Muito além do suvenir

Estimativas indicam que os turistas brasileiros gastam cerca de US$ 5 bilhões por ano na aquisição no exterior de roupas, calçados e acessórios. O valor corresponde ao faturamento anual das três principais redes de varejo desse segmento no País. Porém, se os nossos oito milhões de viajantes/ano gastassem o limite legal de US$ 500 somente nesses itens, o dispêndio total seria de US$ 4 bilhões. Considerando que também se compram perfumes, cosméticos e eletrônicos, fica claro estar havendo uma ultrapassagem daquele teto, que exclui free shop e produtos de uso pessoal, nos quais se encaixam artigos de vestuário dentro de certos limites e padrões.

Há pessoas que estão transformando as compras nas viagens de “turismo” em rentável negócio. Isso transcende à prática saudável de trazer lembranças dos lugares visitados. Ao desembarcar nos principais aeroportos, observamos a grande quantidade de malas que alguns de nossos compatriotas trazem, com destaque para os que vêm dos Estados Unidos, o shopping do Planeta. Esse país é o que apresenta os preços mais competitivos, devido ao seu ambiente econômico pró-produção e de níveis de impostos sobre o consumo e investimentos infinitamente menores do que os nossos.
Além disso, tivemos nos últimos anos, a partir de 2005 e até meados de 2011, forte apreciação de nossa moeda, o que aumentou nossa capacidade de compra, a qual, em sua parcela majoritária, foi alocada na aquisição de bens importados dentro do mercado local, em viagens e via internet.

Como os aeroportos não estão preparados para atender à demanda, é fácil entender que a fiscalização não tem os meios mais adequados para realizar um controle mais rigoroso, sob pena de transformar as precárias instalações existentes em um caos. Apesar dessas dificuldades, a Receita Federal tem feito um trabalho de qualidade, e em evolução, tendo submetido, em 2013, mais de seis milhões de bagagens à inspeção indireta, via scanners, e 659 mil diretas, com abertura das malas. Apreendeu, ainda, US$ 20,5 milhões em mercadorias diversas e levou a perdimento outros R$ 7,5 milhões em produtos.

É importante observar que a maior parte dos países desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos e Austrália, estabelecem limites para aquisição de produtos no exterior na faixa de US$ 800 por pessoa, sendo mais restritivos nas regras de free shop. Ademais, como em todas as nações, existe o controle da alfândega no desembarque. Não se trata, portanto, de algo existente somente no Brasil, o que poderia ensejar aos liberais de plantão a ideia de protecionismo.

Considerando a relevância da questão, entendemos que a maneira mais correta de se reduzir o excesso de compras no exterior, que prejudica a economia e as empresas brasileiras, seria a adoção de melhores práticas de inteligência, as quais já se encontram em implementação por nossas autoridades, e uso da tecnologia disponível para identificar os que fazem das viagens não uma alternativa de conhecimento e lazer, mas sim uma fonte de renda. É preciso distinguir o turista do negociante contumaz, que dribla a legislação e prejudica aqueles que investem e acreditam no Brasil. Não se trata de uma panaceia que irá resolver nossas graves questões de competitividade, mas sim o estabelecimento de condições isonômicas de concorrência.

Entendemos, também, que o País deva investir pesadamente num plano de incentivo ao turismo, interno e internacional, de modo a recepcionar maior número de estrangeiros, abrindo espaço para mais investimentos nessa poderosa indústria. Teremos, porém, de tratar nossas mazelas na área de segurança, transporte, infraestrutura e qualificação de pessoal.

Outra medida premente é desonerar de impostos as compras feitas pelos visitantes internacionais, como fazem diversos países, incluindo nossos vizinhos Argentina e Uruguai. Assim, aumentaríamos o potencial de consumo dos estrangeiros, contribuindo para a redução do déficit da conta de turismo, que alcança algo como US$ 17 bilhões anuais.

O autor do artigo é Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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