Alta nas tarifas dos EUA pressiona margens e faz PMEs brasileiras buscarem crédito como saída financeira

Alta nas tarifas dos EUA pressiona margens e faz PMEs brasileiras buscarem crédito como saída financeira
Thiago Eik.

O possível aumento da inflação é uma das consequências que podem ser sentidas no Brasil

As recentes medidas protecionistas anunciadas pelo presidente norte americano Donald Trump, que busca retorno ao poder nas eleições de 2024, voltaram a acirrar a tensão comercial entre Estados Unidos e China. O chamado tarifaço já provoca efeitos no mercado global e pode ter impactos silenciosos, porém profundos, para empresas brasileiras — especialmente as pequenas e médias.

De acordo com relatório recente da empresa suíça de serviços financeiros UBS, uma queda de apenas 1% no PIB dos EUA pode gerar impacto de até 6,9% nos lucros das empresas que possuem capital aberto na bolsa de valores norte americana, o que tem provocado instabilidade em setores que dependem de tecnologia, semicondutores e logística global. Para as pequenas e médias empresas brasileiras, os reflexos chegam de forma silenciosa, mas preocupante: aumento do custo de produção, margens mais apertadas e necessidade de redirecionar estratégias financeiras.

Segundo Thiago Eik, especialista em soluções de crédito empresarial e CEO da fintech Bankme, “as tarifas impostas pelos EUA encarecem a importação de componentes e produtos, o que eleva o custo operacional das empresas. Em mercados altamente competitivos, nem sempre é possível repassar esse aumento ao consumidor. O resultado é uma pressão direta sobre as margens”, explica.

Empresas de tecnologia, principalmente as que dependem de hardware, estão entre as primeiras a sentir o impacto. Com custos maiores e consumo retraído, muitos projetos são adiados ou cancelados. O reflexo disso atinge toda a cadeia, inclusive setores como software e serviços digitais.

Além disso, o Brasil, como mercado emergente e parceiro comercial relevante da China, também entra na equação. A demanda por commodities brasileiras, como soja e minério de ferro, tende a crescer diante da busca chinesa por novos fornecedores. A princípio, esse movimento parece vantajoso. No entanto, a consequência pode ser a redução da oferta interna e, com ela, o aumento dos preços, alimentando ainda mais a inflação.

“Estamos diante de um cenário inflacionário mais complexo, com insumos mais caros, orçamento empresarial mais enxuto e uma pressão macroeconômica crescente. Isso exige criatividade e novas abordagens financeiras”, reforça Eik.

É nesse contexto que o crédito empresarial se apresenta como ferramenta estratégica. “O dinheiro continua circulando, mesmo em tempos de tarifas. O que muda são os juros e o apetite por risco. Empresas que souberem estruturar boas operações de crédito vão ter vantagem competitiva”, afirma o CEO da Bankme.

Uma das alternativas mais promissoras, segundo o especialista, é a criação de FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) ou modelos similares que permitam às empresas antecipar recebíveis e otimizar o caixa com mais autonomia. “É como transformar sua própria base de clientes em fonte de liquidez. Com esse tipo de estrutura, o negócio passa a operar quase como um banco, sem depender integralmente do sistema financeiro tradicional”, explica.

No Brasil, onde os spreads bancários são altos e a burocracia ainda é um entrave, esse tipo de estrutura ganha espaço. “Em períodos de inflação e incerteza econômica, o setor financeiro tende a se fortalecer. E quem entender isso primeiro, com inteligência e agilidade, poderá transformar risco em oportunidade”, conclui Eik.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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