável à luz de hoje. Outra possibilidade seria suavizar a referência temporal da manutenção da Selic, substituindo a expressão “bastante prolongado” por algo como “suficientemente prolongado”. Mudanças nesta direção indicariam que é possível que o Copom inicie um ciclo de corte de juros em janeiro, mas sem sinalizar que este seria necessariamente o cenário base, admite Cezario.
Contudo, dada à preocupação do atual comitê em consolidar os ganhos de produtividade, o economista acredita que parece ser mais provável que o Copom opte por não alterar o trecho “bastante prolongado” por ora, dando preferência em reconhecer os progressos observados desde a última reunião e retirando o alerta de que poderia voltar a subir o juro básico se fosse necessário.


