Pesquisa mostra que consumidores do mundo inteiro estão mais desconfiados

Pesquisa mostra que consumidores do mundo inteiro estão mais desconfiados

Em seu 12º ano, o estudo que analisa o valor das marcas, conduzido pelo Grupo Havas, um dos maiores conglomerados globais de comunicação, revela profunda desconfiança dos consumidores no mundo inteiro, além de expectativas cada vez mais distantes da realidade em seus relacionamentos com as empresas.

A pesquisa Meaningful Brands 2021 ouviu mais de 395 mil pessoas, analisando mais de 2 mil marcas, e mostra uma tendência – de longo prazo – na forma dos consumidores buscarem autenticidade, atitudes significativas e sustentáveis para o bem da sociedade e do planeta. Mas também uma profunda decepção com promessas vazias. Pela primeira vez, o projeto mapeou suas métricas exclusivas em alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, visando ajudar marcas a oferecer transparência e tangibilidade para o futuro.

Desde o início da iniciativa, em 2009, com publicações a cada dois anos, o grau de importância e relevância das marcas tem diminuído consistentemente. O estudo de 2021, que mede esse “meaningfulness” em termos funcionais, pessoais e coletivos, mostra que 75% das marcas poderiam desaparecer de um dia para o outro e a maioria das pessoas não se importaria ou facilmente encontraria uma substituição. No Brasil, onde 23 mil pessoas foram ouvidas e 140 marcas analisadas, esse dado ficou em 70%.

A pesquisa de 2021, realizada no terceiro trimestre de 2020, no auge da pandemia, mostra um crescente receio, intitulado de “A Era da Desconfiança”71% das pessoas duvidam que as promessas de marcas serão cumpridas, sendo esse número em terras brasileiras 70%. E o que é pior, menos da metade das marcas são consideradas confiáveis: 47%, o que significa o menor nível em registro em diversas regiões do mundo – na América do Norte, apenas 39% das marcas são consideradas confiáveis, enquanto no Leste Asiático esse percentual fica em 24%.

As marcas na América Latina detêm 67% de confiança. Os números, em comparação ao estudo anterior, de 2019, refletem o panorama cultural caótico de 2020, que impactou drasticamente as prioridades e o comportamento dos consumidores diante da pandemia, dos atritos políticos, das demandas sociais e da desinformação.

Marcas devem agir para o bem da sociedade

Contudo, apesar do aumento da desconfiança, as expectativas em relação às marcas são as maiores já vistas, o que gera um alerta uma vez que, quanto mais as marcas garantirem mudanças em nível coletivo e social e não cumprirem, maior será a distância entre expectativa e realidade. Para se ter uma ideia, entre as pessoas entrevistadas ao redor do mundo, 73% acreditam que as marcas devem agir agora para o bem da sociedade e do planeta e 64% entraram em sua própria era de atitude, preferindo comprar de empresas que visam propósito, além de lucro – um aumento de 10 pontos percentuais desde 2019.

Esses números no Brasil ficaram em 79% e 77%, respectivamente, ou seja, há uma expectativa ainda maior por aqui. Além disso, mais da metade (53%) dos entrevistados no mundo vai um passo além, revelando disposição para pagar mais por uma marca que se posiciona – os brasileiros também pagariam mais (63%).

“No Brasil, as expectativas dos consumidores são ainda mais latentes dada a falta de confiança nas instituições. Enquanto os países mais desenvolvidos economicamente são mais céticos, ainda há aqui um elo emocional com as marcas. Isso explica a dicotomia: de um lado uma desconfiança e ceticismo pelas promessas vazias, do outro um desejo e quase uma esperança de que elas ajudem a melhorar a vida dos consumidores e agreguem para a sociedade”, analisa Agatha Kim, vice-presidente de estratégia da agência brasileira BETC HAVAS, que faz parte do Grupo Havas.

Benefícios coletivos

A análise de benefícios coletivos do Meaningful Brands ainda investigou áreas que requerem posicionamento autêntico por parte das marcas, ao questionar os entrevistados ambientes em que eles identificam situações de crise: saúde pública (78% no mundo e 86% no Brasil), economia (77% no mundo e 85% no Brasil) e política (72% no mundo e 84% no Brasil) estão no topo das preocupações dos consumidores. O meio ambiente (72% no mundo e 77% no Brasil) vem logo atrás. Globalmente, os consumidores esperam cada vez mais que as marcas fortaleçam esse pilar coletivo, mas isso acarreta um risco relevante: fazer promessas e não cumprir de forma tangível pode provocar déficit de confiança e acusações de uma nova forma de “washing” (apropriação injustificada de virtudes) das iniciativas de responsabilidade social corporativa, afetando a reputação a ponto de ser dificilmente recuperada.

“Entendemos o Meaningful Brands como um alerta e também um guia de oportunidades. A maior parte das marcas ainda continua focada na entrega funcional, mas a pesquisa deixa claro que isso não basta. Fazer a diferença na vida dos consumidores em todos os níveis, incluindo os atributos pessoais e coletivos, devem ser prioridade na agenda”, destaca Agatha Kim.

De acordo com o estudo, as categorias “meaningfulness” globalmente são, nessa ordem: cuidado doméstico; alimentação; eletrônicos; vestuário; e varejo. Já entre as 10 marcas mais significativas em 2021*, considerando a metodologia Meaningful Brands, estão: Google, PayPal, WhatsApp, Youtube, Samsung, Microsoft, Walmart, Cadbury, Visa e IKEA.

Oportunidades para as  marcas 

1.   Experiências mais significativas

66% dos entrevistados desejam que as marcas proporcionem experiências com mais significado. No Brasil esse dado salta para 79%. A pesquisa também concluiu que o valor das marcas de varejo, entretenimento em casa e tecnologia evoluiu aos olhos dos consumidores durante a pandemia. Isso provavelmente aconteceu porque as pessoas buscaram entrega rápida e acessível de alimentos e outros itens essenciais, e tiveram envolvimento constante com conteúdo através de diferentes eletrônicos durante o tempo em que ficaram em casa.

2. Ajuda em períodos de crise

77% dos consumidores esperam que as marcas apoiem as pessoas em tempos de crise. No Brasil, existem oportunidades imediatas para estabelecer conexões significativas no curto prazo com pelo menos 79% dos entrevistados, se tratando de benefícios pessoais, ou seja, diminuir fatores de estresse. No entanto, 2020 trouxe um aumento também das expectativas em três áreas específicas: mais conexão, mais cuidado com o planeta, mais meios de economizar e aumentar renda.

3. Geração Z espera inclusão

A Geração Z não tem medo de questionar “regras”, busca individualidade e espera inclusão. Essa geração está particularmente focada na redução das desigualdades (em áreas como raça, sexualidade e oportunidades) e sente maior admiração por marcas que assumem a liderança em questões sociais e acolhem a diversidade.

4. Demanda por conteúdo útil

Em comparação com a época pré-Covid, o interesse por conteúdo “útil” aumenta à medida que os consumidores vão entendendo como viver em seu “novo normal” particular. No entanto, quase metade (48%) de todo o conteúdo fornecido pelas marcas é considerado pouco relevante pelos consumidores. No Brasil, 37% consideram o conteúdo de marcas não significativo.

Metodologia

O estudo Meaningful Brands do Grupo Havas acontece há 12 anos e sonda quase 400 mil pessoas em todo o mundo, sendo o primeiro e único a conectar marcas com o bem-estar humano. A pesquisa vai além de produtos e serviços, investigando como as marcas melhoram tangivelmente a vida das pessoas e o papel que desempenham na sociedade. Sua metodologia examina três pilares do impacto das marcas: seus benefícios funcionais (benefícios racionais focados em funcionalidade do produto, atendimento ao cliente, interatividade e tecnologia); pessoais (mensagens e comportamentos que conectam individualmente e atendem necessidade ou desejo pessoal específico); e coletivos (iniciativas, comportamentos e ações de empresas que respondem e conectam no nível sociocultural). Uma marca significativa precisa demonstrar bom desempenho em todas as três métricas.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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