Ansiedade ocupacional: quando a pressão no trabalho se transforma em adoecimento

Ansiedade ocupacional: quando a pressão no trabalho se transforma em adoecimento

Distinguir a ansiedade pessoal da ocupacional é essencial para entender sua origem

A ansiedade é um dos fenômenos mais discutidos do mundo contemporâneo. Entretanto, ainda persiste dentro das empresas, uma tendência de tratar a questão como uma disfunção individual, ignorando que, muitas vezes, ela é consequência direta da forma como o trabalho é organizado.

Normalmente, a ansiedade é uma resposta natural do organismo diante de situações que exigem esforço, adaptação ou atenção. Em níveis adequados, ela é protetora: ajuda a focar, planejar e reagir. O problema começa quando a ansiedade se torna contínua, sem momentos de recuperação. A partir desse ponto, falamos de estresse crônico. Se ele continua sem intervenção, pode evoluir para burnout e, posteriormente, para quadros depressivos.

“Distinguir a ansiedade pessoal da ocupacional é essencial para entender sua origem. A primeira aparece em diferentes contextos e persiste mesmo fora do ambiente profissional. Já a segunda está diretamente relacionada às condições de trabalho e tende a diminuir quando há afastamento das atividades profissionais”, esclarece o médico especialista em saúde ocupacional e CEO da Aventus Ocupacional, Marco Aurélio Bussacarini.

Os principais fatores psicossociais que geram ansiedade no trabalho

Pesquisas internacionais usando metodologias cientificamente validadas, como HSE-IT, COPSOQ, ISO 45003 e estudos nacionais alinhados à NR-01, como os conduzidos pela Unicamp sob coordenação do Prof. Dr. Sergio Roberto de Lucca, apontam de forma consistente que, fatores organizacionais quando desajustados, aumentam o risco de ansiedade e adoecimento.

Segundo Marco Aurélio, os principais fatores psicossociais que desencadeiam a ansiedade incluem:

A carga de trabalho e o ritmo acelerado representam um dos fatores psicossociais mais evidentes no desenvolvimento da ansiedade ocupacional. Quando o volume de tarefas excede a capacidade humana real de execução, o colaborador passa a operar em um estado permanente de pressão. Nesse contexto, a pessoa começa a sentir que nunca consegue alcançar o que é esperado, desenvolvendo antecipação ansiosa diante de cada novo dia de trabalho, até que a exaustão se instala.

A falta de clareza de papéis é outro fator que atua silenciosamente. Quando o indivíduo não sabe com precisão o que se espera de seu desempenho, vive em um terreno de incerteza constante. Instruções vagas, prioridades que mudam sem aviso e responsabilidades pouco definidas geram um estado emocional marcado pela insegurança. Esse tipo de ambiente compromete a confiança em si mesmo e intensifica a ansiedade como uma resposta à sensação permanente de estar “em risco”.

O estilo de liderança e o nível de suporte são determinantes no clima emocional do trabalho. Lideranças autoritárias, agressivas ou ausentes tendem a criar equipes que vivem em alerta. A ausência de feedback claro e construtivo, a cobrança sem orientação e a comunicação desrespeitosa alimentam um estado de hipervigilância emocional. Os colaboradores passam a monitorar constantemente seu comportamento para evitar conflitos, críticas ou punições, o que consome energia psíquica de forma intensa. A ansiedade deixa de ser episódica e se torna contínua.

O clima social, as relações de trabalho, a baixa autonomia, a falta de reconhecimento e de sentido no trabalho também possuem grande impacto sobre a saúde emocional, e devem ser medidos em cada empresa. Por fim, a insegurança no emprego cria um estado de alerta permanente.

A compreensão clara desses elementos é o primeiro passo para transformar o ambiente de trabalho em um espaço de saúde, não de adoecimento.

O papel da empresa na prevenção

De acordo com o especialista, com a evolução da legislação brasileira (NR-01) e das diretrizes internacionais (ISO 45003), o debate se desloca: o foco não é apenas tratar indivíduos, mas intervir na forma como os processos de trabalho estão organizados, ou seja, nos  fatores psicossociais do ambiente.

“O cuidado com a saúde mental não se resume ao indivíduo, o que define se um ambiente de trabalho é saudável é a forma como o negócio é estruturado, como os processos são desenhados, como as tarefas são distribuídas, como os líderes se relacionam com suas equipes e como as pessoas são acompanhadasacompanhas ao longo do tempo”, esclarece Dr. Bussacarini.

Quando líderes ajustam cargas, comunicam com clareza, reconhecem esforços e constroem relações de confiança, o trabalho deixa de ser ameaça e se torna fator de saúde.

“Empresas que compreendem isso não apenas previnem adoecimento: elas retêm talentos, aumentam produtividade e constroem equipes emocionalmente sustentáveis”, finaliza.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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