Setor industrial bate recorde de recuperações judiciais no 1º trimestre

Consultoria mapeia 1.105 empresas nessa situação. Esse é o maior volume desde o início da série histórica
A indústria foi o setor com maior número de empresas em recuperação judicial no Brasil no primeiro trimestre deste ano, segundo levantamento da consultoria RGF & Associados, responsável pelo Monitor RGF de Recuperações Judiciais. Das 4.881 companhias em processo de reestruturação no período, 1.112 eram do setor fabril — com predominância de empresas ligadas ao agronegócio, como usinas sucroalcooleiras, laticínios e frigoríficos.
No relatório do 1º trimestre de 2025, a consultoria inova ao apresentar os dados segmentados em cinco pilares econômicos: indústria, serviços, comércio, infraestrutura/energia/saneamento e agropecuária.
“Buscamos sempre refinar os dados de forma que possamos entender em detalhe os movimentos das empresas brasileiras em dificuldade e, assim, gerar diagnósticos mais precisos e soluções mais eficazes”, comenta Roberta Gonzaga, consultora da RGF e especialista em reestruturação.
Após a indústria, o setor de serviços lidera os pedidos de recuperação judicial (1.105), seguido por comércio (996), infraestrutura, energia e saneamento (992), agropecuária (341) e outros setores (335).
Os dados complementares — como recortes por região, estado e situação atual das empresas que já utilizaram a Lei de Recuperação Judicial — continuam disponíveis no site do Monitor RGF. Neste trimestre, os indicadores reforçaram, mais uma vez, a eficácia da legislação como instrumento de reestruturação.
Relevância da recuperação judicial como instrumento de reorganização
80% das empresas que encerraram seus processos de recuperação judicial no 1º trimestre de 2025 retornaram à operação ativa – um índice que reforça a função da recuperação como instrumento legítimo de superação de crise
- RETORNO À OPERAÇÃO: Das 203 empresas que saíram do processo de recuperação judicial, ao longo do 1º trimestre deste ano, 80% retornaram a operar sem a supervisão judicial.
- INATIVIDADE: 2% tiveram seu registro baixado/encerrado ou foram classificadas como inaptas ou suspensas por possuírem pendências (e por isso seu registro deixa de estar ativo), situação que pode ser revertida com a resolução das irregularidades.
- FALÊNCIA: 18% foram apontadas como falidas.
- Se somarmos as saídas por estado este número passa para 208 em função de alterações cadastrais, aumentando o número absoluto de empresas em recuperação em alguns estados e diminuindo em outros.
“Apesar do crescimento do número de casos, a recuperação judicial segue demonstrando ser uma ferramenta eficaz para reorganização de empresas viáveis. O problema maior é que muitas vezes a empresa chega tarde demais ao processo, com problemas tão avançados que inviabilizam a recuperação”, destaca Gallegos.
QUANTIDADE DE EMPRESAS EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL POR PILAR
Para os analistas da RGF, além das elevadas taxas de juros, problemas de gestão têm impactado fortemente determinados setores — em especial, o agroindustrial. Por outro lado, a consultoria observa um crescimento expressivo no mercado de investimentos em empresas em recuperação, impulsionado pelo modelo DIP (Debtor-in-Possession). Esse modelo de financiamento ao devedor em recuperação judicial tem se destacado por oferecer garantias jurídicas sólidas, atraindo cada vez mais fundos e instituições financeiras.
A expectativa da RGF é que o número de reestruturações continue a crescer ao longo de 2025, refletindo a desaceleração da economia e os desafios enfrentados por setores intensivos em capital.