Indicação geográfica impulsiona queijos de Witmarsum nos mercados nacional e internacional
38 cooperados fornecem o leite para a produção dos queijos da Cooperativa Witmarsum
Em Palmeira, na Região dos Campos Gerais, está instada uma das colônias de imigrantes com um dos maiores apelos turísticos do Estado: a Colônia Witmarsum. A bela estrada que leva ao local, os diversos restaurantes, a arquitetura tipicamente germânica e a cooperativa de agricultores que leva o mesmo nome da colônia atraem muita gente.
Desde 2018, o público tem um motivo a mais para prestigiar o local: dois queijos produzidos pela Cooperativa Witmarsum receberam o reconhecimento do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e têm o selo de Indicação Geográfica: o Queijo Colonial e o Queijo Colonial com Pimenta Verde.
Produzidos desde 2002, eles integram a lista de 12 queijos finos produzidos no local. Antonio Alves Chaves, gerente comercial da cooperativa, conta que a receita é tradicional, trazida pelos primeiros imigrantes alemães.
“São dois queijos de extrema importância porque são receitas autorais, são receitas nossas, que surgiram depois de muita análise. E ter o IG é um reconhecimento do nosso trabalho, do carinho que colocamos em tudo o que fazemos”, afirma.
Ao todo, 38 cooperados fornecem o leite para a produção dos queijos. Segundo Chaves, mensalmente, a cooperativa produz cerca de 450 quilos dos dois tipos de queijos que têm IG.
“Trabalhamos com um leite diferenciado e chegamos num produto autoral de extrema qualidade. A quantidade produzida parece pouca, mas é assim que queremos. Crescer gradativamente e não perder um milímetro de qualidade, de carinho, de excelência. Muito em breve vamos crescer esta produção, mas entregando um queijo com a mesma qualidade de quando produzimos a primeira peça”, diz.
Atualmente, os queijos da Cooperativa Witmarsum estão presentes em todos os estados brasileiros e está nos planos do grupo começar a exportar seus produtos. “A estratégia que traçamos há um ano era de tornar o nosso produto bem reconhecido no Paraná. Isso nós já conquistamos. A segunda etapa era de fazer nosso produto reconhecido no Brasil. E isso também já está acontecendo. Agora, a gente está na terceira fase: nos preparando, seja com rótulos, seja com embalagens e também juridicamente, para atender as leis internacionais. Assim, em 2024, queremos colocar nossos produtos na América do Norte e na Europa”, explica Chaves.
Prêmios
Mensalmente, a cooperativa produz 23 toneladas de 12 tipos de queijo. A qualidade dos produtos tem trazido muitos reconhecimentos, além da IG. No ano passado, a ela participou pela primeira vez do 2º Mundial do Queijo do Brasil, em São Paulo, e conquistou dois prêmios, entre eles o Super Ouro, a nota máxima concedida pelos jurados em todos os quesitos analisados. A medalha Super Ouro foi para o queijo tipo Appenzeller Witmarsum e o queijo tipo Raclette Witmarsum ganhou a medalha de prata em sua categoria.
O evento foi organizado pela associação SerTãoBras e chancelado pelo Guia Internacional de Queijos da França, contando com participantes de 11 países. A comissão julgadora foi composta por 150 jurados brasileiros e estrangeiros.
Este ano, a cooperativa recebeu mais premiações. Em junho, o 1º Prêmio Queijos do Paraná contemplou sete de seus queijos, entre eles o Queijo Witmarsum Colonial com Pimenta Verde, que recebeu a medalha de ouro. Em julho, no VI Prêmio Queijo Brasil, oito receberam premiação, dois deles são os produtos com IG. O Queijo Witmarsum Colonial com Pimenta Verde levou a medalha de prata e o Queijo Witmarsum Colonial Natural, o bronze.
Maria Isabel Rosa Guimaraes, consultora do Sebrae/PR, explica que a Indicação Geográfica traz reconhecimento e valor agregado. “A Cooperativa Witmarsum tem 12 tipos diferentes de queijo no mercado e dois deles com IG. Mas é certo que eles conseguem vender seus produtos de forma mais fácil a partir da indicação, da notoriedade que ela traz”, afirma.
Em 2022, o Sebrae-PR organizou um evento, em Curitiba, de Indicações Geográficas e Marcas Coletivas de todo o Brasil. Foram painéis, feiras, aulas, visitas turísticas e a Semana Origem, um evento gastronômico com 26 restaurantes participantes que escolheram 18 produtos de indicação geográfica para usar em suas receitas.
Dez restaurantes escolheram o queijo colonial da Cooperativa Witmarsum para elaborar seus pratos. Mabel conta que o sucesso da ação foi tão grande que muitos participantes resolveram manter os pratos com produtos de IG em seus cardápios, mesmo após o fim da ação.
Um deles foi o Happy Burger, de Curitiba, que criou um sanduíche de pernil com o queijo colonial com pimenta verde da Cooperativa Witmarsum. Luis Fernando Menuci, proprietário do restaurante e presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes/ Seccional Paraná (Abrasel-PR) disse que, da lista de produtos que lhe foi apresentada na época do evento promovido pelo Sebrae-PR, viu no queijo da cooperativa Witmarsum a melhor opção.
“É importante porque os clientes identificam que aquilo é nosso, é do nosso estado, faz parte da nossa cultura. As pessoas começam a entender que a gente precisa valorizar o produto regional, o que temos de melhor, nossos produtores e a Witmarsum representam muito bem isso”.
Segundo Luis, o sucesso do sanduíche de pernil e queijo com pimenta verde fez com que o prato acabasse incorporado ao cardápio. “Está incorporado definitivamente no nosso cardápio. Ainda tenho os folderes separados do produto para que as pessoas sejam estimuladas a pedir este prato porque é um sanduiche diferenciado”.
Na Cooperativa, Chaves explica que a gerência comercial desenvolve um trabalho específico com restaurantes e chefes de cozinha. “Este evento do Sebrae-PR foi muito legal porque dos restaurantes e chefes que escolheram os nossos queijos para desenvolverem seus pratos alguns não eram nossos clientes. Mas viraram formadores de opinião. Dos 20 clientes deste evento, hoje são 70 ou 80 que nos procuraram e que já têm nosso queijo dentro do cardápio”, diz.
O Bierwit, que fica na Colônia Witmarsum, é um destes restaurantes que mantém três pratos feitos à base dos queijos com IG da Cooperativa Witmarsum. Giovanna D’Aquino Smaka, uma das sócias proprietárias do estabelecimento, explica que o restaurante, aberto em 2015, sempre buscou usar produtos regionais nos preparos. Para ela, o reconhecimento da IG trouxe mais movimento e mais curiosidade dos clientes, que querem provar os pratos com o queijo colonial.
“Já era um queijo conhecido, mas hoje em dia está se tornando mais conhecido ainda. Então as pessoas, além de provar as receitas, querem levar o queijo para casa. Elas nos perguntam onde podem comprar o queijo e isso é muito bacana, porque agrega valor para toda a comunidade”, afirma Giovanna.
Um dos pratos do Biewit que levam o queijo colonial na receita e que fazem mais sucesso no cardápio é o Spätzl, um macarrão típico alemão cuja massa é feita no próprio restaurante e o molho de queijo leva um blend de queijos da Cooperativa Witmarsum: o colonial, asiago, o emmental e o appenzeller. Fora isso, outros dois pratos têm o queijo colonial entre os ingredientes: a tábua de frios e o Prato Witmarsum, uma homenagem do restaurante à comunidade onde está inserido.
“A gente está com um fornecedor excelente ao nosso lado, então isso é ótimo. A gente trabalha com eles desde o início, desde que a gente abriu e, hoje, com eles crescendo, com este reconhecimento, a gente cresce junto, um ajudando o outro. Assim, a gente cresce mais forte. Muito legal isso. É o cooperativismo mesmo, né?”, afirma.
Mais produtos
Também em Palmeira, nos Campos Gerais, outro restaurante tradicional está dando visibilidade aos produtos paranaenses com IG. Trata-se do Restaurante Girassol, que mantém uma prateleira com quase todos os produtos paranaenses que têm o selo do INPI. A proprietária, Rosane Radecki, é uma entusiasta do reconhecimento de produtos locais.
“Conheci o projeto do Sebrae-PR, o Origens Paraná, e achei muito legal. Um dos produtos com Indicação Geográfica no Estado é o queijo de Witmarsum e isso me despertou o interesse de saber quais eram os outros, o que a gente tem de especial aqui no Paraná”, conta. “Como temos esta parte aqui do restaurante que vende direto ao público, o nosso armazém, eu pensei em deixar um lugar especial para estes produtos e, com isso, despertar a curiosidade do público”, acrescenta Rosane
E ela afirma que a estratégia deu certo. As pessoas ficam curiosas para provar os produtos paranaenses com reconhecimento nacional. Muitas vezes, vão ao local só para procurar os produtos com IG.
Rosane é a principal responsável por tornar o Pão no Bafo – um prato tipicamente alemão trazido pelos primeiros imigrantes que se instalaram na região – em mais um candidato à IG no município. Além de resgatar a receita, ela buscou junto à prefeitura o reconhecimento e o prato se tornou o primeiro patrimônio cultural e imaterial de Palmeira.
Agora, Rosane, com apoio da prefeitura do município e do Sebrae-PR, está buscando o reconhecimento do INPI. “O Pão no Bafo tem um potencial muito grande de receber o reconhecimento da indicação geográfica por conta da história e por ser encontrado apenas aqui na região”, afirma.
Outros dois produtos típicos de Palmeira também estão em vias de conseguir suas IGs: o queijo Purungo e o Porco Moura, uma raça brasileira que foi introduzida pelos primeiros imigrantes da região e que estava quase extinta, mas que conseguiu ser resgatada por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná. Caso estes três reconhecimentos se concretizem, Palmeira se tornará o município brasileiro com o maior número de indicações geográficas do Brasil.
Agência Estadual de Notícias/Foto: Gilson Abreu