Grandes aquisições de empresas por valor simbólico: jogada de mestre ou risco calculado?

Grandes aquisições de empresas por valor simbólico: jogada de mestre ou risco calculado?

Especialista explica os riscos e estratégias por trás de aquisições por valor simbólico, como a do Grupo Dia por cem euros

Nos últimos anos, o mercado corporativo tem presenciado um fenômeno peculiar: aquisições de grandes empresas por valores simbólicos, como cem euros. Transações desse tipo, envolvendo nomes como Grupo Dia, Hopi Hari, Abril, Daslu, Chelsea e Barings Bank, podem parecer surpreendentes à primeira vista. Afinal, como uma empresa que já teve grande valor é transferida por uma quantia tão baixa? Porém, a advogada e especialista em aquisições e fusões, Mariana Domingues, explica que essas operações não são exatamente “barganhas”, mas sim decisões estratégicas acompanhadas de riscos e responsabilidades.
Empresas em dificuldades financeiras, enfrentando grandes passivos ou problemas operacionais, muitas vezes se tornam fardos para os seus proprietários. Mariana afirma que “para evitar a falência e os altos custos que ela pode acarretar, a venda por valor simbólico aparece como uma solução viável. Essa estratégia permite que o atual dono transfira a propriedade dos ativos e também todas as dívidas e responsabilidades associadas ao negócio”.
Segundo a advogada, a venda por valor simbólico é uma saída para quem não vê mais perspectivas na operação da empresa, preferindo passá-la adiante para alguém disposto a assumir os desafios e tentar reverter o quadro. “Para o vendedor, essa negociação é uma maneira de se livrar de um problema potencialmente catastrófico, enquanto o comprador enxerga a oportunidade de revitalizar um negócio que, embora problemático, ainda pode ter valor estratégico.”
Em muitos casos, o comprador acredita que, com a expertise certa e uma estratégia de reestruturação agressiva, é possível transformar a empresa adquirida em uma operação lucrativa.

Calculadora de riscos e responsabilidades envolvidos

Adquirir uma empresa por valor simbólico é, em essência, assumir um pacote completo de situações a serem resolvidas. Esses desafios incluem dívidas acumuladas, litígios pendentes e uma possível crise de confiança do mercado. “O processo de due diligence é essencial para que o comprador entenda plenamente o que está assumindo. Sem essa análise cuidadosa, o risco de adquirir mais problemas do que soluções é extremamente alto”, ressalta Mariana.
Além disso, a percepção do mercado e dos stakeholders pode influenciar o sucesso da reestruturação. Um estudo da PwC aponta que cerca de 30% das fusões e aquisições falham em agregar valor ao negócio nos primeiros anos pós-compra. Isso demonstra que, sem um plano estratégico sólido, as chances de sucesso podem ser bastante reduzidas.
Por outro lado, o mercado oferece oportunidades para os que conseguem superar esses desafios. Empresas compradas por valores simbólicos frequentemente possuem ativos subaproveitados, como marcas com forte reconhecimento, infraestrutura de ponta ou uma base de clientes leais, que podem ser reativados com a estratégia certa.

Vantagens para os dois lados

Para o comprador, a principal vantagem é a possibilidade de adquirir uma empresa que, embora debilitada, ainda possui valor de marca que pode ser explorado. Se bem-sucedido, o retorno sobre o investimento pode ser exponencial, considerando o baixo custo inicial. “Com uma reestruturação bem executada, é possível salvar a empresa e transformá-la em um ativo altamente rentável”, comenta Mariana.
Para o vendedor, o benefício está na desoneração dos passivos e na possibilidade de evitar a falência, que poderia ter consequências ainda mais graves. Além disso, essa saída pode permitir ao antigo dono preservar parte de sua reputação no mercado, ao demonstrar responsabilidade na condução do negócio até o final.
“Aquisições como estas estão longe de serem “negócios da China” e envolvem um profundo entendimento dos riscos e oportunidades. Tanto comprador quanto vendedor precisam estar cientes de que, por trás de um valor simbólico, há muito mais em jogo do que apenas um preço”, conclui.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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