Dólar rompe a marca de R$ 6,00 com a eleição de Trump

Dólar rompe a marca de R$ 6,00 com a eleição de Trump

Bolsa de Valores opera em baixa

A vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos reacendeu as incertezas no mercado internacional, com efeitos imediatos sobre o câmbio. O dólar ultrapassou nesta quarta-feira (6) a marca de R$ 6,00, pressionado por uma combinação de fatores políticos e econômicos que aumentam o risco e a volatilidade para o Brasil. O dólar comercial era cotado no final da manhã desta quarta-feira a R$ 5,88. O dólar turismo foi negociado a R$ 6,03. O índice Bovespa operava próximo ao meio dia com queda de 1,40%.

Em um contexto de incertezas sobre a reforma fiscal no país e de condições macroeconômicas desfavoráveis, a valorização da moeda americana reflete a complexidade do cenário atual e seus potenciais impactos na economia brasileira.

Confira a análise do professor de Ciências Econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Hugo Garbe.

O Impacto da Eleição de Trump e a Nova Ordem Geopolítica

Professor Hugo Garbe.

A eleição de Trump trouxe uma série de questionamentos sobre a futura política externa dos Estados Unidos. Em seu primeiro mandato, o republicano adotou uma postura isolacionista, rompendo acordos comerciais multilaterais e impondo tarifas a parceiros estratégicos. Agora, o mercado teme que o retorno de uma política comercial protecionista possa intensificar as tensões com economias emergentes, impactando diretamente países como o Brasil, que têm uma dependência significativa das exportações agrícolas e de commodities.

Além disso, a expectativa é de que Trump adote uma política monetária mais restritiva, incentivando a alta dos juros nos EUA para conter a inflação doméstica. Esse movimento torna os ativos americanos mais atraentes para investidores internacionais, o que provoca uma fuga de capitais de países emergentes, como o Brasil, elevando a cotação do dólar e pressionando o câmbio.

Incertezas fiscais e o cenário interno do Brasil

A questão fiscal tem sido um tema delicado para o Brasil, e a falta de consenso em torno de uma reforma que equilibre as contas públicas contribui para a perda de confiança dos investidores. A deterioração fiscal brasileira, marcada por déficits persistentes e um elevado endividamento, torna o país mais vulnerável a choques externos, como a valorização do dólar. Sem uma reforma fiscal estruturante, que garanta uma trajetória sustentável para a dívida pública, o Brasil continua a oferecer um perfil de risco elevado.

O aumento do dólar agrava ainda mais a situação fiscal, já que boa parte da dívida pública está atrelada ao câmbio. Com a alta da moeda americana, o custo de rolagem dessa dívida aumenta, reduzindo a capacidade do governo de investir em áreas prioritárias, como infraestrutura e programas sociais, e ampliando o risco de instabilidade financeira.

Condições macroeconômicas desfavoráveis e inflação

A combinação da alta do dólar e da pressão fiscal gera um ambiente de condições macroeconômicas desfavoráveis para o Brasil. O encarecimento da moeda americana afeta diretamente os preços internos, especialmente dos bens importados, pressionando a inflação. Itens essenciais como combustíveis, insumos industriais e alimentos sofrem reajustes constantes, impactando o poder de compra da população e o custo de produção das empresas.

Com a inflação elevada, o Banco Central é forçado a manter uma política monetária restritiva, elevando as taxas de juros para conter o aumento dos preços. Esse movimento, por sua vez, encarece o crédito e inibe o investimento, reduzindo o potencial de crescimento econômico e agravando o cenário de estagnação. Assim, o Brasil se vê em um ciclo desafiador, no qual a alta do dólar alimenta a inflação e exige juros elevados, limitando o crescimento econômico.

O que esperar do cenário internacional e seus reflexos no Brasil?

A eleição de Trump e as incertezas com a política econômica americana trazem um grau de imprevisibilidade que o mercado financeiro costuma penalizar. A volatilidade dos mercados emergentes tende a se intensificar, especialmente para aqueles, como o Brasil, que enfrentam desequilíbrios fiscais e dificuldades de crescimento. Em meio a esse cenário, o governo brasileiro enfrenta o desafio de acalmar os mercados, promovendo uma agenda de reformas e sinalizando compromisso com a responsabilidade fiscal.

Além disso, o fortalecimento do dólar frente ao real representa um obstáculo adicional para a recuperação econômica do Brasil. Com menos previsibilidade sobre o fluxo de capitais e um ambiente de crédito mais restrito, as empresas brasileiras enfrentam dificuldades para planejar e expandir seus negócios. Para setores exportadores, como o agronegócio, um dólar alto pode trazer ganhos de curto prazo, mas para o restante da economia, os impactos são, em sua maioria, negativos.

A superação desses desafios exigirá uma combinação de fatores internos e externos. Do lado interno, é imperativo que o governo avance com uma agenda de reformas estruturantes que garanta a sustentabilidade fiscal e aumente a competitividade da economia brasileira. No cenário externo, o Brasil deve buscar fortalecer suas relações comerciais e diversificar seus mercados, reduzindo a dependência de economias maiores, como a dos Estados Unidos, e explorando novas oportunidades em regiões como a Ásia e a Europa.

O dólar acima de R$ 6,00, impulsionado pela eleição de Trump e pelas condições econômicas adversas, serve como um alerta para a necessidade de uma política econômica mais sólida e previsível. Em um mundo globalizado, a capacidade de um país em responder a choques externos depende diretamente de sua estabilidade interna. Para o Brasil, o momento exige não apenas ajustes pontuais, mas uma visão estratégica de longo prazo capaz de construir uma economia resiliente, que possa enfrentar com mais segurança os desafios do cenário global.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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