Existe momento certo da carreira para uma mulher ter filhos?
O IBGE realizou uma pesquisa em 2021 que mostrou que apenas 54,6% das mulheres possuíam emprego no Brasil e, delas, 67,2% não possuíam filhos. Além de fatores como gestação com ou sem riscos, parto com pós com ou sem complicações e puerpério, as mulheres são sobrecarregadas na maioria das vezes, com duplas jornadas entre trabalho e cuidado dos pequenos, sofrendo preconceitos e dificuldades de empregos não flexíveis.
Por isso, entender o próprio contexto e o propósito de vida são pontos essenciais para saber se é o momento de ter um filho, como explica Monique Stony, psicóloga com mais de 15 anos de experiência como executiva de Recursos Humanos em organizações multinacionais e apoiadora do desenvolvimento pessoal e profissional de mulheres.
“Não existe resposta certa ou receita de bolo. Essa escolha está dentro da gente. É preciso fazer uma reflexão e um trabalho de autoconhecimento para entender o melhor para nossa realidade”, aconselha. Para tanto, ela traz três questionamentos principais que auxiliam na tomada de decisão:
Ter filhos é um sonho meu? Está em linha com meus valores e propósito de vida? Algumas mulheres sempre sonharam com isso, mas tem outras pessoas que não possuem esse desejo. “Aqui, o exercício é imaginar o futuro e perceber se ser mãe é o que você quer para sua vida e se perguntar de quem você quer estar rodeada. É importante que essa resposta venha realmente de dentro para fora e que a mulher não ceda a pressões sociais”, comenta.
Estou disposta a rever minhas prioridades pessoais e profissionais? Em um país onde as estatísticas mostram tão pouco espaço ocupado por mães, conciliar carreira e maternidade é desafiador. Portanto, a análise requer olhar para isso de frente.
“É preciso pensar o lugar que essa criança vai ter dentro da minha vida e das coisas que eu faço hoje, como eu abro espaço para que ela entre – e, no primeiro momento, acaba sendo a maior prioridade. Fisiologicamente e emocionalmente falando, a criança precisa da disponibilidade da mãe. É necessário ainda entender qual a flexibilização possível de ser feita dentro do tempo de dedicação à carreira, movimentos profissionais que está disposta a realizar para alinhar as prioridades. É possível ser mãe e profissional, mas é preciso estar baseada nestes quatro pilares: foco, prioridades, flexibilidade e apoio de terceiros”, conta.
Qual o meu contexto neste momento? Quais condições eu tenho – pessoais, emocionais, relacionais e financeiras – para cuidar de uma criança?
A pergunta precisa responder se o contexto viabiliza ou restringe a possibilidade. Essa reflexão define se a conciliação dos papéis será mais confortável ou mais desafiadora.
Em resumo, não existe um momento ideal, onde tudo vai estar perfeito. E, quando esperamos demais, também corremos o risco de encontrar dificuldades para engravidar. Esse é um dos grandes dilemas da mulher moderna que prioriza sua carreira. É importante pesar as circunstâncias para perceber se, no geral, é mais favorável ou desfavorável a decisão da maternidade, permitindo à mulher lidar com os impactos da decisão de forma mais consciente. “Pensar sobre essas questões e o nível de conforto ou desconforto trazido por elas é o que vai determinar se é o melhor momento para ter um bebê. Depois que me casei, passei nove anos cuidando da minha carreira antes de ter um. Meu marido queria, mas a decisão era prioritariamente minha, já que o impacto maior é na vida da mulher”, conclui.