Em meio à pandemia, cabotagem segue com crescimento no Brasil
Não é de hoje que o potencial da cabotagem brasileira vem sendo percebido pelos players dos setores logístico e de transporte de cargas, dos mercados nacional e internacional, afinal, este é um segmento que apresenta resultados positivos no país há mais de uma década. É o que atesta o diretor do departamento de navegação e hidrovias da Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários (DNHI/SNPTA), Dino Batista.
“Temos conseguido números maiores do que dois dígitos no transporte de cargas via cabotagem no Brasil há mais de 10 anos e nossa perspectiva é conseguir expandi-lo ainda mais. Isso porque esse setor ainda tem muito a ser explorado, ainda tem muito potencial”, disse. Prova disso são os dados apresentados pelo Ministério da Infraestrutura recentemente, que, com base em um levantamento estatístico da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), mostram que o setor continua registrando crescimento constante mesmo em meio à pandemia.
Resultados
De acordo com a pesquisa, a crise causada pelo novo coronavírus não afetou a navegação de cabotagem, que apontou para uma alta de 11,3% na movimentação de cargas pelo modal entre janeiro e abril de 2020, em relação ao mesmo quadrimestre do ano anterior, transportando 60,8 milhões de toneladas no período.
Para Batista, inclusive, a expectativa é triplicar estes resultados daqui em diante com o Projeto BR do Mar, iniciativa do Governo Federal que visa alavancar o setor no país e já é considerado por muitos players do segmento como o maior programa de estímulo à cabotagem da história do mercado brasileiro.
Regulação
O objetivo é que, por meio do projeto, o setor de transporte de cargas ao longo da costa brasileira possa se desenvolver ainda mais, através de uma regulação específica, que proporcione o aumento da oferta e do incentivo à concorrência, além de criar mais rotas para o modal e de reduzir os custos desse tipo de navegação.
“Estou bastante otimista com esse projeto e acredito que teremos um bom desempenho do setor com ele, pois essa é uma verdadeira possibilidade de melhorarmos ainda mais algo em que já temos bons resultados no país. Com o Projeto BR do Mar, creio que poderemos chegar a um crescimento de 30% no setor nos próximos anos”, pontuou o diretor do DNHI/SNPTA, que participou de um webinar exclusivo sobre o setor nesta terça-feira (07).
Projeto BR do Mar
Promovido pela Informa Markets – organizadora da Intermodal South America, o maior evento da América Latina para os setores logístico, de transporte de cargas e de comércio exterior – o bate-papo abordou exatamente essa iniciativa. Sob o tema “Projeto BR do Mar: um avanço para a cabotagem. O que o setor espera da medida?”, especialistas comentaram quais são suas perspectivas quanto a isso.
Além de Batista, quem também marcou presença neste encontro online foi o diretor-presidente da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC), Cleber Lucas, que também se mostrou otimista quanto ao projeto, mas que, neste momento inicial, prefere olhá-lo com mais cautela.
“Nós acreditamos que temos condições e conhecimentos suficientes na sociedade para contribuir favoravelmente ao projeto. Temos boas expectativas quanto a ele. Porém, agora ele foi para a avaliação do Congresso Nacional, onde pode acabar sofrendo alterações que o façam carecer de um equilíbrio maior. E este é o desafio, fazer com que todos falem a mesma língua para que o resultado seja o melhor possível”, afirma Cleber Lucas.
Segundo Lucas, no entanto, esta não é a única adversidade no caminho. Para ele, o pleno desenvolvimento do setor no país vem esbarrando também em outros entraves, como o excesso de burocracia. “O grande percalço para expandir o mercado nacional, aumentar a competitividade e os números de players do setor é a grande burocracia que se tem por aqui. Isso afasta as empresas da cabotagem, inclusive as internacionais, e diminui a disposição delas para operar em um país como o Brasil”, alertou.
Porta a porta
Isso porque, de acordo com diretor-presidente da ABAC, quando se fala em uma cabotagem oferecendo o serviço porta a porta, por exemplo, se fala também em emissões de cerca de 35 documentos diferentes para a modalidade, mais dois ou três modais de interconexão, seja na coleta da carga ou na entrega.
“São vários pontos que precisam ser resolvidos. A questão é transformar o Brasil em um país fácil de ser operado, de se fazer negócios no setor. Essa é uma frente que ainda estamos engatinhando e o BR do Mar passa longe disso. Claro que pensar em um projeto que busque abrir afretamentos e atrair novos investidores é importante, mas este não é o único caminho a seguir quando se pensa em tornar o setor mais competitivo ou então em multimodalidade”, ressaltou.
Dino Batista concordou que a cabotagem ainda enfrenta bastante burocracia, mas disse que um dos objetivos do BR do Mar é sim atacar esse ponto. “O BR do Mar não é apenas um projeto de lei, ele é um programa que envolve várias questões e pontos de melhoria ao setor, uma delas é atacar essa frente de burocracia. No projeto de lei em si, por exemplo, tem um elemento de ordem prática nesse sentido que possibilita a consideração de imagens como comprovantes de entrega, atendendo aquela famosa reclamação dos canhotos, que demoram para chegar. Assim, já estaríamos permitindo mitigar esse problema. Mas esse é só um item na relação de documentos do modal. Sabemos que, realmente, o Brasil é um país difícil de ser operado nesse sentido”, conclui.