Rendimento domiciliar per capita dos brasileiros cai ao menor nível desde 2012

Rendimento domiciliar per capita dos brasileiros cai ao menor nível desde 2012

O rendimento médio mensal real domiciliar per capita em 2021 foi de R$ 1.353, o menor valor da série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012. Com isso, a massa do rendimento mensal real domiciliar per capita caiu 6,2% ante 2020, chegando a R$ 287,7 bilhões em 2021, seu segundo menor valor, desde 2012 (R$ 279,9 bilhões). As informações foram divulgadas nesta sexta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Esse resultado é explicado pela queda do rendimento médio do trabalho, que retraiu mesmo com o nível de ocupação começando a se recuperar, e também pela diminuição da renda das outras fontes, exceto as do aluguel”, ressalta Alessandra Scalioni, analista da pesquisa, apontando a mudança nos critérios de concessão do auxílio-emergencial ocorridas em 2021 como uma das principais causas da queda no rendimento de outras fontes.

Entre as regiões, o Nordeste segue com menor rendimento médio mensal domiciliar per capita (R$ 843). Já as regiões Sul e Sudeste se mantiveram com os maiores rendimentos (R$ 1.656 e R$ 1.645, respectivamente).

O percentual de pessoas com rendimento na população do país caiu de 61% em 2020 para 59,8% em 2021, o mesmo percentual de 2012 e o mais baixo da série. A queda desse indicador foi mais intensa no Norte do País.

Inflação diminui ganhos

O rendimento médio mensal real da população residente com rendimento foi o menor da série histórica nos seguintes tipos: todas as fontes de rendas (R$ 2.265), em outras fontes (R$ 1.348), em aposentadoria e pensão (R$1.959) e em outros rendimentos (R$ 512). Tais quedas podem ser explicadas, também, pela inflação.

De 2020 para 2021, apesar do aumento da população ocupada, a massa do rendimento mensal real de todos os trabalhos caiu 3,1%, indo de R$ 223,6 bilhões para R$ 216,7 bilhões no período.

Cresce beneficiários do Bolsa Família

De 2020 para 2021, o percentual de domicílios com alguém recebendo “Outros programas sociais”, categoria que inclui o auxílio-emergencial, caiu de 23,7% para 15,4%, enquanto a proporção de domicílios com beneficiários do Bolsa-Família aumentou de 7,2% para 8,6%.

A queda do rendimento mensal domiciliar per capita foi mais intensa entre as classes com menor rendimento.

Em 2021, o rendimento médio do 1% da população que ganha mais era 38,4 vezes maior que o rendimento médio dos 50% que ganham menos.

A desigualdade cresceu para o conjunto da população e ficou praticamente estável para a população ocupada: o Índice de Gini do rendimento domiciliar per capita aumentou de 0,524 para 0,544, enquanto o Gini do rendimento de todos os trabalhos variou de 0,500 para 0,499.

Dois dos cinco tipos de rendimento estão no nível mais baixo da série histórica

O módulo de rendimento da PNAD Contínua divulgou, ainda, que em 2021, dois tipos de rendimento chegaram ao menor valor médio mensal da série histórica: Aposentadoria e Pensão (R$1.959) e Outros rendimentos (R$ 512). Desta forma, o item “Outras fontes”, que engloba, além desses , Aluguel e arrendamento (R$ 1.814) e Pensão alimentícia, doação e mesada de não morador (R$ 667), teve média de R$ 1.348, também atingindo o valor mais baixo da série.

Essas quedas explicam o motivo do índice global, que mede a renda média mensal da população com rendimento considerando todas as fontes, também ter chegado ao menor valor da série histórica: R$ 2.665

Para a analista da pesquisa, a inflação ajuda a explicar essas quedas. “Os valores da aposentadoria acompanham o reajuste do salário-mínimo e grande parte dos aposentados ganha o piso. Como os reajustes não estão compensando a inflação, é natural essa perda de valor”, afirma Scalioni. Já o item outro rendimento também é explicado com as alterações nas concessões e nos valores do auxílio-emergencial.

Desigualdade cresce, exceto para o rendimento de todos os trabalhos

A pesquisa também mostra a desigualdade de renda no país em 2021. Após relativa estabilidade em 2019 (0,544) e queda em 2020 (0,524), o índice de Gini do rendimento médio mensal domiciliar por pessoa aumentou em 2021, voltando ao patamar de dois anos antes (0,544). Quanto maior o Gini, maior a desigualdade.

Entre 2020 e 2021, a desigualdade aumentou em todas as regiões, sobretudo no Norte e no Nordeste. Alessandra Scalioni explica: “São regiões onde o recebimento do auxílio-emergencial atingiu maior proporção de domicílios durante a pandemia de COVID-19 e que, por isso, podem ter sido mais afetadas com as mudanças no programa ocorridas em 2021”. A Região Nordeste se manteve com o maior índice de Gini em 2021 (0,556), enquanto a Região Sul apresentou o menor (0,462).

Já no que diz respeito apenas ao rendimento médio mensal de todos os trabalhos, o índice variou negativamente de 0,500 para 0,499. Esse resultado demonstra que o retorno de parte da população ocupada em 2021 reduziu a média de rendimento e não modificou o perfil da distribuição de renda do trabalho no país.

Quando a análise é na estratificação em classes de percentual das pessoas em ordem crescente de rendimento domiciliar por pessoa – ou seja, de quem menos recebe para quem mais recebe, a pesquisa mostra que aproximadamente metade da população com menores rendimentos recebeu, em média, R$ 415, uma queda de 15,1% em relação a 2020 (R$ 489), resultado no menor valor da série histórica.

Em 2021, a queda do rendimento mensal por pessoa foi disseminada entre as classes, porém, foi maior entre as faixas com menor rendimento. Entre os 5% de menor renda (R$ 39) caiu 33,9% e entre os de 5% a 10% (R$ 148) caiu 31,8%. Já entre o 1% com maior renda (R$ 15.940) caiu 6,4%.

Ou seja, em 2021, o 1% da população brasileira com renda mais alta teve rendimento 38,4 vezes maior que a média dos 50% com as menores remunerações.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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