Dólar continua subindo e é cotado a R$ 6,18
Pela manhã, moeda norte-americana apresentava alta de 1,55%
O dólar comercial está cotado com forte alta em relação ao real nesta terça-feira (17), ampliando os fortes ganhos da véspera. O motivo é o receio do mercado sobre o cenário fiscal mais uma vez se sobrepondo ao impulso positivo de um leilão de dólares à vista realizado pelo Banco Central, enquanto investidores ainda digerem a ata da mais recente reunião do Copom.
Pouco antes do meio dia, o dólar foi cotado a R$ 6,18, uma alta de 1,55% em relação ao fechamento do dia anterior.
Na avaliação do economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, a resistência do câmbio em voltar para baixo dos R$ 6,00 reflete a deterioração nas expectativas com relação à economia brasileira após os anúncios dos ajustes nas despesas e propostas de reforma no IR. Isto fica claro nas últimas edições do Boletim Focus que apresentam revisões expressivas nos principais indicadores.
“Apesar de termos mais crescimento do PIB que se aproxima dos 3,5% em 2024 (mas desacelera para 2% no próximo ano), revisões sinalizando visões negativas para o cenário são evidentes. O IPCA encostou em 5% no final de 2024 e ultrapassou o limite superior do intervalo em torno da meta de inflação no ano que vem. As projeções de câmbio também mudaram e agora estão mais próximas dos R$ 6,00 para os próximos anos. Finalmente, o mercado espera que a Selic alcance 14% em 2025 e permaneça acima dos dois dígitos nos anos seguintes”, destaca o economista.
Na avaliação de Igliori, a decepção com as medidas do executivo transferiram boa parte do calor para o Congresso e para o Banco Central. Mas mesmo com a postura dura revelada na decisão e comunicado do Copom na semana passada, o mercado permanece desconfiado com o que pode acontecer com a política fiscal nos últimos dois anos do atual governo. Estamos chegando ao final de 2024 revisitando temas delicados para a macroeconomia no Brasil, com questionamentos acerca do poder da política monetária em derrubar a inflação e especulações sobre os risco de entrarmos em dominância fiscal.
Embora acredite que ainda seja prematuro para conclusões desta natureza, todo cuidado é pouco. No momento em que deveríamos estar comemorando os bons números da atividade, o que de fato domina a visão de analistas e agentes econômicos é a preocupação com as consequências de não termos uma postura mais enfática frente à dinâmica da dívida pública. Os movimentos recentes no mercado de câmbio e nas negociações de títulos públicos são a melhor síntese deste sentimento”, diz Igliori.
Frente a todo o estresse observado nos movimentos dos mercados e à rápida deterioração nas expectativas de agentes econômicos, não resta muita alternativa ao governo a não ser uma mudança substantiva de postura frente aos nossos problemas fiscais, que inclua abordagem mais enfática de controle da dinâmica da dívida pública. Mais do que isso, o executivo precisará mostrar todo empenho para conduzir as discussões e negociar a aprovação de medidas junto ao congresso nacional. De outro modo, o risco de nos aproximarmos de um cenário parecido com os anos de 2015/2016 poderá se elevar, conclui o economista da Nomad.