Indústrias brasileiras de menor porte buscam trade finance para avançar no comércio internacional
Tendência de diversificação de mercados é crescente, mas empresas têm dificuldades para acessar mecanismos que tornem seus negócios no exterior mais competitivos
Com o cenário produtivo globalizado e as lições aprendidas na pandemia diante dos problemas de desabastecimento em cadeias relevantes de suprimentos, as médias e pequenas indústrias brasileiras estão mais atentas às oportunidades no mercado internacional. Este cenário vem sendo observado tanto para aquelas que querem vender seus produtos no exterior como para as que precisam importar insumos importantes para suas linhas de produção.
A maioria das empresas, entretanto, especialmente as que estão iniciando este processo, desconhece quais instrumentos podem torná-las ainda mais competitivas e longevas no comércio internacional, segundo João Costa Pereira (foto), especialista de Produtos do Ouribank, instituição que atua há cerca de cinco anos no mercado de trade finance.
Conforme o executivo, a demanda evoluiu substancialmente ano a ano desde que o banco iniciou operações de trade finance. “Há uma tendência crescente das indústrias brasileiras de menor porte diversificarem mercados. Em comparação a outros países, contudo, nota-se que são ainda tímidas, o que deixa mais lenta a expansão no exterior”, ele observa.
Na avaliação de Pereira, a inexperiência para negócios externos também explica a defasagem. “Nas exportações, por exemplo, o Brasil é grande vendedor de commodities agrícolas e minérios, setores que concentram empresas muito profissionais nesta área. Cerca de 70% das vendas externas brasileiras estão concentradas em commodities. Mas o País não tem muita tradição em vender lá fora produtos industrializados.”
O Brasil ascendeu duas posições no ranking global de exportações da Organização Mundial do Comércio (OMC), para 24º lugar em 2023. Já esteve na 21ª posição, em 2011. Entretanto, continua bastante distante de países que investem mais na venda de industrializados, como Itália, França e Holanda, que estão na lista dos dez maiores exportadores mundiais. “Nos principais mercados exportadoras, como Estados Unidos e Europa, as empresas pequenas vendem para todo o mundo há muito tempo e no Brasil este movimento é bem mais recente.”
Estímulos às indústrias menores
As companhias de menor porte também são menos estimuladas para o comércio internacional, quando comparados aos incentivos dos principais mercados exportadores de manufaturados. “Falta ‘democratizar’ o acesso ao mercado global para a pequena e média indústria brasileira, que tem carência dos instrumentos necessários para dar esse passo fundamental de crescimento”, analisa Pereira.
“Para exportar, por exemplo, muitas empresas querem receber antecipadamente. Isso é um problema, pois limita a capacidade de exportação e de conquista de novos mercados”, diz. Já as importadoras têm receio de antecipar os pagamentos, pois não sabem se vão de fato receber os produtos, o que impacta o desenvolvimento e a diversificação das cadeias de suprimentos, explica o executivo.
Essas incertezas são solucionadas facilmente por diversos produtos e serviços financeiros disponíveis no mercado para dar segurança ao comércio internacional, que vão além da Carta de Crédito, que atende tanto ao exportador como ao importador; e do Finimp (Financiamento à Importação). “São os produtos mais conhecidos no País, mas são mais caros e burocráticos e estão perdendo espaço para instrumentos mais ágeis e eficazes. A Carta de Crédito, por exemplo, está estacionada há cerca de 20 anos.”
As médias e pequenas indústrias podem garantir compras e vendas externas mais eficazes e crescentes com o auxílio de instituições financeiras com grande experiência no comércio internacional e que já oferecem produtos e serviços modernos para essas trocas, lembra o executivo. “As empresas entendem de seus produtos e os bancos, dos mecanismos que facilitam essas trocas entre as companhias, para que elas mantenham o foco apenas nos negócios.”
Instrumentos mais ágeis e eficazes
Entre os instrumentos para exportadores que vão além do financiamento tradicional, como o ACC (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio) e ACE (Adiantamento sobre Cambiais Entregues), e são fundamentais para acessar com segurança e rapidez o mercado internacional, ele cita a análise de risco de mercados e de clientes no exterior, cobertura de riscos com a cessão do crédito (recebíveis) para o banco e apoio em serviços de cobrança internacional.
Já os importadores têm à disposição o Supply Chain Finance (SCF), que permite ao comprador garantir pagamentos ao fornecedor e se beneficiar dos prazos necessários ao seu ciclo de negócio. “O importador precisa assegurar cadeias de fornecimento estáveis e diversificadas, negociando melhores condições de prazo de pagamento e dando conforto de crédito aos fornecedores.”
Segundo Pereira, globalmente o SCF já ultrapassou a faixa dos US$ 2 trilhões em volume financiado, apresentando expansão média anual de 20%. “Para conseguir ser competitivo no mercado internacional, é preciso ter bom produto, bom preço e uma boa condição de venda.”
O executivo diz ainda que as instituições financeiras com mais expertise nesse mercado desenham instrumentos sob medida, de acordo com as necessidades dos clientes e de cada transação, com soluções integradas para acompanhar passo a passo as operações.