Universidades diversificam crédito contra incerteza e medo do desemprego
A incerteza sobre o futuro da economia e o medo do desemprego são hoje as maiores influências na tomada de decisão das pessoas, inclusive quando se trata de investir no Ensino Superior. A avaliação é do pró-reitor acadêmico da Universidade Positivo (UP), Carlos Longo, que enxerga mudanças no comportamento dos estudantes em 2016, principalmente os da classe C, e observa que as instituições privadas de ensino devem se preparar para garantir crédito e conter a evasão.
Bastante afetados pela crise e com a menor oferta do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), os estudantes de menor renda buscam alternativas para enfrentar as mensalidades. Eles também voltam a se interessar mais pela Educação a Distância (EAD), que tem custo menor que a presencial. Isso pode mudar a tendência verificada entre 2010 e 2015, quando a emergência da chamada “nova classe média” havia feito dobrar a taxa de crescimento do ensino presencial, ao mesmo tempo em que diminuiu a da EAD.
Longo afirma que as instituições privadas de ensino já conseguem fornecer alternativas de pagamento para garantir que o estudante continue sua formação. O impacto da redução drástica do Fies, no começo do ano, foi superado. “Uma parcela dos estudantes usava o Fies mais pela facilidade que pela necessidade. Não havendo critério de renda para a seleção e com uma taxa de juros de apenas 3,4% ao ano, adiar o pagamento da faculdade era muito mais vantajoso que qualquer investimento. Por isso, muita gente que podia pagar a escola privada também acabava usando o Fies”, justifica.
Esse público, em grande parte, assumiu as mensalidades dos cursos, quando o governo restringiu o acesso e o volume do crédito público repassado pelo programa. Mas para outra parcela, que ficou de fora do financiamento federal e corre o risco de ficar fora da sala de aula, as universidades montaram estratégias próprias de financiamento. “A incerteza só gera especulação e nós vivemos hoje um clima de pessimismo, em que se antecipam as dificuldades. Temos que mostrar para o aluno que estamos preparados para que ele não deixe de estudar, para que continue investindo na carreira. A crise gera oportunidade e a crise vai acabar”, defende Longo.
Na UP, uma das alternativas de pagamento ajuda o aluno a enfrentar a preocupação com a perda do emprego. O medo do desemprego, especialmente entre os estudantes do período noturno, que compõem a renda familiar ou respondem sozinhos pelas mensalidades, tem sido até mais decisivo na retração das matrículas do que o corte na oferta do Fies ou a disparada da inflação e a alta dos juros, observa o pró-reitor Carlos Longo. O Programa Proteção Desemprego, para quem for demitido sem justa causa em 2016, permite o adiamento de até seis mensalidades consecutivas, para pagamento no fim do curso. Há algumas condições, entre elas a de comprovar vínculo empregatício de no mínimo 12 meses ininterruptos, com a mesma empresa, e o programa inclui apoio e orientação para recolocação profissional.
O PraValer, maior programa de crédito estudantil privado do Brasil, da companhia Ideal Invest, também está disponível. O aluno paga um pouco mais da metade das mensalidades por mês durante o curso, com duas vezes e meia do tempo do curso para a quitação total. Com taxa de juros inicial e decrescente de 2,19% ao mês, ele atende cursos presenciais, EAD, pós-graduação, MBA, mestrado, doutorado ou cursos técnicos.
Por meio do Financiamento Interno Rotativo (FIR), a universidade também oferece financiamento a 250 estudantes com insuficiência financeira. Durante o curso, eles financiam até 43% das mensalidades do primeiro ano de contrato e até 35% a partir do segundo. Já os aprovados no vestibular, podem parcelar a matrícula em três vezes sem juros no cartão de crédito. No começo do mês, a UP promoveu a “semana de soluções financeiras”, durante a qual orientou os alunos sobre as opções de financiamentos, formas de negociação e a participação no programa público do Prouni – Programa Universidade para Todos, do Governo Federal, que concede bolsas estudantis para alunos que atendam ao perfil socioeconômico estabelecido pelo programa, com seleção pela nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Todas as modalidades estão publicadas no site da universidade.
Na média nacional, as matrículas do segundo semestre deste ano sofreram uma queda de quase 30% nas instituições em que prevalece o regime semestral, segundo estudo do Sindicato das Entidades Mantenedoras do Ensino Superior (Semesp). Também cresceu a inadimplência. A Serasa Experian registrou um incremento de 22%, quando se compara o primeiro semestre de 2015 com o mesmo período de 2014.
“De 2004 a 2014, as matrículas das escolas privadas do Paraná cresceram 28% na educação básica e aproximadamente 39% na educação superior presencial. No entanto, estatísticas preliminares indicam que, em 2015, a curva apresentou o seu ponto de inflexão. Desemprego, dívidas e perda do poder aquisitivo impactarão negativamente as matrículas em 2016”, alertou nesta semana, em Curitiba, o presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe), Jacir Venturi. “Quem não estiver preparado, não vai aguentar”, ressaltou.