Quase um quarto dos microempreendedores priorizam mais o valor da prestação do que juros cobrados

Quase um quarto dos microempreendedores priorizam mais o valor da prestação do que juros cobrados

Comportamento adotado na obtenção de empréstimos ignora melhores práticas de gestão financeira

Apesar dos constantes apelos para a realização de avaliações criteriosas sobre as vantagens e desvantagens presentes nas taxas de juros das linhas de crédito oferecidas pelo mercado, uma parcela significativa dos pequenos empreendedores brasileiros continua tendo como principal critério para assumir um financiamento a velha observação sobre o fato de a prestação caber ou não no bolso na hora de assinar o contrato. É o que demonstra um levantamento realizado pelo Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos (Ceape Brasil). De acordo com a pesquisa, realizada com 242 microeempreendedores, 23,1% dos entrevistados, ao realizar um empréstimo, afirmaram que o valor da prestação é o que mais pesa em sua decisão.

“Apesar de ser um problema sério, não nos surpreende que quase um quarto dos empreendedores priorize a prestação. Deixar de ver fatores como juros e prazo de financiamento é ainda uma questão cultural. O brasileiro se acostumou a pagar muitos juros e parece até não se importar com o valor final”, afirma Cláudia Cisneiros, diretora executiva do Ceape.

Além da questão cultural, ela cita como outros fatores que levam a este comportamento a falta de educação financeira, a dificuldade de o empreendedor obter empréstimo, que leva a que ele se submeta a juros mais elevados e ausência de planejamento financeiro. “Quando o empreendedor vai a uma instituição financeira, seja fintech ou bancos tradicionais se depara com muitos entraves para obter o empréstimo, pois, muitas vezes, ele não tem histórico de adimplência suficiente, comprovante de renda ou garantias suficientes que demonstrem ser capaz de cumprir com suas obrigações”, observa.

A proposta das fintechs de ampliar a oferta de crédito a aqueles que estão fora do mercado tradicional também se mostra insuficiente e arriscada. “Como instituição que busca fornecer microcrédito produtivo orientado, vemos que, muitas vezes, o empreendedor pega o valor com o intuito de quitar a dívida, mas não faz um planejamento adequado do uso dos recursos e, por este motivo, acaba se tornando inadimplente. O valor concedido precisa ser acompanhado de uma orientação que levará a pessoa a obter um retorno financeiro maior que os juros cobrados”, explica.

Uma experiência recente realizada pela Serasa Experian em parceria com o Sebrae, intitulada Projeto Impulsiona, mostrou que as pequenas empresas que implementam processos relacionados à gestão financeira em seu dia a dia, conseguem reduzir em até 58% seu nível de endividamento.  

De acordo com a Serasa, nos últimos 24 meses, 53% das PMEs utilizaram alguma forma de crédito, sendo as opções mais populares o empréstimo e a antecipação de recebíveis do cartão de crédito. A empresa informa que 35% dos empreendedores que participaram da pesquisa disseram que recorrem ao empréstimo uma vez ao ano. Já a antecipação de recebíveis do cartão de crédito apresenta, em geral, uma recorrência mensal (58%). Enquanto isso, segundo a organização, 47% das PMEs não utilizaram nenhuma modalidade de crédito disponível no mercado. No entanto, dessas 47%, quase metade delas, tem a intenção de solicitar.

Riscos de ignorar a taxa de juros

Ao deixar de verificar quanto de juros vai pagar pelo empréstimo, o empreendedor pode, ao invés de sanar o problema da falta de caixa, aprofundá-lo. “No desespero, muitos pegam empréstimos a custos elevados buscando sanar um problema momentâneo, porém esquecem que a prestação vai comprometer parte da receita futura por um bom tempo, o que pode gerar um efeito bola de neve, caso não consiga honrar com todos os compromissos nos meses seguintes”, alerta Cláudia.

Ela lembra que é justamente a ausência de visão de longo prazo que leva à inadimplência futura e à quebra de um negócio. “A constrição do caixa e a falta de fôlego para pagar as contas são os principais pontos que fazem com que a pessoa deixe o sonho de empreender para buscar emprego. Antes de pegar um valor que vá reduzir a renda líquida futura, é preciso analisar quais fatores levaram à necessidade de buscar o valor. Além disso, o empreendedor deve ter em mente o custo do dinheiro que ele buscou. Vale à pena?”, aconselha.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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