Fintechs de antecipação de recebíveis podem salvar pequenas e médias empresas?

Fintechs de antecipação de recebíveis podem salvar pequenas e médias empresas?

Com a redução do poder de compra do consumidor, os pagamentos a prazo se tornaram ainda mais frequentes. Se por um lado este processo aproxima a disponibilidade financeira dos clientes à empresas, que conseguem vender mais, por outro o empresário se vê sem caixa para quitar dívidas, pagar funcionários dentre outros compromissos.

Mesmo que programas de auxílio voltados para pequenas empresas tenham segurado o caixa de alguns empreendedores (principalmente durante a pandemia), ainda existe um cenário de incertezas, dívidas, impostos, inadimplência, altíssimas taxas de juros e um mercado extremamente inseguro. Afinal, como as Micro Pequenas e Médias Empresas (MPMEs) irão conseguir passar por toda essa turbulência sem ver o seu fluxo de caixa se esvair?

Talvez a antecipação de recebíveis seja uma solução viável. Mas do que se trata?

A grosso modo, a antecipação de um recebível se trata de receber o valor total de uma compra feita a prazo. Quem explica melhor esse processo é Carlos Oliveira, coordenador de GT de Recebíveis da ABFintechs que afirma que o crescimento desse mercado tende a redesenhar como o comerciante poderá usar esse “adicional de liquidez” a custos bem reduzidos.

Segundo Oliveira, “O cenário que vimos antes, em que o lojista pagava caro para poder receber mais cedo o dinheiro preso (em média de 30 até 35 dias) pela credenciadora está para mudar.  O MPME irá receber um adiantamento das vendas feitas nas maquininhas de cartão com desconto do valor cada vez menor, antecipando o valor total da compra e desta forma, mantendo o fluxo de caixa positivo”, afirma.

Carlos diz que outro ponto interessante dos recebíveis é a diferença deles para uma linha de crédito tradicional. “As fintechs digitalizaram a antecipação de recebíveis, barateando muito os custos de transação e sem tanta burocracia”. Além disso, existe outra característica que segundo Oliveira, é “matadora”.  Para o especialista, todo o processo é livre de riscos, pois já houve o pagamento da compra.  Ou seja, é o que chamamos de “garantia performada”, onde não há “default”, pois todo o processo de compra já foi finalizado e o recurso somente fica aguardando o tempo para liquidação do pagamento ao credor do valor que foi antecipado”.

“Além disso, acrescenta, em função da nova regulamentação do BC, o valor financeiro que já foi processado pela credenciadora é imediatamente informado à câmara registradora que como entidade neutra permitirá uma melhor negociação do comerciante pela livre escolha do melhor preço e condições no mercado para antecipação do seu recurso.”

E quem são essas empresas?

Carlos diz que o mercado de recebíveis agora vem crescendo muito no último ano a partir das estabilização das mudanças feitas pelo Banco Central, que descentralizou o processo que ficava de posse das credenciadoras, eliminando a assimetria de informações e estimulando o surgimento de várias fintechs especializadas e modelos de negócio inovadores. “É um mercado gigante e a ação do BC foi bastante importante, principalmente nesse momento de altas taxas de juros e de incertezas no mercado, essas fintechs auxiliam o comércio a ter mais liquidez”.

Para Oliveira, existem trilhões de reais de recebíveis gerados todo mês nas credenciadoras e que agora, poderão voltar na ponta da linha do comércio com maior volume e eficiência. Iniciativas como Marvin, Monkey Exchange, Blu, Supplier, Trademaster e PayHop, enxergam no “buy now, pay later”, um cenário positivo de crescimento, onde o comerciante pode usar cada vez mais o saldo – que já é dele – para pagar fornecedores, dívidas e o que mais for necessário.

A Marvin, por exemplo, começou a operar logo depois que o Banco Central aprovou a descentralização das transações das operadoras. Agora, as compras a prazo, feitas nas maquininhas de cartão, já são garantias suficientes para que o varejista tenha seu crédito assegurado.

Neste caso, o comerciante é que este não paga a taxa de antecipação da maquininha (de cerca de 4%), pois a Marvin não cobra nada, deixando os custos para o contratante e não ao distribuidor.

Recentemente a Marvin recebeu uma injeção de US$15 milhões em investimentos, principalmente da venture capital americana Caanan, os fundos Canary e da Mauá Capital, além de investidores anjo.

Outra empresa de recebíveis, a Monkey Exchange recebeu, em fevereiro do ano passado, US$ 6 milhões do Itaú e da Quona. Fundada em 2016, a startup também busca auxiliar pequenas empresas ligadas a grandes corporações como Gerdau, Minerva e Petrobras.

A fintech afirma que seus MPMEs chegam a economizar mais de R$200 milhões e que com a popularização da antecipação dos recebíveis, estes números só tendem a aumentar.

Frente às dificuldades que micro, pequenos e médios empreendedores passam, Carlos aponta: “É um ano complicado:  eleições, juros e inflação muito altos e o comerciante precisa de todo aporte possível. A antecipação de recebíveis é uma realidade que vem crescendo, com diversas fintechs fazendo esse trabalho e que com certeza, darão um certo alívio para o pequeno e médio empresário na hora de fechar o caixa”, finaliza.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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