CPF na nota? Não, obrigada

Leide Albergoni
Leide Albergoni

O Programa Nota Paraná divulgou recentemente os créditos do primeiro mês de vigência e quase todos os contribuintes inscritos no programa se sentiram decepcionados ou muito surpresos com os créditos recebidos. Embora o programa tenha ultrapassado as expectativas da própria Secretaria da Fazenda em termos de número de cadastrados, muitas pessoas sentiram-se desestimuladas a informar CPF na nota fiscal, especialmente porque, em tempos de fraudes, um sistema armazenar o número do CPF e o número do cartão de crédito de uma pessoa representa um grande risco.

Agimos por meio de análise de custo/benefício, ou seja, fazemos o que nos traga maior benefício e mínimo custo. Esses custos e benefícios não são necessariamente monetários, podem ser tempo, energia, sensações e até sentimentos. Por exemplo, escolhemos para casar alguém que nos traga o maior benefício e o menor custo em termos emocionais, ou seja, alguém que nos faça bem mas nos incomode pouco.

Assim, quando queremos induzir alguém a fazer algo, usamos incentivos ou penalidades, especialmente financeiras. Os incentivos consistem em aumentar o benefício que a pessoa receberia, ou reduzir o custo embutido naquela ação, como o uso de sacolas retornáveis, cujo custo é se lembrar de levar as sacolas para o supermercado e o benefício é o desconto na compra. Já as penalidades consistem em reduzir o benefício ou aumentar o custo da ação, como as multas por excesso de velocidade, que contrapõe ao benefício da agilidade do trajeto um custo de multa e os pontos na carteira.

Em um mundo ideal, todos os indivíduos pediriam nota fiscal para que o valor de suas compras ficasse registrado no faturamento da empresa e esta recolhesse os impostos que nós pagamos nas compras. O benefício seria a arrecadação correta dos impostos que pagamos, que são usados para a execução de serviços e programas governamentais em nosso benefício. O custo seria o tempo que despenderíamos aguardando a emissão da nota fiscal. Portanto, pedir nota fiscal deveria ser obrigação, assim como pagar os impostos em dia, mas como nós brasileiros não vemos muito o retorno de nossos impostos, não nos comprometemos em apoiar a arrecadação.

Um programa de devolução de impostos tem como objetivo estimular os indivíduos a pedirem nota fiscal. Para isso, precisa demonstrar um benefício adicional ao óbvio, e faz isso retornando parte dos impostos pagos. Com esse princípio, as pessoas aceitam arcar com o custo de aguardar a emissão da nota fiscal, pois veem um benefício pessoal direto. Nesse caso, o tamanho do benefício deve ser suficiente para compensar o custo e o risco. Quando os critérios são confusos e não cumpridos, como no caso da redução do limite de devolução do ICMS pago ou ainda crédito zero em várias compras, o benefício passa a ser duvidoso e os indivíduos perdem o estímulo em gastar seu tempo aguardando a nota fiscal, ou ainda em arriscar sua segurança informando um dado tão importante quanto o CPF.

Embora a confusão da distribuição de créditos do programa seja coerente com o emaranhado que é nosso sistema tributário, a manutenção do sucesso obtido no primeiro mês depende da forma como os critérios serão administrados: se o contribuinte observar relação direta entre o que compra e o que recebe em crédito, continuará a pedir o CPF. Se os critérios continuarem confusos e complexos, talvez não seja tão vantajoso gastar tempo informando o CPF e aguardando a nota fiscal.

Muito embora seja uma obrigação pedir nota fiscal, o programa pode fracassar no seu objetivo ao não tornar visível o benefício com o aumento da arrecadação.

O artigo foi escrito por Leide Albergoni, economista, professora da Universidade Positivo e autora do livro Introdução à Economia – Aplicações no Cotidiano.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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