Apesar de avanços, 70% das empresas brasileiras não têm métricas de etarismo

Apesar de avanços, 70% das empresas brasileiras não têm métricas de etarismo
Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half América do Sul.

Pesquisa revela que 66% dos desempregados apontam preconceito de idade como obstáculo para recolocação

É amplamente reconhecido que a diversidade impulsiona a inovação e o crescimento sustentável. Contudo, à medida que o debate sobre diversidade avança, a questão intergeracional ainda é frequentemente negligenciada. A segunda edição da pesquisa sobre etarismo, conduzida pela Robert Half e Labora, revela que, apesar de progressos, 70% das empresas não possuem indicadores claros para medir o avanço de suas ações, e muitos ambientes corporativos permanecem alheios ao preconceito etário.

“Para criar um ambiente de trabalho verdadeiramente inclusivo, é essencial promover a conscientização sobre etarismo e investir em treinamento contínuo para funcionários de todas idades. Muitas vezes, preconceitos inconscientes passam despercebidos, mas têm um impacto significativo na criação de  ambientes corporativos multigeracionais saudáveis e eficientes”, alerta Sergio Serapião, fundador e CEO da Labora.

Companhias ainda não medem seu progresso no tema

Em 2023, 80% das empresas não possuíam métricas claras para avaliar o sucesso das iniciativas de inclusão geracional. Destas, 23% apontaram que estavam desenvolvendo algo nesse sentido. Em 2024, esse número caiu para 70%, o que indica que algumas companhias realmente começaram a avançar na implementação de indicadores.

Por outro lado, a ausência de métricas em sete em cada dez organizações brasileiras é preocupante. Sem esses dados, é impossível identificar plenamente o problema e planejar soluções futuras.

Sinais iniciais de preocupação com retenção de talentos 50+

A maioria das empresas (61%) ainda não tomou medidas para reter profissionais acima de 50 anos, embora este número represente uma melhoria em relação ao ano passado, quando 71% das empresas admitiam não ter adotado ações nesse sentido.

Entre as iniciativas para reter esses profissionais, destacam-se o monitoramento do desenvolvimento de colaboradores 50+ e revisões periódicas para garantir que os programas adequados estejam em vigor. Nenhuma prática, no entanto, sobressaiu-se de forma significativa.

Letramento e conscientização são questões urgentes

Quando questionadas diretamente, 63% das empresas afirmam nunca ter presenciado casos de etarismo. Entretanto, uma análise mais detalhada mostra que essas mesmas organizações reconhecem que as oportunidades de desenvolvimento não são equitativas para todas as idades, evidenciando que ainda há espaço para melhorias.

A percepção é diferente entre profissionais empregados e aqueles em busca de recolocação. Entre os desempregados, 66% veem o preconceito etário como o principal obstáculo para retornar ao mercado de trabalho. Entre os empregados, 63% acreditam que o tema não é devidamente valorizado em suas empresas.

“Avalio essa desconexão entre as respostas como uma falta de clareza sobre o que, de fato, são atitudes etaristas e como abordá-las adequadamente. Portanto, para avançar na construção de uma cultura anti-etarista e criar ambientes intergeracionais saudáveis, o passo mais urgente envolve investimento em formação e conscientização”, orienta Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul.

A pesquisa também aponta que 67% dos entrevistados consideram importante oferecer treinamentos sobre o tema para as lideranças, e 66% acreditam na eficácia de promover palestras sobre etarismo para todos os colaboradores.

Diversidade geracional ainda não é prioridade nos processos seletivos

O estudo revela que 77% das empresas não possuem iniciativas intencionais para aumentar a diversidade geracional em seus processos seletivos. Dessas, 39% estão discutindo a implementação de medidas, enquanto 38% acreditam que não precisam de ações específicas, presumindo que qualquer pessoa pode participar dos programas existentes.

Diante disso, surge a questão: qual deve ser o papel do departamento de Recursos Humanos – e da liderança da empresa – na promoção da contratação de profissionais 50+ em maior escala?

Entre as ações para atrair profissionais dessa faixa etária, destacam-se:

1)
 Treinamento da equipe de recrutamento para minimizar vieses inconscientes relacionados à idade (11,15%)
2) Divulgação de vagas em plataformas especializadas em diversidade (9,91%)
3) Programas de vagas afirmativas de contratação de 50+ (6,50%)

Apesar de ainda serem práticas pouco disseminadas, empresas inovadoras que adotaram processos seletivos afirmativos relatam bons resultados, com 81% das organizações considerando-os eficazes.

Além disso, iniciativas como a adoção de novos formatos de trabalho, o que inclui jornadas diferenciadas e contratações por projetos, têm se mostrado promissoras. Das empresas que implementaram essas ações, 88% estão satisfeitas ou parcialmente satisfeitas com os resultados. Essas organizações podem ser consideradas pioneiras na construção de uma força de trabalho multigeracional.

“Para reverter o quadro de disparidades geracionais nas empresas, é necessário revisar e ajustar os processos de recrutamento para garantir que não existam vieses etários. Ao utilizar critérios baseados em habilidades e experiências, em vez de idade, as companhias podem promover uma maior diversidade geracional em suas equipes, assim como melhorar a qualidade da contratação e a performance do time”, destaca Mantovani.

Interseccionalidade intensifica a sub-representação

Em 25% das empresas respondentes, profissionais 50+ representam até 5% da força de trabalho. Apenas 13,3% das companhias possuem mais de 25% de colaboradores nessa faixa etária, número praticamente estável em relação ao ano anterior (12,5%).

A sub-representação é ainda mais acentuada entre mulheres 50+, com 32,2% das empresas relatando que elas constituem menos de 5% de seu quadro de funcionários, evidenciando que as mulheres seniores estão ainda mais sub-representadas em comparação aos homens da mesma faixa etária.

Sob outra perspectiva, 10% das empresas desconhecem o percentual de profissionais 50+ em sua força de trabalho, e essa incerteza aumenta para 38% quando se trata de interseccionalidades, como o percentual de pessoas LGBTQIA+ acima de 50 anos. A falta de consciência ou de disponibilidade de dados sobre a relevância dessas informações são pontos que merecem atenção.

Empresas enfrentam dificuldades para desenvolver políticas de equidade etária

A pesquisa mostra que 69% das companhias reconhecem que não oferecem oportunidades equitativas para diferentes idades. Nos últimos 12 meses, 42% das empresas não realizaram nenhuma ação de conscientização sobre a intergeracionalidade. Entre as que tomaram alguma iniciativa, destacam-se palestras para toda a empresa (31%), programas de formação para a liderança (25%) e iniciativas estruturadas de conscientização (15%).

“Esse dado, vindo das próprias empresas, pode ser visto como um pedido de ajuda – a expressão de uma vontade de mudança, mas ainda com uma falta de clareza sobre como iniciar esse processo”, comenta Serapião.

Criação de espaços para colaboração intergeracional é essencial

A maioria das empresas (68%) enfrenta desafios na colaboração intergeracional. Os principais obstáculos incluem conflitos entre gerações (32%) e dificuldades de comunicação e integração entre profissionais de diferentes idades (29%).

Para enfrentar essa realidade, as empresas acreditam que a solução está em desenvolver iniciativas como:

  • Criação de ambientes e/ou ações que estimulem a convivência e a troca entre diferentes gerações (23%)
  • Programa de mentoria, mentoria reversa e/ou intergeracional (22%)
  • Projetos de inclusão produtiva para diferentes gerações (14%)
  • Formação intencional de equipes intergeracionais (13%)

Ainda assim, 45% das organizações não adotaram ações concretas para promover essa conexão.

Pesquisa

A segunda edição da Pesquisa “Etarismo e inclusão da diversidade geracional nas organizações”, realizada pela Robert Half e Labora, oferece um acompanhamento contínuo e anual sobre como o mercado brasileiro está lidando com a inclusão da diversidade geracional e etarismo nas organizações. Mais do que um retrato único e estático, a pesquisa permite observar a evolução dos dados, estratégias e desafios enfrentados pelas empresas nesse tema ainda emergente. A análise anual amplia o entendimento sobre a prioridade e conscientização do etarismo entre empresas e profissionais.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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