Segundo pesquisa, Reforma Tributária provocará queda de 20,2% na arrecadação dos municípios mineradores

Segundo pesquisa, Reforma Tributária provocará queda de 20,2% na arrecadação dos municípios mineradores

Uma pesquisa encomendada pela Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (AMIG) constatou que a Reforma Tributária trará um prejuízo de até 20,2% na arrecadação dos municípios mineradores, caso seja aprovada como está. O estudo foi realizado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (IPEAD), ambos ligados à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A pesquisa intitulada “Mineração e Tributação – Uma avaliação da Reforma Tributária e dos impactos nos estados e municípios mineradores”, foi apresentada durante reunião convocada pela AMIG em Brasília, na última quarta-feira, que contou com a presença de prefeitos e gestores municipais, deputados federais e especialistas em tributação. O estudo faz uma avaliação detalhada da reforma com foco nos municípios mineradores filiados à AMIG com foco nas receitas fiscais. O ano de referência para a avaliação de impactos é 2022.

José Fernando Aparecido de Oliveira, presidente da AMIG e prefeito de Conceição do Mato Dentro – Crédito: Divulgação/AMIG

Durante a reunião em Brasília, que também contou com a presença do deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), integrante do Grupo de Trabalho da Emenda Constitucional (EC 132/2023), que trata da reforma, o presidente da AMIG, José Fernando Aparecido de Oliveira, ressaltou que há soluções, mas é preciso ação imediata. “Hoje, mesmo com todos os impactos, ainda vale a pena ser um município minerador devido às arrecadações. Mas, ficou claro que a reforma, como está proposta, além de manter a Lei Kandir, que traz severos prejuízos aos cofres públicos municipais e Estaduais, vai tirar ainda mais recursos com a mudança na distribuição do ICMS e ISS (agora suprimidos aos novos impostos) e na Compensação Financeira pela Exploração Mineral -CFEM, que é uma compensação por tudo que é tirado dos territórios minerados e que tem enriquecido ano após ano, década após década o lado “privado da mineração”, avalia.

A reforma também prevê a criação de um novo tributo, o Imposto Seletivo (IS) de 1%, que incidirá sobre a produção, comercialização ou importação de produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Outro fator crítico é que o IS poderá ser deduzido das bases da CFEM. “Pior, na outra ponta, o critério de distribuição do IS segue basicamente a regra populacional. Ou seja, as atividades que devem ser desestimuladas (e, que, certamente, geram impactos negativos significativos) terão o condão de gerar receita tributária que ficará concentrada na União, Estados e Municípios não impactados diretamente”, alerta Waldir Salvador, consultor de Relações Institucionais e Econômicas da AMIG.

O estudo realizado pela UFMG estima que o IS deverá gerar um aumento de R$ 1,53 bilhões por ano (apenas na cobrança da mineração do minério de ferro, gerando uma diminuição na mesma proporção da CFEM a ser recolhida. “Ou seja, os municípios que atualmente recebem 75% da CFEM (60% produtores e 15% afetados), passarão a receber menos de 1% do IS, devido à divisão desse imposto ser feito pelo critério populacional. Frise-se que os impactos negativos da mineração estão basicamente circunscritos às áreas mineradas e seu entorno”, explica.

Waldir enfatiza que os próximos passos sobre a reforma, que serão dados pelo governo federal e pelo Congresso, “precisam estar alinhados e atentos a essas questões urgentes das cidades que perfazem 4% do PIB nacional e 10% da balança de exportação brasileira.”

Propostas – A AMIG entregou ao deputado federal Reginaldo Lopes um ofício com as propostas da associação para reverter o retrocesso e o prejuízo orçamentário e financeiro para as cidades potencializadoras do PIB nacional. Entre os pontos apresentados está a correção da Lei Kandir ou a criação de um dispositivo legal que onere as exportações de bens minerais beneficiando, em médio e longo prazo, a siderurgia e a indústria de beneficiamento nacional.

Também foi sugerido a correção das distorções na distribuição do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços). O peso dado à concentração populacional para a divisão do imposto, embora possa parecer benéfica (uma vez que, de certa forma, estabelece um tendência de equilíbrio per capita), trará resultados desastrosos para o país, pois significará um verdadeiro desincentivo àqueles entes municipais que vêm desenvolvendo alternativas de diversificação e desenvolvimento econômico, especialmente os municípios que possuem modais industriais relevantes em sua economia (muitas vezes às custas de benefícios tributários e incentivos fiscais custeados, em última instância, pela comunidade local).

Waldir Salvador durante palestra em Brasília – Crédito: Divulgação/AMIG

Waldir Salvador pontua que desconsiderar a pujança econômica, materializada atualmente no Valor Adicionado Fiscal (VAF), será um dos maiores equívocos da Reforma Tributária. “Há
mais de três décadas a AMIG segue resistindo, com transparência, ética, respeito e equilíbrio, para alcançar crescimento sustentável na mineração brasileira. Não podemos punir os municípios que vem “fazendo o dever de casa”, criando ambiente para o desenvolvimento econômico local, especialmente para aqueles que se valem da utilização da riqueza geológica dos “nossos territórios”, e que, junto com esses benefícios trazem, também, desafios extras para a cidade, principalmente no que diz respeito às políticas públicas nas áreas da saúde, educação, saneamento, segurança pública, infraestrutura, habitação, assistência social, diversificação econômica, dentre outras”, enfatiza.

A associação também solicita que a distribuição do Imposto Seletivo, oriundo da tributação da atividade minerária, seja feita exclusivamente aos municípios mineradores e impactados pela mineração, sendo 50% municípios produtores e impactados, conforme critérios apurados pela Resolução 143/2023 da Agência Nacional de Mineração. É pedido, ainda, a inclusão do IS da base de cálculo da CFEM e a correção (realinhamento) na alíquota da CFEM para as operações voltadas ao mercado interno quanto externo, alinhada com o conceito da reforma tributária. “O objetivo é recuperar os impactos financeiros previstos para os municípios mineradores devido à modificação na distribuição das receitas de ICMS e ISS conforme indicado por estudo. Além disso, busca-se otimizar o ambiente econômico interno, promovendo o crescimento e o desenvolvimento da economia brasileira, em consonância ao programa de industrialização do país, conhecido como ‘Nova Indústria Brasileira’”, reitera.

Reginaldo Lopes se comprometeu a considerar os pleitos apresentados pela AMIG. “Na minha visão, com a reforma, vamos industrializar o Brasil. Nós vamos voltar a produzir valor agregado, aço, e isso vai ajudar a gerar mais riqueza, mais PIB e mais empregos na indústria, com maior remuneração. Vamos considerar tudo o que foi proposto pelos municípios mineradores e afetados, para que não sejam prejudicados e continuem a investir na diversificação econômica e no atendimento às demandas da população”, destaca.

Reginaldo Lopes – Crédito: Divulgação/AMIG

O deputado federal defende a importância de iniciar um debate no Brasil para ter uma alíquota da CFEM variável de acordo com o preço da commodities no mercado internacional. “Se tiver um aumento de preço e tornar o nosso minério e nossas riquezas minerais competitivas, a gente pode aumentar. Se não, permanece na alíquota que hoje cobramos. Então, nós podemos pensar em um modelo que, quando tiver ganho de mercado e aumento de lucratividade, esse lucro possa ser compartilhado com o povo. E quando tiver uma diminuição de competitividade, que estabeleça uma alíquota que torne o nosso minério competitivo no mercado internacional.”

O deputado federal Zé Silva (Solidariedade-MG), presidente da Frente Parlamentar da Mineração Sustentável, também esteve no evento. “A EC 132 precisa mudar a vida da população para melhor. Como mineiro, sei da realidade vivida nos municípios mineradores de Minas e do Brasil. O imposto precisa vir para melhorar a qualidade de vida, a saúde, a educação e, principalmente, garantir que a mineração não traga prejuízo nem ao meio ambiente nem à vida das pessoas. Estarei junto com a AMIG para mudar esta realidade”, defende.

O deputado federal Sávio (PL-MG), defende a importância de o IS ser destinado aos municípios mineradores. “O governo vem com uma proposta de Imposto Seletivo para minimizar os impactos do meio ambiente, mas, tira esse dinheiro do município onde ocorre a mineração e não devolve, afinal, o IS, além de onerar a CFEM, não vai chegar no município. A CFEM chega nestas cidades e ajuda a minimizar os danos causados, sendo investida na qualidade de vida das pessoas, em políticas públicas que possam ajudar na reparação do meio ambiente e para buscar alternativas de diversificar a economia, dado que a mineração dá uma safra só e vai chegar o momento que ela vai se exaurir. Se o município não se preparou, ele entra em colapso”, alerta.

O presidente da AMIG ressalta que os municípios mineradores e afetados vão continuar o diálogo com o Congresso Nacional para reverter este cenário. “Há 35 anos lutamos por uma mineração justa e sabemos que o minério não dá duas safras. E, neste sentido, é preciso pensar: qual legado a mineração está deixando para o Brasil? Neste momento, o ideal seria que os governos municipais estivessem concentrando seus esforços na sobrevida de seus territórios após a exaustão das jazidas, buscando acabar com a minerodependência, mas encontram-se aturdidos com uma reforma que vai reduzir severamente a receita dos municípios e prejudicar a vida dos cidadãos.”

Para compensar os danos na arrecadação de ICMS, a AMIG também sugere aumentar a alíquota da CFEM de 3,5% para 6,74%, o que quase dobraria a arrecadação. Na reunião em Brasília, o deputado Reginaldo Lopes rebateu a sugestão, afirmando que “a reforma prevê um “seguro receita” de até 5% do IBS e CBS (Contribuição Sobre Bens Serviços) por 50 anos, corrigido pelo IPCA, para compensar eventuais perdas”, disse.

A UFMG, através do Cedeplar, está fazendo alguns estudos complementares para considerar as compensações do seguro proposto pelo governo federal. A AMIG ressalta que, após esta análise, irá avaliar até quando o seguro irá compensar esses prejuízos. “Mas, não temos plena confiança de que o seguro será exercido, pois o governo federal, em outras situações, já deu inúmeras demonstrações de que ele não cumpre com o que promete, como é o caso da Lei Kandir, na qual existia um fundo de compensação constitucionalizado e que nunca foi cumprido. Isso arrastou os estados para uma dívida brutal, com prejuízos bilionários, a exemplo de Minas Gerais. Da mesma forma, o governo federal não cumpre o repasse dos 7% da CFEM para a Agência Nacional de Mineração custear a sua estruturação, o que também está previsto por lei”, enfatiza Waldir Salvador.

Ele ressalta que, no evento promovido pela AMIG, foi apresentado “o grande fardo que é ser um município minerador. Hoje, existe uma arrecadação muito razoável, mas se ela deixar de existir não compensará mais, pois os impactos trazidos pela atividade mineral são enormes. E agora, vamos confiar nesta nova promessa de seguro proposta pelo governo? Fica a reflexão”, alerta o consultor da AMIG.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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