A reduzida eficiência dos elevados gastos públicos no Brasil

Gilmar Mendes Lourenço.
Gilmar Mendes Lourenço.

Resultados de pesquisa recente, realizada pelo banco Credit Suisse, confirmam o diagnóstico corrente, defendido pela esmagadora maioria dos analistas econômicos que preservam posições independentes do triunfalismo transmitido reiteradamente pelas autoridades do palácio do planalto, sublinhando as barreiras impostas pelos vultosos e pouco eficientes dispêndios governamentais ao crescimento econômico brasileiro.

A orientação geral dos estudos da respeitada agência financeira permitiu o exercício de cotejo entre despesas públicas e expansão dos níveis de atividade de distintas nações, o que enseja a promoção de avaliações, ainda que preliminares, acerca da consistência e eficácia dos respectivos arcabouços macroeconômicos.

Em linhas bastante sumárias, a observação do relatório montado pelo banco propicia denotar, no intervalo de tempo compreendido entre 1999 e 2014, três faixas de países que delineiam relações diametralmente opostas quando comparados performance dos negócios e intervenções financeiras do estado.

Em um primeiro bloco figuram alguns mercados em desenvolvimento que experimentaram taxas de variação do produto interno bruto (PIB) superiores a 5% ao ano e participação média dos dispêndios dos governos na geração do produto social de 25%. Em uma linha intermediária aparecem os centros que exprimiram crescimento do PIB entre 3,5% a.a. e 4,9% a.a. e alocações governamentais médias de 29,2% do PIB. Ao mesmo tempo, espaços geográficos que acusaram acréscimo anual do PIB inferior a 3,5%, no período em tela, exibiram consumo público médio que suplantou 33% do PIB.

O Brasil integra o grupo de menor dinamismo econômico e pífia produtividade das despesas governamentais, ao apresentar incremento anual de 3,1% do PIB e aportes governamentais de 38% do PIB. Mais que isso, segundo a entidade financeira, o País ocuparia o 28º posto, num painel de 39 países em eficiência das despesas públicas.

Ademais, seria o 24º em desempenho econômico, o 29º em estabilidade institucional, o 31º em gestão pública, o 33º em educação e o 34º em saúde. Só a título de ilustração, levantamentos feitos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelam que o Brasil ostenta despesas em educação semelhantes às contabilizadas por países avançados, porém colhe resultados parecidos aos de nações do chamado terceiro mundo.

Ressalte-se que o comportamento da gestão governamental foi aferido a partir combinação entre o peso do setor público no PIB e uma cesta de indicadores mais sensíveis à atuação da administração estatal, abarcando grandes itens como corrupção, carga burocrática e qualidade do poder judiciário, e aspectos específicos ligados à mortalidade infantil e esperança de vida.

Em contraposição, o País situou-se em 14º lugar em distribuição de renda (proporcionado pela leitura do índice de Gini, que varia entre zero e a unidade, indicando melhor apropriação do resultado do esforço produtivo à medida que se distancia de um), o que pode ser imputado, de forma direta, aos menores dispêndios direcionados à diminuição da desigualdade vis a vis os demais países, por conta do acerto na formulação e execução das estratégicas de inclusão social, especialmente depois das alterações no marco institucional brasileiro, plantadas na Carta Magna de 1988.

Na verdade, a nação passou por um apreciável aprendizado de feitura de políticas sociais, calcado no processo de desinflação e na aplicação de programas oficiais de transferência de renda, lançados nos anos 1990 e aprofundados na década de 2000, especialmente com a aposentadoria rural, o benefício de prestação continuada/lei orgânica de assistência social (BPC/LOAS), o bolsa família e a valorização do salário mínimo.

Esse conjunto de avanços oportunizou expressivos ganhos de rendimentos das famílias integrantes da base da pirâmide social, e respectivo suprimento da demanda reprimida por décadas de práticas excludentes e de perpetuação da pobreza. Igualmente relevantes foram os movimentos de mobilidade, evidenciados pela ascensão de massas da população das categorias E e D para a classe C da sociedade, considerada média e que, aliás, dobrou de dimensão em pouco mais de dois decênios, que tiveram como ponto de partida a fixação dos pilares do plano real, em março de 1994, com a instituição da unidade real de valor (URV).

Por essa descrição, é curioso notar que as áreas menos absorvedoras de haveres oficiais despontam como detentoras de maior capacidade de resposta aos parcos estímulos, tendo como exemplo emblemático o bolsa família, agraciado com menos de 0,5% do PIB, por ano, contra a destinação de 7,4% do PIB para cobertura dos encargos para rolagem do passivo governamental líquido, que representa quase 40% do PIB.

O mais gritante, porém, é que ao se apurar uma carga tributária de 33% do PIB – contra suporte contributivo de famílias e empresas estimado em 25% do PIB, por consultorias domésticas e internacionais, ao confrontar a situação do Brasil com a dos demais países de renda média – e déficit público nominal de quase 10% do PIB, verifica-se que mais de 43% do excedente gerado pelo sistema de produção e transações é apropriado pelo governo, com parcos retornos sociais.

Tal patologia deriva da prevalência de esquemas políticos, ancorados em articulações promíscuas entre executivo e legislativo, montados para a perpetuação de procedimentos arcaicos de gerenciamento dos orçamentos públicos e dos fluxos de caixa das companhias estatais, que venham a favorecer o aparelhamento partidário das instâncias decisórias e a subsequente multiplicação de desvios de recursos voltados ao atendimento de objetivos dissociados dos anseios e interesses coletivos.

O artigo foi escrito por Gilmar Mendes Lourenço, Economista, Consultor, Professor da FAE Business School, Ex-Presidente do IPARDES.

Mirian Gasparin

Mirian Gasparin, natural de Curitiba, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e pós-graduada em Finanças Corporativas pela Universidade Federal do Paraná. Profissional com experiência de 50 anos na área de jornalismo, sendo 48 somente na área econômica, com trabalhos pela Rádio Cultura de Curitiba, Jornal Indústria & Comércio e Jornal Gazeta do Povo. Também foi assessora de imprensa das Secretarias de Estado da Fazenda, da Indústria, Comércio e Desenvolvimento Econômico e da Comunicação Social. Desde abril de 2006 é colunista de Negócios da Rádio BandNews Curitiba e escreveu para a revista Soluções do Sebrae/PR. Também é professora titular nos cursos de Jornalismo e Ciências Contábeis da Universidade Tuiuti do Paraná. Ministra cursos para empresários e executivos de empresas paranaenses, de São Paulo e Rio de Janeiro sobre Comunicação e Língua Portuguesa e faz palestras sobre Investimentos. Em julho de 2007 veio um novo desafio profissional, com o blog de Economia no Portal Jornale. Em abril de 2013 passou a ter um blog de Economia no portal Jornal e Notícias. E a partir de maio de 2014, quando completou 40 anos de jornalismo, lançou seu blog independente. Nestes 16 anos de blog, mais de 35 mil matérias foram postadas. Ao longo de sua carreira recebeu 20 prêmios, com destaque para o VII Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º e 3º lugar na categoria webjornalismo em 2023); Prêmio Fecomércio de Jornalismo (1º lugar Internet em 2017 e 2016);Prêmio Sistema Fiep de Jornalismo (1º lugar Internet – 2014 e 3º lugar Internet – 2015); Melhor Jornalista de Economia do Paraná concedido pelo Conselho Regional de Economia do Paraná (agosto de 2010); Prêmio Associação Comercial do Paraná de Jornalismo de Economia (outubro de 2010), Destaque do Jornalismo Econômico do Paraná -Shopping Novo Batel (março de 2011). Em dezembro de 2009 ganhou o prêmio Destaque em Radiodifusão nos Melhores do Ano do jornal Diário Popular. Demais prêmios: Prêmio Ceag de Jornalismo, Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do Paraná, atual Sebrae (1987), Prêmio Cidade de Curitiba na categoria Jornalismo Econômico da Câmara Municipal de Curitiba (1990), Prêmio Qualidade Paraná, da International, Exporters Services (1991), Prêmio Abril de Jornalismo, Editora Abril (1992), Prêmio destaque de Jornalismo Econômico, Fiat Allis (1993), Prêmio Mercosul e o Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (1995), As mulheres pioneiras no jornalismo do Paraná, Conselho Estadual da Mulher do Paraná (1996), Mulher de Destaque, Câmara Municipal de Curitiba (1999), Reconhecimento profissional, Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (2005), Reconhecimento profissional, Rotary Club de Curitiba Gralha Azul (2005). Faz parte da publicação “Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia”, livro organizado por Eduardo Ribeiro e Engel Paschoal que traz os maiores nomes do Jornalismo Econômico brasileiro.

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