Irã x Israel: dependência de insumos e risco logístico acendem alerta no agronegócio brasileiro

Irã x Israel: dependência de insumos e risco logístico acendem alerta no agronegócio brasileiro

Pressão sobre fertilizantes, alta do petróleo e risco logístico podem afetar custos da produção nacional e exportações de grãos

A escalada do conflito no Oriente Médio ainda acende um sinal de alerta no agronegócio brasileiro. Apesar de um cessar-fogo ter sido anunciado entre Irã e Israel, a entrada dos Estados Unidos no confronto aliado à ofensiva militar no Irã mantém um alto nível de instabilidade geopolítica. O mercado como um todo se mantém bastante sensível a quaisquer mudanças que possam vir a ocorrer na região.

A milhares de quilômetros dos ataques, o agronegócio brasileiro já começa a sentir os primeiros efeitos colaterais. A alta no preço do petróleo pressiona os custos de produção e transporte. A cadeia de fertilizantes, que ainda se recupera dos efeitos da guerra na Ucrânia, volta a sofrer com incertezas no fornecimento. Além disso, crescem os riscos logísticos e as incertezas nas exportações de grãos, diante do encarecimento dos fretes internacionais.

Com isso, a cadeia do agro, já pressionada pelos custos logísticos e margens apertadas de ciclos anteriores, pode enfrentar novos desafios em plena temporada de planejamento da próxima safra.

Alta do petróleo afeta frete e insumos agrícolas

O Irã possui a 3ª maior reserva de petróleo do mundo, segundo a EIA (Administração de Informação de Energia), do governo dos EUA. Embora sua produção esteja limitada por sanções, qualquer conflito que afete suas exportações ou sua infraestrutura de produção impacta diretamente os preços globais do petróleo. O mercado reage com alta por risco de oferta, efeito imediato em frete, energia e fertilizantes nitrogenados.

O preço do barril do petróleo Brent ultrapassou os US$ 75 nas últimas semanas, impactando diretamente o custo do combustível marítimo (VLSFO), que tem correlação de 0,95 com o petróleo bruto. O reflexo é imediato nos custos logísticos internacionais e, por consequência, no preço final de importações como fertilizantes e defensivos agrícolas.

Felipe Jordy, gerente de inteligência e estratégia da Biond Agro, afirma que a guerra pode parecer distante, mas as consequências estão batendo na porta. “O aumento do petróleo encarece o transporte, eleva o custo de toda cadeia produtiva e pressiona o produtor rural brasileiro em várias frentes”, explica

Dependência de fertilizantes do Irã acende alerta

Responsável por cerca de 20% da ureia importada pelo Brasil, o Irã tem uma capacidade anual de produção entre 9 e 10 milhões de toneladas e participa com cerca de 4% da oferta global. Embora modesto em proporção mundial, esse volume é crucial para o Brasil, altamente dependente de fertilizantes nitrogenados importados.

Além do aumento no custo de produção via petróleo e gás natural – utilizado como  base da amônia e ureia – há risco de ruptura logística, já que o Irã utiliza portos de países vizinhos, como Omã e Emirados Árabes Unidos, para escoar sua produção, os quais também podem ser afetados.

“Um cenário de bloqueio no Estreito de Ormuz ou em portos alternativos pode restringir o acesso a insumos extremamente importantes. O Brasil precisa olhar com seriedade para essa concentração de fornecedores e repensar suas estratégias de segurança agroalimentar”, alerta Jordy.

“Estreito de Ormuz é via crítica para o transporte de gás natural, ureia, amônia e outros insumos agrícolas. Um eventual bloqueio, mesmo que parcial, pode gerar efeito dominó nas rotas comerciais, atrasando embarques e elevando custos”, completa.

Exportações brasileiras podem perder ritmo

O Irã é hoje o 7º maior importador global de milho e figura entre os principais destinos do cereal brasileiro, além de importar cerca de 1 milhão de toneladas de soja do Brasil. A continuidade dos conflitos, especialmente com danos à infraestrutura portuária ou sanções internacionais, pode limitar essas exportações e provocar uma sobreoferta interna.

“Temos uma supersafra no Brasil, grandes volumes também vindo da Argentina e dos EUA, e agora o risco de perder um importante comprador. O resultado pode ser pressão de preços e margens ainda mais apertadas ao produtor”, finaliza Jordy.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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