
A Capital Research lançou recentemente um relatório em que analisa os custos pagos pelo investidor na indústria de fundos de investimentos. O assunto ganhou destaque no exterior nos últimos anos, puxado pelo crescimento de estratégias de gestão passiva por meio dos fundos de índices (ETFs). Rafael Amaral, analista da casa de análises especializado em fundos de investimentos, afirma, no entanto, que essa discussão chegou no Brasil, mas, “evolui a passos de tartaruga”.
“Atualmente, a redução das taxas de administração nos fundos acontece de forma extremamente lenta no País. Isso faz com que os investidores brasileiros continuem pagando taxas altíssimas quando comparadas a outros mercados”, avalia Amaral, que ressalta que este movimento pode ser explicado pelo fato de muitos investidores permanecerem em fundos com taxas extremamente altas, que não condizem com a estratégia do ativo. Assim, como consequência, os gestores não diminuem seus preços por possuírem demanda para seus produtos de valores elevados.
Razões para ficar onde está
O material da Capital Research explica que existem muitas razões para que investidores continuem em fundos com altas taxas e baixas performances, como o fato de a oferta de investimentos ser abundante e não haver ferramentas simples de comparação e análises para esse público no mercado.
“Para se ter uma ideia da complexidade de escolher um fundo pelo investidor, existem, hoje, mais de 16.300 registrados na Anbima e classificados em uma das mais de 50 categorias disponíveis”, comenta o especialista.
Para a casa de análises, o ideal para evitar a escolha de “fundos terríveis” é levar em consideração as três “regras de ouro” sugeridas pelo pesquisador financeiro Mark Carhart em 1997: (i) evitar fundos com desempenho persistentemente ruim; (ii) levar em conta que fundos com altos retornos no ano passado têm retornos esperados acima da média no próximo ano, mas não nos anos seguintes e (iii) saber que os custos dos fundos têm um impacto direto e negativo em seu desempenho.
Para ajudar os investidores, a casa selecionou fundos destinados à reserva de emergência das gestoras dos cinco principais bancos do país: Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa e Santander. Eles, concomitantemente, gerem mais de 80% do patrimônio total de investidores de varejo, de acordo com ranking da Anbima de fevereiro, mas oferecem retornos baixos até se comparados ao CDI.
Confira abaixo:
BB Renda Fixa Referenciado DI Ágil FIC FI – 00.756.851/0001−69
“Com uma péssima performance e uma altíssima taxa de administração, este é um exemplo dos muitos que existem na indústria de fundos do Brasil que ratificam o problema da educação financeira no País”, ressalta Amaral. Com mais de R$ 14 bilhões de patrimônio líquido e mais de 437 mil cotistas, dentre sua maioria investidores pessoa física do varejo, o fundo possui uma taxa de administração de 2,00% ao ano e vem entregando consistentemente uma performance bem abaixo do CDI. O fundo teve um retorno de aproximadamente 53% do CDI nos últimos três meses e, quando comparamos os últimos 12 meses, a gestora entregou apenas 63%.
Itaú Renda Fixa Referenciado DI Super FIC FI – 03.182.559/0001−78
Nos últimos três e 12 meses, o fundo entregou apenas 42% e 54% do CDI, respectivamente. “Atualmente com mais de R$ 1 bilhão de patrimônio líquido e mais de 17 mil cotistas, o Itaú Renda Fixa Referenciado DI Super é um dos diversos fundos do banco com uma performance consistentemente ruim e com uma elevada taxa de administração: 2,50% ao ano”, comenta o analista.
Bradesco FIC FI Renda Fixa Simples Brilhante – 04.237.578/0001−17
Com mais de 56 mil cotistas e R$ 1,2 bilhão de patrimônio líquido, o Bradesco FIC FI RF Simples Brilhante possui uma taxa de administração de 2,50% e teve retorno de 39% do CDI nos últimos três meses e, quando comparamos os últimos 12 meses, a gestora entregou só 26% do CDI.
Caixa FIC FI Giro Imediato Renda Fixa Referenciado DI LP – 17.502.869/0001−37
Com um desempenho consistentemente ruim e com uma taxa de administração de 1,50% ao ano, o fundo possui mais de R$ 5 bilhões de patrimônio líquido e 215 mil cotistas. O Caixa FIC FI Giro Imediato Renda Fixa Referenciado DI LP entregou 72% do CDI nos últimos 12 meses e somente 64% do CDI quando comparamos os retornos dos últimos três meses.
Santander FIC FI Classic Renda Fixa Referenciado DI – 03.235.471/0001−77
“Com uma taxa de administração de 2,70% ao ano e uma péssima performance desde sua constituição, o fundo possui mais de 50 mil cotistas e R$ 337 milhões de patrimônio líquido”, afirma o analista. O fundo retornou apenas 39% do CDI nos últimos três meses e 26% do CDI nos últimos 12 meses.
“Com esse novo cenário econômico brasileiro, com a menor taxa de juros de sua história, desde quando o Banco Central adotou o regime de metas de inflação, as já altíssimas taxas de administração cobradas pelos fundos irão pesar ainda mais nas rentabilidades”, alerta o especialista.