Famílias brasileiras pagaram mais de R$ 320 bilhões em juros no ano passado

dívidasEm 2015, os consumidores brasileiros pagaram mais de R$ 320 bilhões (ou mais de 5% do PIB) em juros, de acordo com estudo realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), com base nos dados do Banco Central e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estratégica (IBGE). Ao todo, as famílias dispensaram o equivalente a 5,2% do PIB nacional para um saldo de dívida de R$ 803 bilhões.

De acordo com a assessoria econômica da Federação, mesmo com a redução do tamanho da dívida das famílias (de -7,3% na comparação com 2014), o desembolso para pagar juros, que havia se reduzido em 2014 (-1,8%), voltou a subir (4,7%). Isso porque a taxa média de juros, que também havia caído em 2014, subiu e superou os 46% ao ano.

Segundo a FecomercioSP, a crise e a elevação da taxa Selic ao longo de 2015 levaram as famílias brasileiras a pagar mais juros e consumir menos, pois, além se ter sofrido com a alta dos preços e o aumento do desemprego, boa parte da sua renda ficou comprometida com o pagamento dos encargos. A piora do perfil da dívida, mais concentrada em linhas emergenciais, com juros mais altos, também contribuiu para esse resultado. Para 2016, a expectativa é que o setor financeiro deva cortar ainda mais as linhas de crédito e as famílias tenham menos condições de pagar, em razão do desemprego e dos juros maiores. Dessa forma, a tendência é de aumentos do número de contas em atraso e do valor total desse atraso. Só em 2015, as famílias deixaram de pagar mais de R$ 92 bilhões entre juros e dívidas.

Mesmo com o saldo real de empréstimos diminuindo desde 2013, o valor pago de juros pelas famílias aumentou no ano passado. Para a Entidade, a retração das dívidas é reflexo da reação dos consumidores e do sistema financeiro frente à crise econômica. Os bancos não querem emprestar tanto quanto antes, temendo o aumento da inadimplência, enquanto as famílias evitam se endividar mais. Isso permitiu uma diminuição do risco de uma explosão de inadimplência. Por outro lado, inviabilizou grande parte do consumo, com consequente redução das vendas no varejo – resultado agravado pelo aumento dos juros

Segundo a FecomercioSP, as perdas do comércio varejista foram de quase 10% no seu faturamento em 2015. Os economistas da Entidade estimaram que uma queda das taxas de juros ao consumidor para patamares ao redor de 20% a 25% ao ano poderia levar o faturamento do comércio para o R$ 1,75 trilhão atingido em 2014. Ou seja, só o excedente pago de juros teria sido suficiente para o varejo melhorar em 10% suas vendas.

A Entidade reforça que as altas taxas de juros são resultado de desequilíbrios macroeconômicos que acabam impondo transferências de centenas de bilhões do governo e dos consumidores para o sistema financeiro. Em relação a um ambiente econômico normal, os gastos adicionais (excedentes) com juros, nas perspectivas da Federação, são atualmente de mais de R$ 250 bilhões (ao menos R$ 100 bilhões do governo e R$ 150 bilhões das famílias) ao ano, o que equivale a oito vezes a arrecadação de uma eventual CPMF, dez vezes os gastos do programa Bolsa Família (ou 5% do PIB) e mais de 15% de todo o faturamento do varejo.

Outro agravante das altas taxas de juros é o déficit nas contas do governo, que, em 2015, arrecadou R$ 1,3 trilhão e gastou R$ 1,4 trilhão – déficit de R$100 bilhões; só de juros, porém, o governo pagou R$ 210 bilhões. Para a Federação, se houvesse controle fiscal, o governo precisaria de muito menos recursos, pagaria menos juros e teria menor dificuldade de rolar suas dívidas. O ganho de confiança seria enorme e a trajetória da relação entre dívida e PIB seria decrescente.

Segundo a Entidade, qualquer melhoria no cenário, portanto, passa necessariamente por um forte ajuste fiscal, já que o atual desequilíbrio é causa (e não consequência) da crise.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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