Falta de gestão estratégica impede longevidade das empresas familiares

Falta de gestão estratégica impede longevidade das empresas familiares
Charles Mazutti, Eduardo Ribas, Bianca Scarpellini, Heloísa Garrett e José Pio Martins. Foto/Rubens Nemitz Jr

Lide Paraná reuniu especialistas em evento sobre sucessão familiar

As empresas familiares desempenham um papel crucial na economia brasileira. Só no Paraná, mais de 60% das companhias têm esse perfil, segundo o Sebrae, enquanto que no cenário nacional esse percentual chega a 90%. Apesar de sua relevância econômica, muitas enfrentam desafios para manter sua continuidade ao longo das gerações. Estudos indicam que 70% das empresas familiares não chegam à segunda geração, evidenciando a falta de uma gestão estratégica eficaz para assegurar a longevidade e o sucesso dessas organizações.

Por isso, o Lide Paraná promoveu um encontro na última quinta-feira (21) com empresas familiares e especialistas para tratar sobre os desafios da sucessão. Os palestrantes destacaram as principais estratégias para minimizar os efeitos adversos nas finanças e na gestão das empresas familiares e holdings.

“Investir em conhecimento, buscar suporte especializado e adotar estratégias inovadoras são ações essenciais para garantir a sobrevivência e o crescimento sustentável. O Lide Paraná, como parceiro estratégico de seus membros, busca sempre trazer conteúdos relevantes que possam ser utilizadas como ferramentas para impulsionar a economia paranaense, tão importante e diversificada”, afirma Heloísa Garrett, presidente do Lide Paraná.

Preservando legados

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) revelou que os conflitos familiares são a principal razão para a saída de sócios das empresas familiares, representando 42% dos casos. Esse dado reforça a importância da governança familiar, que desempenha um papel crucial na prevenção de tais conflitos.

Enquanto a governança de uma empresa familiar foca na administração do negócio, a governança de uma família empresária vai além. Ela busca ajudar a família a definir um direcionamento claro, fortalecer os laços familiares e, principalmente, preservar os legados que são transmitidos ao longo das gerações.

A governança familiar não se trata apenas de administrar o negócio, mas também de cuidar da união da família, de entender o que nos une e dos valores que queremos que se perpetuem. Não adianta cuidar apenas do negócio se não cuidamos das pessoas que vão dar direção a ele. A família empresária precisa de uma estrutura de governança que garanta união e continuidade”, pontuou Bianca Scarpellini, especialista em governança familiar e corporativa.

Importância de conhecer a empresa

O erro mais comum de muitos empresários que conquistam o sucesso é acreditar que podem fazer o que quiserem com suas empresas. No entanto, o verdadeiro desafio é fazer o que é necessário, respeitando a natureza do negócio. É o que afirma o professor e economista José Pio Martins. Para exemplificar, ele faz uma interessante analogia entre o empresário e o criador, a empresa a criatura, enfatizando a responsabilidade e o preparo necessários para gerenciar um negócio.

“Assim como alguém que adota um cão de grande porte, como um Rottweiler, precisa compreender sua genética, buscar treinamento e adestramento, o empresário deve entender as características e necessidades do seu negócio. A ‘genética’ de uma empresa envolve regras jurídicas, leis de mercado e processos específicos que precisam ser respeitados e bem gerenciados”, explicou.

Pio Martins também abordou a importância de estruturar o jurídico de uma empresa para que sua existência transcenda a vida biológica de seu criador. Segundo ele, a falta de planejamento pode levar empresas a fecharem ou serem vendidas, frequentemente para grupos de fora do Paraná, evidenciando a dificuldade de formar uma classe empresarial sólida e duradoura no estado. Além disso, há uma crítica ao complexo de inferioridade do Paraná em relação a outros estados, e ao impacto das mudanças de gestão após a venda, que frequentemente resultam em desgaste e transformações significativas nas empresas e em suas relações com a sociedade.

Impactos da reforma tributária

Frequentemente utilizadas para a gestão de bens familiares, sucessão patrimonial e otimização tributária, as holdings patrimoniais são ferramentas poderosas de administração. Com a reforma tributária, essas estruturas enfrentam novos desafios em função das alterações propostas, que podem comprometer parte das vantagens fiscais tradicionalmente associadas a elas.

Para falar sobre esse tema, o LIDE Paraná convidou os advogados Charles Mazutti e Eduardo Ribas, da Mazutti Ribas Stern Sociedade de Advogados. Segundo eles, os principais desafios da reforma são o aumento da carga tributária, possível reforma do imposto de renda e aumento da alíquota do ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações).

“Um dos maiores desafios enfrentados por empresas e famílias é conciliar os efeitos sucessórios e tributários nos planejamentos patrimoniais já realizados. A reforma tributária e a introdução do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) exigirão uma revisão dos modelos de planejamento, para garantir que os objetivos sucessórios e as obrigações tributárias estejam alinhados com as novas exigências fiscais”, explicou Eduardo Ribas.

Além das reformas tributárias, outro impacto relevante para os planejamentos sucessórios é o aumento da alíquota do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), que poderá chegar a 8%. Esse aumento tornará as doações e sucessões ainda mais onerosas, exigindo ajustes nos modelos de transferência de patrimônio.

“Estamos vivendo um momento de transformação que exige atenção redobrada por parte de empresários e famílias empresárias. As alterações propostas pela reforma tributária impactam diretamente os modelos de planejamento sucessório e patrimonial, desafiando as estruturas que foram eficazes até agora. A chave para superar esses desafios é a proatividade: revisar estratégias, buscar soluções criativas e estar sempre bem informado sobre as mudanças legais. Nosso papel como especialistas é guiar nossos clientes nesse processo, garantindo que continuem protegendo seu patrimônio e seus legados, mesmo diante de um cenário tão dinâmico e desafiador.”, destacou Charles Mazutti.

Mais do que nunca, preservar legados e fortalecer as bases das empresas familiares é essencial para impulsionar o desenvolvimento econômico e social do estado. O Lide Paraná reafirma seu compromisso em ser um aliado estratégico, promovendo discussões relevantes e oferecendo conteúdo de alto valor para seus associados. Juntos, podemos construir um Paraná ainda mais forte e próspero.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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