Copom mantém juros básicos em 10,5% ao ano

Comitê já tinha interrompido o ciclo de cortes da Selic
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, por unanimidade, nesta quarta-feira (31) manter a taxa Selic, os juros básicos da economia, em 10,5% ao ano.
Na reunião anterior, em junho, o Copom interrompeu o ciclo de cortes de juros iniciado há quase um ano. De agosto do ano passado até março deste ano, o Copom tinha reduzido os juros básicos em 0,5 ponto percentual a cada reunião. Em maio, a taxa tinha sido cortada em 0,25 ponto percentual.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em junho, o IPCA teve alta de 0,21%, ficando abaixo da taxa registrada em maio (0,46%).
No ano, o IPCA acumula alta de 2,48% e no acumulado dos últimos 12 meses, a taxa é de 4,23%, acima dos 3,93% observados nos 12 meses anteriores.
Para 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação em 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Segundo o Relatório de Inflação divulgado em junho pelo Banco Central, a inflação deve ficar em 4% em 2024, segundo. Já de acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 4,1%.
Manutenção é prejudicial ao setor produtivo
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) considera a manutenção prejudicial ao setor produtivo, uma vez que encarece os juros para essas atividades, mas reconhece que, por conta da deterioração do quadro inflacionário, a medida é importante para a estabilização do cenário macroeconômico.
A opção pela manutenção da taxa se deve aos indicadores de atividade econômica doméstica, que mostraram um desempenho robusto, com a alta das vendas no varejo, baixa taxa de desemprego a níveis históricos e renda disponível elevada, apontando a solidez da atividade econômica e do mercado de trabalho. Por outro lado, o resultado da inflação de julho, acima do esperado, alerta para uma possível aceleração nos próximos meses. Além disso, apesar do avanço na arrecadação, o cenário fiscal continua gerando preocupações.
A CNC espera que, a seguir, a autoridade monetária mantenha uma postura mais dura, inclusive em relação ao cumprimento das metas de inflação.
CNI vê preocupação com Selic a 10,5%
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) vê com preocupação a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de manter a taxa Selic em 10,5% ao ano. O elevado nível em que a Selic se encontra faz o Brasil ter uma das maiores taxas de juros real do mundo e explica parte significativa do alto custo do crédito, situação que implica severas restrições à atividade econômica brasileira.
“Esperamos que a Selic volte a ser reduzida o quanto antes. A retomada de cortes é fundamental para a redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. Caso contrário, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos empregos e renda”, reforça o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Segundo a CNI, ainda que houvesse um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, levando a taxa para 10,25% ao ano, a taxa de juros real (que desconsidera os efeitos da inflação esperada para os próximos 12 meses) seria de 6,2% ao ano. Portanto, estaria 1,5 ponto percentual acima da taxa de juros real neutra – aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica, estimada pelo BCB em 4,75% ao ano – sendo compatível com o atual quadro inflacionário.
Mesmo com esse corte de 0,25 ponto percentual, o Brasil seguiria ocupando a incômoda terceira posição entre as maiores taxas de juros real do mundo.
Os reflexos dessa política monetária tão restritiva são claros quando se observa o comportamento do mercado de crédito e da atividade econômica. A Selic alta eleva o custo de captação dos recursos para as instituições financeiras. Para piorar, essas instituições ofertam crédito com spread bastante elevado. O Brasil tem o terceiro maior spread bancário do mundo, sendo mais um fator que encarece empréstimos e financiamentos.
Somando isso à baixa oferta de crédito, há uma situação bastante adversa, tanto para os consumidores, que precisam de crédito para comprar bens de maior valor, quanto para as empresas, que precisam de crédito para investir, inclusive no âmbito do processo de neoindustrialização, orientado pela Nova Indústria Brasil (NIB). O consumo e o investimento são elementos centrais para o crescimento econômico.
Fonte: Agência Brasil/CNC/CNI