Ciesp alerta que o Brasil está trocando empregos por juros

Ciesp alerta que o Brasil está trocando empregos por juros

É preciso buscar urgente um equilíbrio entre as políticas fiscal e monetária, que assegure a estabilidade de preços sem asfixiar a atividade produtiva

O presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Rafael Cervone, manifesta grande preocupação com a manutenção da política de juros elevados.

“As taxas exageradas já se refletem no emprego em nosso setor, que recuou 0,4% em abril, a primeira queda em 18 meses. Também impactam nas horas trabalhadas, que apresentaram redução de 0,3%”, enfatiza Cervone. Para ele, esses dados, divulgados em 6 de junho pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), acendem um sinal de alerta. “O indicador de emprego costuma reagir de maneira lenta e gradual ao cenário econômico. Por isso, uma queda mensal de 0,4% é muito significativa e sinaliza uma desaceleração da indústria”, explica.

“Trocar postos de trabalho formais por juros altos não é uma política sensata para um país que ainda convive com cerca de sete milhões de desempregados e aproximadamente 60 milhões de pessoas em situação de pobreza, conforme dados do IBGE”, pondera o presidente do Ciesp.

A retração do emprego industrial, da carga de trabalho e da utilização do parque manufatureiro ocorre em um ambiente de juros exagerados. “Não é mera coincidência. Ainda assim, o Copom optou por manter a Selic elevada em maio, quando a taxa chegou a 14,75%, o maior nível em quase 20 anos. Esperamos que comece a cair”, salienta.

Por que os juros altos prejudicam mais a indústria

A política de juros elevados tem efeitos negativos sobre toda a economia, mas seu impacto sobre a indústria é particularmente severo por diversos motivos estruturais e conjunturais. O primeiro deles é porque o setor depende muito de crédito para investimento e capital de giro.

“Máquinas, equipamentos, inovação e modernização tecnológica exigem financiamentos de médio e longo prazos. Com juros altos, o custo desses financiamentos torna-se proibitivo, desestimulando a expansão da capacidade produtiva e a atualização do parque industrial”, frisa Cervone.

Além disso, as taxas elevadas encarecem o custo do capital de giro, essencial para manter estoques, comprar insumos e pagar salários. Isso afeta especialmente pequenas e médias indústrias, que têm menos acesso a crédito em condições favoráveis. Em consequência, há uma tendência à redução da produção, demissões e até fechamento de unidades.

Outro fator crítico é o câmbio. A Selic alta atrai capital estrangeiro especulativo, valoriza o real e prejudica a competitividade da indústria nacional, especialmente frente aos produtos importados. Por fim, também desestimula o consumo das famílias, ao encarecer o crédito ao consumidor. O efeito combinado de retração da demanda e majoração do crédito compromete tanto a produção quanto o emprego.

“Em suma, manter os juros em níveis elevados como ferramenta de combate à inflação tem um custo social e econômico danoso, que recai desproporcionalmente sobre a indústria e os trabalhadores formais. É necessário buscar um equilíbrio entre as políticas fiscal e monetária que assegure a estabilidade de preços sem asfixiar a atividade produtiva”, conclui o presidente do Ciesp.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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