Queda dos juros provoca grande transformação cultural das aplicações financeiras e muda ânimo do setor produtivo

Depois de dois dias do Expert Talks, o maior evento de investimentos do mundo, que foi realizado nesta sexta (22) e sábado (23), em Florianópolis, com um público de mais de cinco mil pessoas, e mais de 30 palestras, a conclusão a que se chega é que estamos passando por um momento de transformação cultural muito grande das aplicações financeiras, isso tanto do ponto de vista das pessoas físicas quando das empresas. E essa transformação tem como ponto de partida a queda dos juros, que no caso da Selic deve encerrar 2019 na casa de 4% ao ano, na menor taxa já presenciada pelos brasileiros, e é o maior case de redução dos juros nominais no mundo.
A verdade é que juros baixos trazem um novo ânimo para o setor produtivo, que deverá voltar a investir nos negócios. O juro baixo também vai favorecer o mercado imobiliário. Aliás, vai reduzir bastante a prestação da casa própria. E eu vou citar um exemplo dado pelo economista Ricardo Amorin, durante palestra no Expert Talks, promovido pela XP Investimentos. Um financiamento de 30 anos de um apartamento no valor de R$ 200 mil, a uma taxa de 12% ao ano, resultava numa prestação mensal de R$ 2.500. Com o juro imobiliário hoje na casa de 7%, a prestação mensal cai para R$ 1.700, ou seja, uma redução de R$ 800 por mês.
No novo cenário, vender empresa deixa de ser interessante
E tem muito empresário que pensava em vender o seu negócio e voltou atrás depois de ouvir as palestras sobre as expectativas da economia brasileira e mundial para os próximos anos. Um empresário de Santa Catarina, por exemplo, do qual eu tive contato, já estava com a venda praticamente fechada da sua indústria por R$ 3 milhões.
No entanto, após fazer os cálculos de quanto este dinheiro aplicado no mercado financeiro renderia diante da queda dos juros, achou melhor ficar com o seu negócio e, inclusive, já pensa em ampliação.
Aliás, o maior exemplo de otimismo entre os empresários brasileiros é o do dono da Havan, Luciano Hang, que palestrou em Florianópolis vestido de “Capitão Brasil”. A roupa, segundo empresário, representa um super-herói que “defende o povo brasileiro”. Segundo ele, que palestrou ao lado do senador paranaense Oriovisto Guimarães, a Havan tem 22 mil colaboradores, sendo que só no mês de outubro gerou 4600 empregos e deve fechar o ano com 144 lojas e um faturamento de R$ 12 bilhões, ou um crescimento de 55% nos últimos 12 meses.
“Estamos trabalhando muito,
e acho que o ano que vem será muito melhor”, disse Hang durante sua apresentação
no painel “Os caminhos para o Brasil na visão de grandes empresários”.
Oriovisto Guimarães, que deixou o controle do Grupo Positivo em
2012, depois de 40 anos, afirmou aos participantes do evento da XP, que “depois
de tanto sofrer com a inflação, criamos cultura anti-inflacionária. Mas não
temos cultura de responsabilidade fiscal”, diz o senador. Não podemos gastar
mais do que arrecadamos”.
Fim do foro privilegiado e o impeachment de Gilmar Mendes

Oriovisto Guimarães disse aos participantes do Expert Talks, em Florianópolis, que o dia que acabar o foro privilegiado “ dá para fazer o impeachment do ministro Gilmar Mendes.”
Bastante crítico com relação à política brasileira, o senador paranaense afirmou que “cortando o foro privilegiado, o Brasil muda e o país se livra do Gilmar Mendes”.
O diretor da XP Rafael Furlanetti, que mediou a conversa entre Oriovisto Guimarães, Luciano Hang e o empresário Alexandre Ostraviecki, conclui que não se pode mais enxergar o Estado como um ente abstrato. “É preciso saber cortar o gasto quando necessário”, alerta.
200 mil pontos
O ponto alto do Expert Talks, em Florianópolis, foi quando os cinco mil participantes ficaram em pé durante palestra e gritaram 200 mil pontos para a bolsa brasileira em 2020. Na sexta-feira (22), por exemplo, o Ibovespa fechou em pouco mais de 108 mil pontos. Isso significa que a bolsa terá que subir 84% para atingir essa marca.
Eu conversei com o analista chefe da Rico Investimentos e diretor de Análise Técnica da XP Investimentos, Roberto Indech e ele me disse que os brasileiros devem começar a olhar com mais carinho para o mercado de renda variável. Hoje, diante dos juros, existem 5 milhões de CPFs que investem no Tesouro, contra apenas 1,5 milhão de pessoas físicas na bolsa. Segundo o analista, o primeiro passo para quem quer iniciar seus investimentos em bolsa é comprar ações de empresas conhecidas, que oferecem menor risco. O investidor também deve buscar ajuda de especialistas. Nesse sentido, as redes sociais hoje oferecem conteúdos positivos, mas é preciso filtrar e levar em consideração as diversas opiniões e daí tirar suas conclusões.
De acordo com Indech, o investimento em ações traz benefícios para a economia, pois quem compra papéis de uma empresa acredita que ela vai gerar resultados e isso fortalece o setor produtivo. “Quando se aplica recursos no mercado acionário está investindo em empresas. Já quando se investe em renda fixa o dinheiro vai para dois segmentos: crédito público ou privado”, explica.
Mirian Gasparin, participou do Expert Talks, em Florianópolis, a convite da XP Investimentos.