Mais da metade dos profissionais não foram promovidos desde que se tornaram pais

Mais da metade dos profissionais não foram promovidos desde que se tornaram pais

Estudo ressalta que universo corporativo precisa ser mais inclusivo e acolhedor com colaboradores que têm filhos

As empresas brasileiras precisam de um olhar mais integrado e humanizado em relação à parentalidade. É o que revela o estudo Aldeias do Cuidado: o universo corporativo como apoio à parentalidade, idealizado e realizado pela Apoema, ateliê de pesquisa de comportamento, em parceria com a MindMiners, empresa de tecnologia especializada em pesquisa digital, e a Maternidade nas Empresas, consultoria especializada em equidade de gênero pela valorização da parentalidade no ambiente corporativo. Segundo o levantamento, desde que se tornaram figuras parentais pela primeira vez, mais da metade (51,1%) dos entrevistados não foram promovidos e nem tiveram reajuste salarial. A pesquisa ouviu 1.000 pais e mães de todo o país, que trabalham com carteira assinada.

Ao avaliar a distribuição por gênero, o estudo ressalta um olhar ainda enviesado: 54% das mulheres afirmam não ter recebido nenhuma promoção ou reajuste salarial desde que tiveram filhos, em comparação a 48% dos homens. Além disso, 42% das mães acreditam que perderam chances na carreira, enquanto apenas 27% dos pais se sentem da mesma forma, e 50% das mulheres têm medo de perder o emprego, contra 41% dos homens.

Para Julia Ades, sócia fundadora da Apoema, o cenário reforça que as mães são mais impactadas no que diz respeito às “perdas” no ambiente corporativo. “Tanto quando pensamos na licença paternidade, que é de apenas cinco dias, e que afeta diretamente na sobrecarga dessa mulher, que fica em casa cuidando dos filhos, quanto à falta de organização de programas e processos de adaptação da profissional que volta de uma licença maternidade e à não promoção das mesmas, por exemplo”, afirma.

Gestores com filhos x gestores sem filhos

Outro recorte da pesquisa mostra que profissionais liderados por gestores que têm filhos apresentam sentimentos mais positivos do que aqueles que têm chefes que não são pais: 71,5% desses colaboradores sentem liberdade e segurança para se ausentar quando têm compromissos com seus filhos (versus 57,1% com gestor não pai), 59,4% entendem que são incentivados pelo gestor direto a viver melhor a parentalidade (versus 45,8% com gestor não pai) e 75,8% conseguem conciliar demandas de carreira com a jornada com filhos (versus 57,7% com gestor não pai).

Além disso, 17% dos colaboradores gerenciados por figuras parentais foram promovidos com reajuste de 10%, enquanto apenas 9% das pessoas lideradas por gestores que não têm filhos tiveram esse mesmo aumento.

A necessidade de um olhar mais integrado

Para Julia, o levantamento constata a importância da coletividade quando se fala sobre parentalidade no ambiente corporativo: “Quando funcionários se tornam pais e mães, há uma transformação muito poderosa na jornada de cada uma dessas pessoas. Essa mudança impacta diversos pilares de suas vidas, e o trabalho é um dos principais”, destaca.

A especialista observa que, diferente do que se tende a pensar, a parentalidade pode aprimorar a carreira de cada mãe e pai. “Essas pessoas criam novas habilidades, se deparam com desafios de gestão de tempo, a resiliência ganha espaço”, afirma. “Nesse contexto, um olhar mais integrado e empático do universo corporativo para a parentalidade pode colaborar não só para cada funcionário, como para a própria empresa, que poderá conhecer as novas facetas dessas pessoas e aproveitá-las da melhor forma”, complementa.

De acordo com a pesquisa, esse acolhimento está ainda mais distante das figuras parentais com menor poder aquisitivo. Enquanto 73% dos respondentes das classes A/B relatam um estilo de liderança empático, 64% dos entrevistados da classe C classificam sua gestão desta forma. Além disso, a sensação de maior despreparo e pessimismo quanto à volta ao mercado de trabalho após a licença é o dobro entre as rendas mais baixas (20% da C x 10% da A/B).

“Os números mostram que é muito necessário que as organizações abram espaço para ouvir pais e mães, e entender o que, de fato, sentem, pensam e precisam”, pontua a sócia fundadora da Apoema. “Isso pode colaborar para aumentar o engajamento desses colaboradores com a empresa e seu desempenho profissional lá dentro”, revela.

Nesse sentido, a especialista acredita que é preciso transpassar a premissa de que quando se vira pai e mãe, o trabalho sai prejudicado. “Na nossa investigação, ficou claro que há um outro olhar para isso. Os pais e mães desenvolvem habilidades que, quando implementadas

no ambiente de trabalho, colaboram muito para o desenvolvimento individual e coletivo. Não podemos continuar enxergando a parentalidade como “rival” da carreira. Pelo contrário, ela pode ser uma grande aliada”, finaliza.

Para acessar o relatório de análises e o mini documentário que ilustra os aprendizados do estudo, clique aqui.

Crédito da foto: Guillaume de Germain na Unsplash

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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