Nova modalidade de consignado exige atenção

Plataforma lançada em março já registrou mais de 40 milhões de simulações
O lançamento do e-Consignado em março trouxe uma nova dinâmica ao crédito consignado para trabalhadores do setor privado com carteira assinada. Nos primeiros três dias de operação, a plataforma registrou 35,9 milhões de simulações de empréstimos e recebeu 3,13 milhões de solicitações de propostas, conforme dados do Ministério do Trabalho. Essa modalidade permite que o trabalhador contrate empréstimos diretamente, sem a necessidade de intermediação da empresa empregadora, ampliando suas opções de escolha entre as instituições financeiras.
O crédito consignado privado já vinha apresentando crescimento. Em janeiro, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, estimou que, com as medidas planejadas pelo governo, a carteira desse tipo de crédito poderia alcançar entre R$ 120 bilhões e R$ 130 bilhões. Essa expansão reflete o interesse crescente na modalidade, que se destaca por oferecer taxas de juros mais baixas devido ao desconto direto das parcelas na folha de pagamento.
Mas a praticidade pode esconder armadilhas. Para Daiane Alves, educadora financeira da Neon, o crédito fácil não deve ser confundido com dinheiro gratuito. “O consignado pode ser um aliado em momentos de aperto ou para realizar um sonho, mas é preciso lembrar que ele compromete uma parte do salário por meses ou até anos. Isso pode se tornar um problema, principalmente se a decisão for tomada sem planejamento”, alerta.
Antes de decidir pelo empréstimo, a orientação da especialista é clara: avalie se realmente precisa desse crédito ou se há outras alternativas possíveis para a necessidade financeira. “É importante tirar um tempo para mapear os gastos fixos e entender onde o dinheiro está indo. Só assim será possível avaliar se o empréstimo é de fato necessário ou se existem caminhos menos onerosos”, afirma.
Daiane reforça que o primeiro passo para uma decisão mais segura é conhecer a própria realidade financeira. “Tire alguns minutos do seu dia para identificar os gastos indispensáveis e os chamados ‘ralos’ do orçamento, aqueles supérfluos que muitas vezes passam despercebidos. Com esse diagnóstico em mãos, veja se é possível montar uma reserva de emergência — isso ajuda a suavizar ou até evitar endividamentos no futuro.”
Como o valor das parcelas é descontado diretamente da folha de pagamento, o risco de inadimplência é baixo — o que justifica os juros mais atrativos. No entanto, o trabalhador perde a flexibilidade de escolha caso surja um imprevisto financeiro. “Se a pessoa passar por uma emergência e já tiver boa parte do salário comprometido, a margem para lidar com novas despesas será muito menor”, diz Daiane. Por isso, outro ponto importante é avaliar o impacto do desconto mensal no orçamento para não cair em um ciclo vicioso de endividamento.
Outro aspecto que merece atenção é o que acontece em caso de demissão. Mesmo com o encerramento do contrato de trabalho, a dívida continua existindo. Parte da multa rescisória e/ou do FGTS pode ser usada para abater o valor em aberto. E, se o montante não for suficiente, os descontos são suspensos até que a pessoa volte ao mercado de trabalho — mas os juros continuam correndo. “É uma dívida que não para de crescer, mesmo quando a cobrança é temporariamente interrompida”, destaca a especialista.
Se a intenção for quitar dívidas, Daiane recomenda tentar uma negociação com o credor antes de recorrer ao consignado. “Caso a pessoa já tenha algum valor guardado, pode conseguir uma condição melhor pagando à vista ou oferecendo uma entrada.” Já se o objetivo for a aquisição de um bem, a recomendação é analisar se o valor do empréstimo será suficiente para complementar ou quitar a compra, além de comparar as taxas com outras modalidades de crédito. “Dependendo da necessidade, o consignado pode oferecer uma economia significativa frente a financiamentos ou empréstimos pessoais.”
Para finalizar, Daiane deixa um conselho: “Cada pessoa tem uma situação específica, então não existe uma fórmula mágica. Mas a dica que vale para todos é: avalie com calma e use o crédito com consciência. Afinal, esse dinheiro é um adiantamento da sua renda futura — e ela já estará comprometida.”