Venda de cimento pela indústria recua 3,5% no 1º trimestre

Venda de cimento pela indústria recua 3,5% no 1º trimestre

Chuvas intensas e menor número de dias úteis impactaram as vendas em março

A indústria brasileira de cimento registrou no primeiro trimestre a venda de 14,3 milhões de toneladas, o que representa um recuo de 3,5% em comparação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Em março, a queda foi ainda mais acentuada, de 10,6% frente ao mesmo mês de 2023, com 4,9 milhões de toneladas comercializadas do produto.

Na comparação por dia útil (melhor indicador que considera o número de dias trabalhados e que tem forte influência no consumo de cimento), as vendas do produto registraram em março 216,2 mil toneladas, uma queda de 1,6% em comparação a fevereiro e de 0,5% em relação a igual período de 2023. Assim, o resultado trimestral apresentou uma redução de 1,1% ante os três primeiros meses de 2023.

O período prolongado de chuvas intensas em diversas regiões do país somado ao menor período de dias úteis em 2024, impactou as vendas do produto. Além disso, os principais indutores do consumo de cimento continuam desacelerando em virtude da queda da renda da população e endividamento das famílias, que ainda segue próximo a 50% no limite da série histórica.

Nesse sentido, a confiança da construção1 caiu em março, influenciada pela dificuldade de acesso ao crédito e a falta de mão de obra. No entanto, o setor se manteve otimista em relação à demanda dos próximos meses, em especial o segmento de preparação de terrenos, que antecede o ciclo de produção. Assim como as empresas do segmento de Infraestrutura e Obras Residenciais, que chegaram ao fim do primeiro trimestre com os maiores índices de confiança.

A mesma percepção de otimismo é observada na venda de materiais de construção2, que segue em alta e no mercado imobiliário de baixa renda com a reformulação do programa Minha Casa, Minha Vida e da nova modalidade de financiamento habitacional aos empreendimentos.

A confiança do consumidor3 subiu pela primeira vez no ano em março, após duas quedas consecutivas. Apesar da melhora no mês, a dificuldade em alcançar níveis mais satisfatórios da confiança ainda está atrelada às limitações financeiras das famílias. Mesmo com a recuperação do mercado de trabalho, o salário dos trabalhadores ainda permanece numa recuperação lenta.

A agenda climática continua com extrema importância para o setor, que vem promovendo esforços significativos para reduzir o impacto gerado no meio ambiente. Essas ações tornam a indústria de cimento brasileira uma das referências mundiais entre os países com a menor emissão de CO2 por tonelada de cimento produzida no mundo.

O coprocessamento, atividade responsável pela transição energética substituindo o combustível fóssil por resíduo industrial, comercial, doméstico e biomassas, alcançou, em 2022, 30% de participação na matriz energética do setor, antecipando a meta prevista para 2025. Foram 3,035 milhões de toneladas de resíduos processados, sendo 2,856 milhões de toneladas de combustíveis alternativos e 179 mil toneladas de matérias-primas substitutas. Ao todo, a troca de combustíveis fósseis por alternativos contribuiu para que fossem evitadas cerca de 2,9 milhões de toneladas de CO2 no ano.

Ao final do ano passado, a indústria brasileira do cimento lançou também as bases do Roadmap Net Zero para acelerar a transição rumo a uma economia neutra em carbono. O setor, que internacionalmente foi o primeiro a firmar um compromisso de neutralidade climática em escala global, dentro do programa Race to Zero da ONU, agora avança na discussão de meios para alcançar a neutralidade climática no Brasil.

O posicionamento da indústria parte do Roadmap de Mitigação, lançado em 2019 e que apontava meios para reduzir a emissão de CO2 na produção de cimento, e amplia para o ciclo de vida do produto incorporando o concreto, a construção, a eletrificação, entre tantas outras ramificações, que permitam alcançar a neutralidade climática do setor até 2050.

Essa iniciativa vem no momento em que se discute no âmbito federal – com ativa participação da indústria do cimento – o estabelecimento de metas setoriais de descarbonização, com objetivos específicos para a indústria, e a implementação de um mercado de carbono para o país. A neutralidade de emissões exigirá não só o incondicional esforço e comprometimento da indústria do cimento, mas também a ampla participação e cooperação de importantes stakeholders, como agentes da construção, agências de fomento, entidades representativas, governos nos seus diferentes níveis e academia.

“O setor segue otimista com recuperação da demanda em 2024, a partir da redução da Selic, do controle de inflação e a retomada de obras de infraestrutura e habitação do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). Após registrar perdas de 3 milhões de toneladas nos anos de 2022 e 2023, a indústria brasileira do cimento mantém a projeção de crescimento de consumo do produto estimada em 2% para este ano, com um acréscimo aproximado de 1,2 milhão”

Paulo Camillo Penna – Presidente do SNIC

Perspectivas

O anúncio da retomada das contratações do Programa Minha Casa, Minha Vida para as famílias enquadradas na Faixa 1 (com renda mensal de até R$ 2.640), os investimentos dos estados em programas de habitação e a nova solução para financiamento imobiliário apresentada pelo governo, o FGTS Futuro, apontam uma perspectiva de melhora nas vendas de cimento para o segundo semestre.

No entanto, para avançar é necessário que haja uma efetiva retomada nos investimentos em infraestrutura. Apesar de o volume aportado pela iniciativa privada e pelo poder público no setor ter evoluído, ainda não é suficiente para superar os gargalos, principalmente em setores como o dos transportes e logística, que afetam a competitividade brasileira.

Nesse sentido, a indústria do cimento tem contribuído para a recuperação das principais rodovias das regiões Sul e do Centro-Oeste com o pavimento de concreto. Além de ser uma solução mais econômica e sustentável, apresenta uma longa durabilidade, que pode ultrapassar 30 anos, e consequentemente a redução dos custos com manutenção. As vantagens do sistema construtivo, incluem ainda a redução do consumo de combustível e pneus e diminuição do número de acidentes.

Na esfera federal, a maior expectativa se volta para a aprovação do Sistema Brasileiro de Comércio e Emissões e a regulamentação da Reforma Tributária. Questões como o tratamento específico para a construção civil, incorporação e a tributação do concreto, bem como precificação de carbono são preocupações centrais do setor.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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